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[Juazeiro e Juazeirense] Assombrações São-Franciscanas. Por Franciel Cruz.

Ao contrário da doce infância do menino Casimiro de Abreu, a aurora da minha vida, que os anos não trazem mais, nunca foi habitada somente por amor, sonhos, flores e tardes fagueiras. Nero ar. Além da seca medonha, que me tangeu de lá pra cá (alô, Patativa do Assaré), padecia com diversas outras assombrações.

E uma das mais terrificantes, especialmente para quem, como este nostálgico locutor, cresceu razoavelmente próximo às margens do Rio São Francisco, eram as tenebrosas Carrancas.


Amigos de infortúnios, em verdade lhes confesso: aquelas imagens com dentes afiados, cabeleiras longas, olhos esbugalhados, testas imensas, meio gente, meio bicho, perturbavam nosso imaginário com mais força do que os horrendos refrões da novíssima música baiana. Não era à toa que os barqueiros de antanho as colocavam na proa das embarcações para espantar os maus espíritos. Aliás, aos desprovidos de sabença, informo que as ancestrais imagens foram usadas até pelos fenícios (obrigado, Google).

E já que enveredei pelos caminhos da falsa erudição, vou lhes instruir ainda mais sobre o tema, sacando do coldre um trecho do artigo do doutor em letras Jairo Nogueira Luna. Às aspas. “As carrancas são o resultado, a nosso ver, de um cruzamento de influências do imaginário cristão português, notadamente do âmbito dos navegadores e exploradores transposto para o cenário da colonização do sertão, misturados sobremaneira com fortes doses do imaginário africano e ameríndio”.

Valei-me, Minha Nossa Senhora da Miscigenação!!!

Pois bem. Atualmente, a bem da verdade já há uns bons anos, as Carrancas foram, digamos assim, domesticadas. Deixaram as proas dos barcos, onde lutavam contra inimigos terríveis, e foram habitar os confortáveis salões dos bacanas metidos a apreciadores de arte popular. Mas uma carranca é uma carranca é uma carranca. E nunca deixam de assombrar.

Calma, minha comadre, já, já, explico os porquês.

Agora, nova (e breve) tergiversação para tratar de outra figura enigmática e astuciosa que tanto assombrou e divertiu a infância de boa parcela dos nordestinos: O Cancão de Fogo. Segundo a descrição do poeta Leandro Gomes de Barros “foi o quengo mais fino dessa nossa geração, sabia a tudo iludir, o Cancão nunca armou laço que alguém pudesse sair”.

Pois muito bem. Recorri a todos estes entretantos mitológicos apenas para dizer que as equipes da terra de João Gilberto e de Galvão, o Juazeiro e o Juazeirense, que têm como símbolos exatamente a Carranca e o Cancão de Fogo, tal e qual às figuras que os inspiram, estão causando pavor no campeonato baiano.

Como assim? Assim, ó. Depois de brocar o time do Vitória, a Carranca assumiu, no último domingo, a liderança de seu grupo no DENDEZÃO/2013. E, como assombração pouca é bobagem, o Cancão de Fogo, apesar de apenas empatar com o Bahia (maior zebra da rodada), lidera a outra chave.


Inclusive, o Juazeirense é o líder absoluto em pontuação entre todas as equipes que disputam esta fase do campeonato e parece disposto a AFANAR a taça, entrando no seleto grupo de times do interior que conseguiram quebrar a hegemonia da dupla Ba x VI.

Se isso acontecer, a equipe da Juazeirense estará apenas confirmando a vocação do Cancão de Fogo, que certa feita largou a seguinte prosopopéia, registrada no livro Vida e Testamento de Cancão de Fogo, de autoria do mesmo Leandro Gomes de Barros.

“Roubar a quem tem demais
É forma de caridade
Tirar dez de quem tem vinte
Está na regularidade
Quem não precisa de tudo
Basta ficar-lhe a metade”

Que assim seja. Para o bem de todos, até mesmo de Bahia e Vitória, que precisam acordar, pois o FELICIANÃO já está batendo na porta. E as assombrações felicianescas são muitos piores do que as Carrancas e os Cancões de Fogo.

Oremos.

Por: Franciel Cruz

Texto escrito especialmente para o brioso IMPEDIMENTO

P.S Sim, minha comadre, eu sei que o Cancão de Fogo que simboliza o Juazeirense é o pássaro do sertão, da caatinga nordestina, que tem como principal característica observar tudo o que acontece naquele árido local e que foi cantado pela inolvidável Diana Pequeno nesta canção http://www.youtube.com/watch?v=G3BcPXuHcewhttp://www.youtube.com/watch?v=G3BcPXuHcew.

Porém, a (in) verdade que salva é liberta é que o time do São Francisco hoje se assemelha muito mais com o assombroso personagem do poeta Leandro Gomes de Barros, poeta que inspirou Ariano Suassuna e, segundo Câmara Cascudo, foi “o mais lido de todos os escritores populares”. De nada.
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