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OS DESTERRADOS TAMBÉM TÊM O DIREITO DE AMAR (Capítulo 2, Versículo 113)

Mais um excelente texto da Série Desterrados. Por Diogenes Baleeiro, que tem nome e sobrenome de jurista, mas não se enganem: ele é um jurista.

“A pedido de Franciel, fiz o relato abaixo sobre as alegrias e desventuras de torcer pelo nosso Leão à distância, sofrendo com a impotência de não poder contribuir naquele que é o habitat natural do torcedor, a arquibancada. Como forma de retribuir a homenagem que está sendo prestada a nós, desterrados, advirto antecipadamente que tratei de emular algumas expressões características do nosso rouco locutor, viciado em Cepacol e outras mumunhas não recomendadas pela Carta Magna, o que também servirá para não assustar o fiel público deste blog.

Aos fatos.

Inicialmente, devo confessar que viver como desterrado nos dias de hoje aqui na Capital das Alterosas não é tarefa das mais árduas. As ferramentas atuais da modernidade contemporânea – TV paga, redes sociais, site das rádias baianas, youtube, gato na sky do vizinho etc. – facilitam muito a nossa vida, permitindo-nos o acesso às informações futebolísticas de todo o universo em tempo real. Além disso, de vez em quando a gente se permite fazer uma gracinha, como dar um zig no trabalho em plena quarta-feira, pegar um voo para Salvador, ver uma final da Copa do Brasil no Barradão e voltar no dia seguinte de ressaca.

Mas nem sempre foi assim.

No ano da graça de 2004, este escriba, ao saber da lista dos pré-candidatos à prefeitura municipal de Salvador, seguindo antecipadamente aquelas que viriam a ser as futuras orientações de Sêo Franciel no tuíter, resolveu abandonar o Brasil e pedir asilo político em Roraima.

Sim, amigos, apesar de todas as evidências indicarem o contrário, posso afirmar-vos, sem medo de errar, que Roraima existe (!), pois tive a rara oportunidade de residir naquela misteriosa província no biênio 2004-2005.

Antes de embarcar definitivamente para a terra de Macunaíma, tratei de cumprir o meu dever cívico e compareci ao Monumental Manoel Barradas, na noite do dia 5 de maio de 2004, para dar a minha última contribuição à salvação da humanidade, ajudando o Vitória a meter 3x1 no Internacional e avançar às quartas de final da Copa do Brasil. Naquela oportunidade, o Leão ocupava a segunda colocação na tabela do Campeonato Brasileiro e a sensação que eu tinha era de que as notícias que receberia de Soterópolis até o final do ano seriam alvissareiras.

Meus primeiros dias em Boa Vista não foram fáceis. Sem televisão e internet em casa, e com a ligação interurbana para Salvador custando, no meu pré-pago, algo em torno de R$ 2.476,98 o minuto, era obrigado a me deslocar até a bodega mais próxima (o que, naquelas bandas, significava andar umas vinte léguas) e assistir uma partida irrelevante entre corinthians e qualquer porra, esperando aparecer a irritante bolinha da globo anunciando um gol do Vitória.

Nesse momento, renovo o meu pedido de vênias ao dono do Blog para parafraseá-lo:

PUTAQUEPARIU A AGONIA!!!

Seu time disputando as primeiras colocações do campeonato, você não tem nenhuma informação a respeito, a disgrama da bolinha, quando aparecia, era para anunciar gol de sei-lá-que-porra e o garçom, ao te ver com a camisa do Vitória, ainda gritava: “Giiiiilson, traz mais uma Skol pro flamenguista aqui!!!”.

Pra terminar de lenhar a zorra toda, devido às diferenças de fuso horário, o jogo passava lá às 14h, o que significava que eu tinha que andar as tais vinte léguas debaixo de um sol de cinquenta e dois graus celsius.

Tudo isso, associado ao fato de que perdemos, mais tarde, a semifinal da Copa do Brasil para o Flamengo, me fez tomar uma decisão quase suicida: Telefonei para os meus familiares em Salvador e pedi para eles me ligarem em dia de rodada do brasileirão apenas nas ocasiões em que o Vitória ganhasse.

Passaram-se algo em torno de vinte rodadas e nenhum telefonema.

O final trágico daquele ano todos sabem e não quero ficar relembrando aqui, mesmo porque estamos em uma semana comemorativa.

Mas o fato é que ninguém conseguia me tirar da cabeça que a culpa pelos infortúnios do Vitória naquele ano era minha. Não era de Paulo Carneiro, não era de Oswaldo de Oliveira, não era de Hélio dos Anjos, não era de Evaristo de Macedo, não era de Vampeta, não era de Edilson, não era de ninguém. A culpa era minha.

Minha presença no Barradão teria feito diferença nas imperdoáveis derrotas dentro de casa. O fato de eu ter acompanhado os jogos fora de casa pelo rádio poderia, por algum motivo, ter desencadeado uma série de eventos que alteraria a trajetória do time. Eu poderia ter feito alguma coisa. Enfim, essas e outras loucuras passavam pela cabeça daquele angustiado desterrado de primeira viagem.

Para não dizer que não falei de flores, a angústia contida virou euforia, anos mais tarde, já em Minas, com os sucessivos acessos em 2006 e 2007.

Em 2006, mais do que o acesso, saber que poderia ver alguns jogos na TV era um alento para quem vinha lutando para obter as escassas notícias sobre a série C. Em 2007, mais do que o retorno do Leão ao seu lugar de direito, eu comemorava ainda a possibilidade de assistir alguns jogos do Vitória no Mineirão, como aquela derrota por 3x0 para o Atlético, imediatamente convertida em uma inesquecível vitória nos pênaltis, na Copa do Brasil de 2009. Naquele dia, conseguimos fazer ouvir o nosso grito minoritário dentro de um lotado Mineirão: http://www.youtube.com/watch?v=T-U7BE94tT4&feature=related

Tive, ainda, a oportunidade de ver outros momentos memoráveis in loco, como o Vitória meter 3×2 no galo em Sete Lagoas, em 2010, com um jogador a menos, gol de pênalti de Viáfara e as porra: http://www.youtube.com/watch?v=eBiUiJGZTe8

Hoje em dia, desterrado Rubro-negro experiente que sou, tenho em casa, importado diretamente do Nordeste de Amaralina, um considerável estoque de Cepacol para, a cada gol, a cada triunfo, fazer ecoar entre as montanhas de Minas um grito cada vez mais familiar entre os habitantes desta introspectiva província: VITÓÓÓÓÓRIAAAAAAAA POOOORRAAAAAAAAAA!!!”

Por: Franciel Cruz
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