Pois bem.
Apesar de sempre dar boas risadas das boutades do caudilho, nunca tive afinidades ideológicas com o referido. Muito menos possuo seu faro para perceber quando as pessoas começam a costear o alambrado.
Motô, volta a fita aí para cerca de dois meses atrás. Pronto. Vamos lá.
Nesta época, um amigo*, destes que estão sempre atentos às artimanhas do jogo político, fez-me o seguinte alerta sobre os rumos do Movimento Somos Mais Vitória . Às aspas. “França, percebo uma articulação em setores do MSMV que tem me preocupado. Alguns membros parecem que estão esquecendo a possibilidade de construção a partir de uma perspectiva coletiva e estão embarcando num jogo personalista. Isto irá estraçalhar o Movimento”.
Mesmo sabendo que este cidadão merecia crédito, até mesmo por conta de sua vivência, preferi não trilhar os caminhos indicados por sua sábia desconfiança. E esqueci o importante aviso que ele me passara.
Porém, apareceu um segundo (e péssimo) sinal. Pouco tempo depois, veio à baila algo que me deixou extremamente injuriado.
Seguinte foi este.
Na nossa lista geral de debates, um integrante do Movimento informou que a atual direção do MSMV havia criado uma lista particular, escanteando os antigos coordenadores. Mais uma vez, não dei a devida importância à (grave) questão, pois naquele período estava empenhado em ajudar na retomada das atividades do Movimento que andava meio parado (alô, oximoro). E mais. Apesar de ter sofrido esta sacanagem, que na época classifiquei apenas como deselegância da atual coordenação, ainda gastei energias tentando acalmar os ânimos dos antigos coordenadores que se sentiram sacaneados. (Novamente, por uma questão ética, não citarei nomes, mas eles estão aí para testemunhar, se assim desejarem).
Pois muito bem. A partir de então, neste processo de retomada, colaborei na consecução de algumas tarefas, dentro de minhas possibilidades, seja escrevendo textos ou fazendo panfletagem. E, modéstia às favas, creio que contribui para que o Movimento saísse de um processo meio letárgico e voltasse a ser protagonista nas coisas relacionadas ao Vitória.
Pois muito bem.
Logo depois de retornar de uma viagem, com ânimo renovado por ver que o Movimento estava novamente pulsando, duas pessoas que admiro e respeito me convidaram para tratar de eleições no Esporte Clube Vitória. Como estava focado neste processo interno de reavivamento do MSMV, não acompanhei o desenvolvimento de nenhuma articulação eleitoral.
E, assim, com o espírito livre, fui-me encontrar com estes dois amigos. Apesar de eles acharem que não, que eu já estava informado, recebi com certo espanto a notícia de suas candidaturas. Um deles eu já sabia do desejo. A outra pessoa eu nem cogitava que fosse entrar nesta empreitada. Portanto, não tinha uma opinião formada sobre a questão, contudo possuía uma inabalável convicção. Eu jamais iria (nem irei) participar de um projeto que envolva o ex-presidente Paulo Carneiro e seu lugar-tenente Walter Seijo – e não por problemas pessoais, mas sim pelo que eles representavam e representam. A questão não é somente de nomes, mas de métodos. Até porque, como é de conhecimento de todos, o projeto do MSMV é uma proposta de construção coletiva, não personalista
(E deixei isso claro num e-mail que enviei a ambos posteriormente e que não foi respondido).
Ato contínuo, os debates na lista do MSMV ficaram extremamente acirrados. Acusações, insinuações, negações, um panavueiro dos 600 DEMÔNHOS. Como já havia ligado os fios, deixei claro de qual lado estaria. Ou melhor, de qual lado NÃO SAIRIA. Do lado das idéias e ideais que me mobilizaram para lançar a chama do MSMV há algum tempo: luta por democracia, transparência, profissionalismo e respeito ao torcedor. Isto é: na trincheira oposta à que sempre estiveram o ex-presidente e seus asseclas. E estava travando o bom (e às vezes áspero) combate no referido espaço.
Porém, no dia 23 de dezembro, a coordenação lançou um desalentador comunicado, indicando que, em vez de travar batalhas pela consolidação de nosso projeto coletivo (luta pela constituição de uma chapa própria e busca de apoio de outros segmentos democráticos), estava começando a prevalecer vontades individuais. Às aspas e reticências.
“A Coordenação do Movimento Somos Mais Vitória vem esclarecer que dois de seus membros, (…), participam das reuniões da Chapa Vitória Século XXI. Embora os referidos associados ocupem também os cargos de Coordenador (….), a posição individual de cada um não representa a posição institucional do Movimento Somos Mais Vitória e de sua coordenação”.
Diante de tal fato (quase consumado), e com o objetivo de não causar problemas mais graves com pessoas a quem respeito, preferi me afastar do MSMV. Quando idealizei o Movimento sabia que ele seria formado de divergências por conta de sua pluralidade (e sei também que é do atrito - sadio – que se faz luz). Porém, como disse, não entrei neste projeto para criar inimizades. Assim, mesmo vendo que a posição e os princípios que defendia eram amplamente majoritários, decidi me afastar. E lancei apenas uma nota interna de agradecimento**, que reproduzo no final. Nesta ocasião, um outro filiado, por motivos diversos, também mostrou o desejo de sair do Movimento.
Pois bem.
Apesar de insistentes solicitações de inúmeros amigos filiados ao MSMV para que eu não me calasse diante da gravidade dos fatos e falasse sobre os motivos de minha saída para não deixar o (falso) sentimento de abandono – preferi o obsequioso silêncio. E fiz isso mesmo tendo a consciência de que poderia ser mal interpretado, de estar dando a impressão de que fugia da luta ou coisa que o valha. Ainda assim, decidi pagar este preço em nome da coesão interna e por saber que a continuidade do Movimento era muito importante, algo que deveria ser preservado.
Porém, ato contínuo, excluíram-me da lista de debates com a rapidez de um Ben Jonhson dopado. Até aí, tudo bem. Afinal, fui eu mesmo que informei que estava me afastando. Só que, eis a facada final. A agilidade na exclusão da lista foi seletiva, a navalha estava afiada somente para me atingir. O outro integrante que, na mesma mensagem também havia comunicado o afastamento, continuou na referida lista de debates.
É graça uma porra desta?
Aí, ao juntar todos estes perversos pontos, percebi que não havia mais como continuar calado. E, apesar de ser cabeludo, não tenho vocação para Jesus Cristo. Por isso, decidi tornar pública esta situação (depois falarei de outras) e informar que não solicitei divórcio dos meus sonhos. Não, isso não.
Continuarei na trincheira defendendo o que acredito e denunciando os que agem desta forma, costeando o alambrado para, depois, pular e espezinhar sobre os princípios. Afinal, o ano e a dignidade de alguns podem estar nos seus estertores, mas a minha luta e a de muitos que acreditaram e ainda acreditam neste belo projeto DEMOCRÁTICO E COLETIVO de transformação do Vitória não se acaba – até porque já sabemos que com tiranos não combinam Rubro-Negros corações.
Saudações Democráticas.
Por: Franciel Cruz
* Não coloquei nomes aqui para preservar as pessoas, mas todos que quiserem se identificar fiquem à vontade.
** AGREDECIMENTO
“Olá, amigos Rubro-Negros, ao contrário do que normalmente faço, serei rápido.
Estas breves linhas servem para agradecer a todos vocês que acreditaram na construção do projeto Somos Mais Vitória, movimento que contribuiu para que os temas da democracia, transparência, profissionalismo e, principalmente, respeito ao torcedor entrassem definitivamente na pauta de NOSSO Clube. Vocês mostraram que com tiranos não combinam corações rubro-negros.
Além do agradecimento mais profundo e sincero a todos e a cada um, e em respeito a vocês, venho comunicar que estou me afastando, de modo definitivo e irrevogável, de toda e qualquer atividade ligada ao MSMV.
Muito obrigado a todos e sigam na luta.
Saudações Rubro-Negras e Democráticas“.