O caso do Corinthians é lapidar. Segundo pesquisa lance-Ibope de 2010 o alvinegro da capital tem 13% da torcida brasileira e, ao mesmo tempo, atrai o maior índice de rejeição dentre os times nacionais, com 21%. Isso quer dizer que a cada jogo do Corinthians transmitido pela tevê, há cerca de 60% mais de secadores assistindo, do que de torcedores do time do Parque São Jorge.
Resumindo: quase 70% da audiência dos jogos do Corinthians se deve a torcedores que não gostam dele. Porém, como acabam engrossando o ibope, fazem com que ele divida com o Flamengo as duas maiores cotas pagas pela Globo.
Com mais dinheiro, um time compra melhores jogadores, tem mais visibilidade na mídia, atrai mais torcedores aos seus jogos, aumenta sua torcida… – enfim, entra em uma bola de neve que o tornará, em pouco tempo, bem superior aos demais, como já acontece na Espanha. E aqui ainda há o agravante de que o poder político bajula esses dois times.
Lá, esta mesma divisão de cotas de tevê acabou com a competitividade e reduziu os clubes do País a apenas dois grandes. Real Madrid e Barcelona recebem 140 milhões de euros por ano, enquanto outros que já foram grandes, como Valência e Atlético de Madrid, ganham 42 milhões, ou exatos 30% dos dois maiores. Como contratar bons jogadores, fazer planos de marketing, aumentar a torcida com uma verba que é menos de um terço dos rivais?
Não dar ibope pra eles é a única forma de impedir o caos
A divisão de cotas feita pela Globo partiu de um princípio equivocado, político, injusto e antiético, que não levou em conta o mérito esportivo. Tevê é espetáculo e, neste quesito, as maiores atrações são os times campeões, ou que chegam às finais, ou que jogam bonito. Está provado que uma partida que vale título bate recordes de audiência, quaisquer que sejam os times envolvidos.
Em 2011, por exemplo, os recordes de audiência do futebol na tevê brasileira foram: no meio da semana, Santos e Peñarol; no horário da manhã, Santos x Kashiwa Reysol, e no domingo, Santos x Barcelona. Cadê a presença dos dois favorecidos pela Globo? Se um time não está em uma final, ou em uma competição importante, sua audiência é menor. Isto é fato.
Forçar uma reserva de mercado para dois times pretensamente mais populares é colocar o carro à frente dos bois. Por que não se dividir as cotas depois de apurados os mais bem classificados de uma competição e os índices de audiência de cada time? Por que é preciso distribui-las com antecedência, prevendo o imprevisível e correndo o risco de que as maiores verbas sejam dirigidas a equipes mal colocadas, deixando as menores para clubes que talvez briguem pelo título? Não há lógica nem bom senso nisso.
A intenção dessa Campanha não é prejudicar os dois clubes teoricamente mais populares do país, mas sim impedir que todos os outros grandes do Brasil sejam prejudicados. Pois de nada vale a estes últimos ganharem uma bolsa um pouco maior por ano. O que lhes interessa é manter suas chances de brigar por títulos, de manter sua grandeza e, com ela, a competitividade dos campeonatos – que ainda é o grande trunfo do futebol brasileiro.
Que todos os torcedores participem
Apesar de este blog ser dirigido a santistas, esta Campanha não se restringe aos torcedores do Alvinegro Praiano. Espero que são-paulinos, palmeirenses, vascaínos, gremistas, tricolores do Rio, botafoguenses, cruzeirenses, atleticanos de Minas, Paraná e Goiás, torcedores de Bahia, Santa Cruz, Fortaleza, Vitória, Ceará, Coritiba, Avaí, Figueirense, Goiás, Ponte Preta, Guarani, Portuguesa, americanos de Minas, Rio e Rio Grande do Norte, enfim, todos os outros que não são aficionados dos dois privilegiados, acatem a ideia dessa Campanha e não assistam mais a jogos de Corinthians e Flamengo.
A queda de audiência desses dois times é a única maneira de a Globo rever seus conceitos e estabelecer uma divisão de cotas mais justa, que não leve em conta apenas a popularidade de uma equipe, mas seu mérito esportivo e sua atratividade na tevê. O ideal seria que a maior parte da verba fosse destinada aos clubes mais bem classificados das competições (campeão, vive, terceiro, quarto…), o que estimularia a competitividade, a competência, a busca pelas vitórias no campo e não nos bastidores.
Não espere o apoio da grande imprensa
Essa Campanha começou ontem neste blog, se estendeu pelo twitter, facebook, orkut e está se espalhando pelo país pela Internet. É uma luta de David contra Golias. Não espere o apoio de grandes veículos de comunicação, nem mesmo dos concorrentes da Globo. Há um grande corporativismo entre eles e também entre os profissionais da área (que jornalista não tem esperança de trabalhar na Globo?).
Porém, a causa é justa e, se for bem-sucedida – o que só acontecerá com a sua ajuda e sua disposição de não assistir mais a jogos de Corinthians e Flamengo – poderá impedir o fim do futebol brasileiro como o conhecemos hoje. A decisão está nas suas mãos. Você quer que o Brasil continue com mais de dez clubes grandes, disputando títulos, participando de uma competição justa equilibrada pelo sucesso, ou tolera uma reserva de mercado antiética que restringirá nosso futebol a apenas dois times super poderosos, como na Espanha?
Pense nisso na próxima vez que empunhar o controle remoto.
Se já já está decidido a ajudar, faça sua parte: divulgue esta causa justa entre amigos e torcedores de outros clubes.