Entrevista do jogador
Jackson ao BahiaNotícias no dia 14/10/09 por Maurício Naiberg.
Bahia Notícias: Jackson, conte como começou sua carreira em Codó, no Maranhão.Jackson - Bom, eu comecei jogando na Praça da Bandeira e todo final de tarde, entre as 16h30 e 17h, tínhamos nossa “pelada”, que é o Baba daqui. Aí, passou um senhor chamado Seu Vivi e me convidou para participar da segunda divisão de um campeonato de amadores e eu aceitei. Comecei a jogar no Grêmio, que é o nome da equipe de lá. Logo após esse campeonato, fui jogar no principal campeonato do Maranhão, que é o Codoense, pelo Fabril. Fiz algumas partidas e veio uma equipe da capital São Luís me buscar e eu acabei aceitando a proposta do MAC (Maranhão Atlético Clube), onde passei três anos e fomos tricampeões maranhenses. Depois, tive uma oportunidade de ir para o Mogi Mirim, onde fiquei um ano, e quem comandava era Vadão, meu primeiro treinador profissional. Logo após, voltei ao Maranhão de novo, pois não consegui ser vendido. No mesmo ano eu fui emprestado para o Goiás, que tinha como treinador Hélio dos Anjos e também não consegui ser vendido. Eu tinha o objetivo de não voltar mais para o Maranhão. No ano seguinte, fui para o Comercial-SP, onde participei da terceira divisão do Campeonato Brasileiro e consegui que me comprassem. Fiquei um ano lá. Depois fui vendido ao Sport-PE, onde passei dois anos e as coisas começaram a melhorar pra mim. Na minha última temporada no Sport, houve propostas de muitas equipes do Brasil e eu optei pelo Palmeiras. Por lá, fiquei mais dois anos de muita felicidade. Conquistei vários títulos. Do Palmeiras, fui para o Cruzeiro e passei mais dois anos. Consegui ter duas temporadas muito boas no Cruzeiro. Depois fui para o Internacional, com (Carlos Alberto) Parreira no comando, e fiz um dos melhores campeonatos que joguei, inclusive sendo artilheiro do meu time, mesmo sendo meia. Do Inter, eu fui para o Paulista de Jundiaí. Tinha feito um acordo com a Parmalat para pegar meu passe. Depois fui para o Gama-DF, Coritiba e Ituano. Após a passagem no Ituano, voltei para o Coritiba, onde fiz mais três temporadas no clube, o que foi muito bom pra mim. Tivemos um acesso à Libertadores, mas também caímos para a segunda divisão. Após essa passagem pelo Coxa, voltei para o Ituano e enquanto treinava ia resolvendo meu próximo contrato. Tive varias propostas, do Figueirense, São Caetano, Ponte Preta, mas tive uma lesão grave no joelho e não achei correto chegar a um novo clube machucado. Então procurei me tratar primeiro, porque você sabe, no futebol eles querem para ontem. Aí recebi a proposta do Vitória e aceitei. Tive ainda uma ida para os Emirados Árabes, jogando um ano por lá. Vou fazer minha terceira temporada no Vitória e estou muito feliz aqui dentro, tive muitas coisas boas por aqui e pretendo prolongar aqui dentro por mais tempo.
BN - Sempre jogou na meia ou tinha uma posição que gostasse mais?Jackson - Quando joguei no Cruzeiro, o Felipão me adaptou na posição de ala. Foi uma das posições que joguei bem. Já joguei de volante e de atacante também. Fiz varias funções dentro de uma equipe. Aqui no Vitória mesmo já joguei de ala, volante. Esse ano, com Mancini, joguei até de líbero contra o Goiás, então (vem daí) essa facilidade de jogar em várias posições. Isso me deixa mais à vontade. Quando eu sinto que não vou render em uma posição, procuro sempre falar com o treinador para não me usar.
BN - Quando começou, acreditava que faria tanto sucesso no futebol?Jackson - Não, de maneira nenhuma. Até mesmo pelo lugar de onde em vim, que é bem complicado. Antigamente, para sair de lá era a maior luta. Hoje está mais fácil, tem muitos olheiros por lá hoje. Mas antes era um problema. Tanto é que eu fui tricampeão maranhense e as propostas foram muito poucas. Por isso, a primeira que veio eu acabei aceitando. Era a minha chance de sair de lá. Na minha cabeça, era para sair e não voltar mais. Para voltar a jogar lá de maneira nenhuma. Graças a Deus eu consegui. Tive vários amigos meus que foram para o lado Fortaleza e o único que conseguiu pelo lado de São Paulo fui eu. Fico muito contente por isso e minha vida está o que é hoje pelo meu esforço. Eu amo o futebol, vou jogar até quando me quiserem. Hoje eu jogo com todo coração e aprendi a gostar do Vitória e pretendo prolongar o máximo que puder a minha passagem aqui.
BN - Você acha que faltou essa experiência em seu currículo?Jackson - Creio que sim. Pelo meu empresário, acho que deixou um pouco a desejar. Principalmente depois que saí do Internacional, que fiz um dos meus melhores campeonatos, terminando com 11 gols e eu esperava isso dele. Mas não aconteceu e foi a única coisa que faltou na minha carreira foi uma experiência como essa.
BN - Você não teve nenhuma experiência na Europa. Os convites não te agradaram?Jackson - Pelo que ele (empresário) me falou, não teve. Mas eu não acredito. A gente acaba sabendo das coisas, das negociações. Quando a gente sabe, as coisas já estão feitas e ficamos voando. Se não ficarmos mais espertos nas negociações, o que menos pega o dinheiro dessa negociação é o próprio atleta. E a gente nunca procura saber o que acontece fora das quatro linhas e quando as coisas acontecem, já estão todas feitas.
BN - O futebol, logo que começou, era muito diferente do de hoje em dia. Essa badalação em jogadores jovens prejudica a carreira deles ou você acha normal?Jackson - Olha, tem os dois lados. Muitas vezes o jogador fala que não atrapalha, mas atrapalha sim. Isso aconteceu comigo já. No ano passado vieram algumas equipes atrás de mim e saiu em um monte de lugar e isso atrapalha. Porque você vai ouvir propostas, quantias, valores e isso não é bom para um atleta. Ainda mais um moleque que está começando agora, querendo ganhar o seu dinheiro, querendo fazer a vida da sua família, o que eu acho uma coisa certa, procurando ficar o mais rápido possível de bem com a vida, pois nunca sabemos o que vai acontecer amanhã. Mas eu acho que mais atrapalha do que ajuda, porque acaba prejudicando seu rendimento na equipe que está jogando e eu tenho experiência própria disso.
BN - Após uma excelente passagem pelo Sport, você foi contratado pelo Palmeiras para a disputa da Libertadores em 1999. Qual a melhor lembrança dessa competição?Jackson - Minha melhor lembrança foi um jogo que fizemos contra o River Plate-ARG, na Argentina, onde a gente precisava de uma vitória para poder passar de fase. Nesse jogo eu atuei como volante e conseguimos vencer o River por 3 x 2. Fizemos 2 x 0 e eles empataram. No finalizinho, eu fiz o terceiro gol. Foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo, em passar de fase com a minha colaboração, foi espetacular. Eu não esqueço esse jogo nunca.
BN - E a pior?Jackson - A pior foi com o Cruzeiro na Libertadores também, onde eu tinha que bater um pênalti e, se eu fizesse, passaríamos de fase. E eu acabei perdendo. Esse jogo foi no Mineirão e foi minha maior decepção dentro do futebol. Foi um dos motivos que saí do clube. Acho que minha sina é essa, pois até hoje no futebol, eu não fiz uma gol de pênalti valendo três pontos em nenhum campeonato. (risos)
BN - Qual o campeonato que mais gostou de ganhar? Foi essa Libertadores? Por quê?Jackson - Foi a Libertadores mesmo. Muito bom ganhar a Libertadores. A Copa do Brasil no mesmo ano. Foi espetacular. Eu estava em uma fase de ganhar dois títulos por ano e sempre títulos importantes e isso foi demais pra gente. Eu lembro que o São Paulo veio jogando pelo empate no Mineirão, e saiu com 1 x 0 e a gente virou o jogo. Foi um espetáculo aquilo, é um título que a gente não esquece nunca, principalmente pelos companheiros que tínhamos. Por isso mesmo que a gente vai recordando dessas lembranças.
BN - Você foi convocado três vezes para a Seleção Brasileira em 1998. Faltou o que para disputar o Mundial daquele ano?Jackson - Eu sempre falo isso para o meu pai. Estava tendo uma sequência boa na seleção brasileira. Quando cheguei ao Palmeiras, tive umas chances ainda. Mas em uma partida pela Copa do Brasil, contra o São Raimundo, acabei tomando uma pancada no meu tornozelo, que acabou afetando meus ligamentos, em uma hora que não poderia ter acontecido. E por essa lesão, com a convocação uma semana depois, acabou atrapalhando muito. Não tive mais sequência. Passei uns dois meses machucado. Além disso, tenho problema de não tomar medicamento, complicando ainda mais.
BN - Será que a seleção perdeu o penta em 98 para a França por causa da sua ausência?Jackson - Não digo pela minha ausência, mas se não tivesse tido essa lesão, tenho certeza absoluta que poderia ajudar. Estava em uma fase muito boa, fazendo gols, e essa contusão me deu aquela freada. O Brasil é recheado de atletas bons e logo o treinador convocou outro. Depois teve outra convocação e eu sempre machucado. E quando você não joga, machucado, acaba no esquecimento. Foi o que aconteceu.
BN - Qual o melhor treinador que já teve?Jackson - Eu tenho uma admiração muito grande pelo Parreira, o próprio Luis Felipe Scolari, Paulo Autuori. Gostei muito de todos eles. Felipão pelo seu jeito durão. Parreira pela inteligência que tem educação, ética espetacular. Eu gostei muito de trabalhar com Parreira.
BN - E a experiência que teve no futebol árabe, valeu a pena pelo lado financeiro ou não compensa?Jackson - De experiência no futebol, você não ganha praticamente nada. Compensa mais financeiramente mesmo. O futebol é um pouco atrasado. Eles tem lá o que a gente não tem aqui e o que a gente tem aqui eles não tem lá. Eles tem dinheiro e muita estrutura, mas não tem jogadores. Aqui a gente tem muitos jogadores e o dinheiro vai ficando escasso. Você aprende a cultura deles, que é gostosa. É um paraíso. Mas em termos de futebol, você não tem muito que aprender lá não. Acho que no Brasil as coisas estão bem mais modernas.
BN - Você foi ídolo no Sport. Como está vendo essa provável queda do Leão da Ilha?Jackson - É preocupante. A gente fica nos bastidores falando quem vai cair, quem vai ser campeão, quem vai entrar no bolo dos quatro, quem vai ficar na Sul-Americana. E hoje está bem mais emocionante os quatro últimos, por ter times grandes lá. A queda desses times grandes vai dificultar ainda mais os que estão na Série B para subir no ano que vem. Então fica complicado, porque tem o Fluminense aí, o próprio Sport. A gente tem colocado as equipes pesadas que tem, mas não podemos dizer quem vai cair com certeza. Eu tenho um carinho muito grande pelo Sport, mas o caminho que está levando não vai ter outra saída. Nós jogadores sempre procuramos conversar sobre isso e a preocupação nossa, desde o início do ano, é procurar sempre manter um ritmo bom, uma pegada boa, para nunca entrarmos em uma situação dessa. A gente lamenta, mas alguém tem que cair.
BN - Agora falando em Vitória. Quando você chegou ao clube, o rubro-negro estava na segundona. Desde então, qual o melhor e pior momento aqui na Toca?Jackson - Meu melhor momento dentro do Vitória foram nos últimos dois anos e alguns meses. Ganhei títulos, consegui dar minha colaboração para subir a primeira divisão. Conseguimos uma Sul-Americana, que o clube não participava. Foram três títulos baianos. Ganhar do Bahia aqui no Vitória é muito importante. Também tive decepções de perder para o Bahia, que é horrível para o Vitória. Já vivi os dois lados da moeda, mas graças a Deus, nesses três anos que estou aqui, a gente sempre levou vantagem na hora do vamos ver. A maior parte da minha carreira aqui no Vitória foi muito boa, sempre procurando dar a minha colaboração, minha ajuda. E minha pior fase está sendo agora, que pela primeira vez em minha vida não estou sendo relacionado e é uma coisa bem complicada na minha vida. Eu procuro trabalhar em prol de ter uma chance. Jamais vou procurar problema na minha vida, pois nunca tive. Então, vou procurar trabalhar, pois sei a condição que tenho, sei que posso ajudar. Tenho certeza que posso contribuir muito.
BN - Você sempre foi brincalhão assim ou o ambiente influi nessa questão? Vemos muito você ao lado de Vanderson, sempre gozando com ele. É seu parceirão dentro do Leão?Jackson - A gente criou uma amizade muito forte aqui. Eu, Vanderson e o próprio Wallace, Anderson Martins. Acho que os meninos que estavam aqui desde o começo são os mais próximos. Aqui muitos jogadores vêm e vão, então a gente perde muito as amizades. Com os meninos, houve uma sequência muito boa aqui dentro. Os meninos que chegaram agora já tiveram entrosamento também. Mas temos a liberdade maior com os meninos que estavam aqui desde o início. Isso facilita bastante. Tenho uma amizade muito boa com Vanderson. A gente se conhece bem, um ajuda o outro dentro e fora de campo. A gente sabe muito bem o caráter de cada um que tem aqui, além do profissionalismo de todos. A minha amizade desde a tia do campo até o presidente é a mesma, pois eu trato todo mundo bem e acho que a amizade é um ponto fundamental dentro de um clube.
BN - No ano passado, você começou voando na Série A e não teve seqüência por causa de uma lesão. Acha que poderia ter ajudado mais naquele campeonato?Jackson - Exatamente. Eu tive uma contusão que me prejudicou no ano passado, como me prejudicou esse ano. Sempre que me recuperei, tive a oportunidade de retornar à equipe. Eu tinha que começar tudo de novo. Mas voltei no final ainda e conseguimos algumas partidas boas. Ganhamos o Vasco lá dentro na última partida, o que me deu uma moral muito grande aqui dentro. Esse ano foi mais complicado pra mim. De tudo que está acontecendo esse ano, minha maior preocupação é a minha renovação de contrato. Por não estar ajudando a equipe, não podendo fazer nada, as coisas ficam mais difíceis. Espero que dê tudo certo, que possa fazer mais uma temporada aqui no Vitória.
BN - Esse ano você foi figura constante no banco de reservas. Porém, nos últimos jogos, não tem aparecido nem como opção. Problema físico ou opção do treinador?Jackson - Várias pessoas me perguntam o que está acontecendo, se estou machucado. Eu não estou machucado, não sei o que aconteceu. E complicado. O treinador me excluiu do grupo, mas estou treinando normalmente. Eu me pergunto o que eu fiz, porque não arrumei problema com ninguém, convivo bem aqui dentro com todos. O que me pega mais é saber o que aconteceu, mas eu deixei de lado, pois não adianta ficar matando a cabeça por causa disso, sei que não fiz nada de errado. Tenho trabalhado todos os dias e o que importa é que estou com saúde e quando precisar de minha ajuda estarei à disposição para contribuir no que for possível.
BN - Tem algum clube que tenha mais carinho?Jackson - Acho que o carinho que tenho pelo Vitória, pois aprendi a gostar daqui. É um clube que a gente já conhece todo mundo e querendo ou não, a gente acaba gostando. Eu gostei bastante daqui e é por isso que eu vou tentar renovar meu contrato por mais uma temporada para ajudar o Vitória por mais tempo.
BN - Com 36 anos, espera jogar mais quanto tempo? Quer encerrar a carreira aqui mesmo?Jackson - É como falei para você: eu sei até onde posso aguentar. Graças a Deus tenho um preparo físico muito bom e não passa pela minha cabeça ainda isso. Vou tentar dar sequência até onde puder, até onde meu telefone tocar para que as pessoas venham me procurar. Enquanto elas estiverem me procurando, vou ajudar no que for possível. Se encerrar a carreira aqui, encerro satisfeito. O Vitória é um clube grande, que precisa de títulos todo ano. Independente se for o baiano ou não, precisamos ganhar. É um clube que tem cobrança e sem cobrança não presta. Sei que posso ajudar e tenho condições de fazer muito pelo clube ainda.
BN - Quando parar de jogar, vamos ver Jackson na beira do campo, dando instruções como treinador?Jackson - Olha, eu não sei, ainda não parei para pensar nisso. Eu aprendi muita coisa no futebol. Mas não sei se vou levar para esse lado não, sabe? Graças a Deus tenho o respeito dos meninos daqui, não sendo rígido, mas sempre com a amizade. Acho que isso é o mais importante. Assim, todos eles me ouvem. Eu brinco, pego no pé de todo mundo, mas nas horas sérias dou dura, falo o que está certo e errado e sempre peço para que eles sigam meu conselho. Isso é bom pra mim. Não sei, não pensei nisso. Acho que mais lá pra frente vou ver o que vai ser da minha vida depois do futebol.
BN - Manda um recado ao torcedor do Vitória que lê o Bahia Notícias.Jackson - O torcedor tem que comparecer ao estádio. Vamos tentar nos classificar para a Libertadores ainda, não está difícil. Tem que juntar a torcida com o Vitória, porque o time fica muito forte dentro do Barradão. Aqui não tem pra ninguém. A torcida está de parabéns e ficamos preocupados da torcida comparecer e não nos apresentarmos bem. Mas Graças a Deus todos estão de parabéns pela campanha que estamos fazendo esse ano.
Link da entrevista.
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