Depois de ganhar seguidamente de dois concorrentes diretos (bateu o Náutico no Santuário e brocou o Boa fora de casa), tudo indicava que iríamos sofrer o fermento que o Demônho pisou no jogo contra o maloso Salgueiro. Mas qual o que! Com menos de 15 minutos, o placar, digo o datashow do Barradão, já marcava 2 x 0.
No entanto, os sacanas que apenas acompanham as pelejas através dos escrotos radialistas (desculpem, mais uma vez, a redundância) não fazem idéia das dificuldades da última sexta-feira. É óbvio que não falo dos obstáculos impostos pela retranca da escola de samba, pois a zaga adversária estava uma avenida maior do que a Sapucaí.
O póbrema, amigos de infortúnios, foi de outra ordem: conseguir chegar ao estádio. Que labuta dos seiscentos!!! Para que vocês tenham uma idéia, o já caótico trânsito de Salvador piorou e ficou mais lento do que a diretoria do Vitória, se é que isto é possível.
Assim, fui obrigado a descer do glorioso Pau da Lima ainda na Paralela e realizar uma paletada mais árdua do que grande marcha de Mao Tsé-Tung – e não exatamente pela distância percorrida, mas sim pelos dissabores. Enquanto o comunista apreciava as paisagens do Noroeste do China, tive que enfrentar os neuróticos motoristas baianos e suas insaciáveis buzinas misturadas aos gritos de louvor de pastores evangélicos não menos neuróticos.
Como sói ocorrer nestes momentos de aflição, procurei refúgio no bar mais próximo, no pacato Bairro de Nossa Senhora da Vitória, conhecido também como Canabrava. Por falar em cana brava, fazia tempo que num via tanto cachaceiro junto. Nem bem cheguei ao recinto, um deles se aproximou e gritou: “Eu sou Vitoria, porra!” Calmamente, respondi: “Tá bom. Todo mundo que era Vitória morreu, ficou só você e sua…”
Nem tenho tempo de terminar o desaforo e Gilberto lança Fernandinho que manda a criança para o zagueirão do salgueiro completar para o barbante. O cidadão que havia me recepcionado de forma rude, torna-se meu amigo de infância e me dá uns tapas nas costas que tossi tanto que relembrei de minha tuberculose dos tempos de menino. A partir de então, e pela primeira vez na vida, torci fervorosamente para o Vitória não fazer mais nenhum gol – minha estrutura óssea não aguentaria o baque. Aliás, o baque veio no final do primeiro tempo. O salgueiro marcou um gol e eu me piquei. Coelho era quem ia ficar lá para ver a reação daquela galera, não eu.
Subo a pirambeira e chego ofegante no estádio, sem força até para xingar Benazzi, que tira Fábio Santos, Gilberto e Geovanni e deixa Marquinhos, o gênio franzino sofrendo em campo. A porra da lei de Murphy revidou e nosso craque, o único jogador diferenciado da equipe, contunde-se. Vai nos privar dos seus gols e de sua categoria por duas partidas. Além disso, Jean, numa jogada bisonha, toma o terceiro cartão amarelo. Não que este sacana seja um exemplo de zagueiro. O problema são os substitutos. E as coisas que se encaminhavam para a tranquilidade, voltam ao estágio de tensão e imprevisibilidade. Mas, como o Vitória tem sido o avesso do avesso, é muito provável que façamos nossa melhor partida contra o americana, confirmando a louca profecia de São Burndown Chart.
Amém.
Por: Franciel Cruz (@ingresia)
P.S Como chibança pouca é bobagem, um amigo me contou que havia uma senhora nas arquibancadas xingando deus, o mundo, os quero-quero e até este cansado locutor. É graça uma porra desta?