A diretoria do Vitória e o atual elenco de jogadores conseguiram abalar uma paixão de uma vida inteira, colocou-me com os pés no chão e me exigiu coerência antes de voltar a ser aquele torcedor que enfrentava qualquer monstro – ou o engarrafamento de Salvador, o que dá no mesmo – para chegar nem sempre a tempo ao Barradão. Quando caímos para a terceira divisão, a relação da torcida com o time mudou completamente e isto foi fundamental para ressignificar não só a minha, mas a relação de muitos outros com o Vitória. Isto foi necessário para nos manter fiéis ao concreto e ao tosco futebol. Foi aí que torcida do Vitória cresceu, se tornou ainda mais apaixonada e, infelizmente, menos exigente. Foi este o pacto feito: devolvam-nos a dignidade e nós continuaremos com os olhos fechados. Naquele momento fomos movidos pela mística de ser torcedor, pelo dever de “não jogar a toalha”. E uma torcida de que tinha a fama de ser crítica e exigente mudou de postura rapidamente. Mas a dignidade não se chama “primeira divisão” e nem poderia ser obtida deste pacto…
Aos poucos estamos abrindo os olhos. O pacto com esta diretoria acabou. Hoje, prestes a voltar à primeira divisão, estamos com o orgulho rubro-negro ainda mais abalado do que quando jogávamos nos campos mais sombrios deste país. Já há um movimento que luta pela democratização do clube, é verdade, mas ainda sem força para impulsionar esta mudança porque boa parte da torcida ainda acredita neste modelo de futebol. Só que a história do Vitória se encontra em mais uma esquina que se não soubermos virar pro lado certo, toda uma saga de resistências, de reapaixonamentos, será abandonada. A minha decisão é esta: ou eu participo ativamente da vida do clube ou pelo menos faço parte de algo que exija isto. Se espectador, consumidor e idiota é que não dá mais.
Queria mesmo ser o único apático, indiferente. Mas não sou e há muitos outros que estão na mesma. Pior: há muitos outros que poderiam estar se apaixonados por estas cores junto conosco e não farão mais isto. Por isso é hora de deixar a paixão um pouco de lado e atuarmos mais do que torcer. Vou ao Barradão no sábado somente para nutrir o único sentimento que me resta: o da esperança que a torcida do Vitória se atreva a exigir algum tipo de democracia no clube, que é a única forma que temos de tirar este resquício de aristocracia que faz do Vitória estágio para os seus filhos menos dotados. De resto, serei só razão.
Nosso primeiro título nacional ainda não virá. Não nego a importância do que agora deixamos escapar mais uma vez, nem que seria o momento mais fantástico da recente história do Barradão. Só que não seríamos o primeiro a ganhar um, nem seremos o último quando este dia chegar. Mas podemos ser o primeiro clube democrático deste país, onde a torcida define os rumos do seu clube.
Por: Por Daniel Caribé