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UNA GIORNATA PARTICOLARE. Por Franciel Cruz.

Quando decidimos contrariar Machado de Assis, deixando o legado de nossa miséria para outra criatura, não resta alternativa senão tentar impingir-lhe marcas indeléveis. E a principal de todas, nesta pátria de chuteiras coloridas, é forçar o futuro herdeiro das dívidas a vestir e honrar a camisa do clube que escolhemos amar.

Fracassar neste objetivo primordial é motivo de infindos desalentos e desesperos na vida de qualquer cristão. Pior do que isso só se o sacana trair a nação e tornar-se um verdadeiro quinta-coluna, aderindo às hostes adversárias.

DEUZULIVRE!!!

Mas, neste caso, por legítima defesa, além da tradicional surra de cansanção, as leis de Pindorama permitem também que o referido sacripanta seja excluído do testamento, excomungado, humilhado em praça pública, o caralho aquático.

É óbvio que quando um sujeito gasta três parágrafos costeando o alambrado (alô, Brizola) com tais prosopopeias é porque ele fracassou em sua missão. Sim, amigos de infortúnios, confesso a verdade que não salva nem liberta: fracassei. Mas não por omissão. Desde sempre fiz a parte que me cabia neste latifúndio cercado por quatro linhas, levando meu filho, inclusive na marra, para muitos jogos do Vitória. O máximo que consegui nestas mais de duas décadas de árdua labuta foi um tímido reconhecimento, na final da Copa do Brasil, em 2010, de que o Leão havia jogado uma boa partida contra o Santos. (O relato da epopeia está aqui. Leiam depois. Modéstia às favas, tá bem mais ou menos).

Diante deste fiasco familiar, não me restou outra saída senão recorrer à poesia. Calma, minha senhora, nécaras de me caluniar. Não me adroginei, não. Somente passei a me guiar pela sábia assertiva do Deschamps: les amis — ces parents que l’on se fait soi-même, que, numa tradução malamanhada, seria algo como “Amigos são familiares que cada um escolhe sozinho”.

E foi assim que escolhi. E minha família no futebol baiano ficou praticamente restrita a meu amigo João Carlos Sampaio. Além de ser o primeiro e único melhor goleiro de meu baba, ele foi meu parceiro de arquibancadas por séculos.

Ah, sim, a grafia do verbo no passado não é por causa de meu habitual desprezo para com a língua portuguesa. É mais grave. E triste. O menino João inventou de morrer no início deste inconsequente maio.

Silêncio nas arquibancadas e na crítica cinematográfica da Bahia. E eu também silenciei sobre o trágico tema porque a perda pessoal foi tanta e tamanha que nem sabia o que fazer ou dizer, principalmente diante de incontáveis homenagens feitas por ilustres. Mas, meu filho sabia. E, pela primeira vez nos seus 23 anos, aporrinhou-me para ir a um jogo do Vitória. E logo num Ba x Vi, o primeiro clássico sem João desde tempos imemoriais. Foi o modo que meu filho achou não só de homenagear meu amigo falecido, mas também de (re) construir e (re) costurar nossa esgarçada história afetivo-futebolística.

E, neste domingo, na nova/velha Fonte, de parcas alegrias e marcantes tragédias, deu-se efetivamente nosso primeiro encontro de afetos no campo esportivo. Tudo parecia (e era) absurdamente real e cinematográfico, grandioso e simples, assim como no belo filme de Ettore Scola que emoldura estes rabiscos. Realmente, una giornata particolare.

Aliás, antes mesmo de o árbitro autorizar o início da partida, sabia que nada de mal iria me acontecer neste inolvidável domingo diante da glória já previamente conquistada. Nem mesmo a chuva, nem ingressos caros, time ordinário, trânsito malamanhado, diretoria incompetente, nada, nada me abalaria.

Até mesmo o fatídico gol de empate de Pará no final do jogo não me abalou. Ao contrário. Até me deu uma ponta de contentamento, pois eu sei que o verdadeiro torcedor precisa ser forjado nas adversidades.

E foi exatamente isso que aconteceu. Do semblante de meu filho emanavam raiva e alegria. E, principalmente, deslumbramento – tanto pela imensidão do novo estádio, que ele ainda não conhecia, quanto por causa de uma nova e adormecida paixão que ele enfim reconhecia: o nosso Vitória.

E, mais do que tudo, por causa desta confissão que ouvi ele fazendo para minha namorada ao final da peleja. “Maya, sempre tentei ser diferente de meu pai, mas vi que, com o tempo, estamos cada vez mais iguais”.

Por: Franciel Cruz

*Texto escrito para o brioso http://www.impedimento.org


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