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Entrevista com João Paulo, divisões de base do Vitória: "a única saída é investir na garotada"

Confira a entrevista de João Paulo Sampaio, coordenador das divisões de base do Vitória para o site Olheiros.net. Leia, porque a nossa realidade está aí, as divisões de base é a nossa saída. Marquei em negrito algumas respostas que achei interessante. (Lucas Serra)

Rebaixado no Campeonato Brasileiro, o Vitória dependerá mais do que nunca dos jogadores revelados no clube para se reerguer na próxima temporada e voltar à Série A. E a tarefa será facilitada se esses garotos mantiverem o nível alcançado pelas gerações mais recentes reveladas pelo clube, que precisa superar diversas dificuldades diariamente para manter o status de referencia na base nacional alcançado a duras penas nas últimas duas décadas.

Quem responde por esse trabalho com os garotos atualmente é João Paulo Sampaio, coordenador das divisões de base do clube. Aos 34 anos de idade e 19 de clube, ele exerce a função desde 2007, tendo sido antes treinador dos juvenis. Como jogador, foi um volante promissor que, aos 16 anos, foi titular do Leão na histórica Copinha de 1993 em que o clube revelou Dida, Vampeta e Alex Alves, entre outros. Mas teve de se aposentar precocemente em função de uma lesão no joelho.

Fora de campo, João Paulo afirma usar o know-how adquirido dentro das quatro linhas para orientar e aconselhar os jogadores. “Já passei por tudo o que eles passam atualmente”, diz o baiano de Junco, que, em entrevista ao Olheiros, não se furtou a falar de assuntos espinhosos, como o aliciamento de atletas feito por clubes como Santos e Internacional, ou as dificuldades enfrentadas por um clube nordestino para competir em condições de igualdade com equipes com maior poderio financeiro do eixo Sul-Sudeste.

Confira abaixo a entrevista:

Olheiros - Quais as principais dificuldades no trabalho com divisões de base no Nordeste brasileiro?
João Paulo - Existem muitas. O calor intenso característico da região é uma delas, e a desnutrição infantil é outra. Enquanto o pobre do Sudeste ainda consegue comer arroz e feijão, o do Nordeste se mantém com farinha e às vezes até não tem o que comer. Já houve caso de jogadores que comiam barro para sobreviver. Além disso, a constituição física dos jogadores nordestinos é normalmente mais baixa, o que influi sobretudo em posições como goleiro e zagueiro. Há também a diferença da cobertura midiática em relação ao Sudeste, que faz com que nossos jogadores sejam vendidos por um preço mais barato, e a falta de parâmetros em nível estadual e regional, que nos obriga a viajar bastante.

Olheiros – Ainda assim, o Vitória se sobressai há pelo menos 17 anos na revelação de jogadores, desde 1993 com o time vice-campeão brasileiro. A que isso se deve?
João Paulo – Temos uma política efetiva de aproveitamento desses jovens nos profissionais. Há diversos clubes com uma boa categoria de base no Brasil, mas às vezes não há essa política de inserção dos garotos no time de cima. Como o Vitória não possui a mesma receita dos clubes grandes, a única saída é investir na garotada para obter retorno esportivo e financeiro. Além disso, temos uma comissão técnica pouco numerosa, o que obriga os membros a exercerem múltiplas funções, o que faz com que eles tenham uma participação ativa e fundamental no dia a dia do clube.

Olheiros – O sucesso do Vitória na base atrai a cobiça de outros clubes sobre jogadores da base, e já houve vários casos de roubo de atletas. Como o Vitória tem encarado esse problema?
João Paulo – O Vitória está muito preocupado com esta questão. Estamos analisando, nas nossas categorias abaixo de 16 anos, uma maneira de proteger nossos atletas desse assédio para que equipes como Santos e Internacional, que já “tomaram” atletas nossos, não façam novas investidas. Poucos clubes no Brasil são éticos, e temos que nos precaver, pois, fora os salários e as viagens, cada atleta custa 42 reais por dia ao Vitória.

Olheiros - Entre os atletas “roubados”, está o goleiro Guido, da seleção sub-17, que se transferiu para o Santos no meio do ano. Como ocorreu essa negociação?
João Paulo – O Santos negociou diretamente com o pai do atleta, que chegou no Vitória aos dez anos de idade, é convocado para as seleções de base desde os 14 e atualmente é titular da seleção sub-16. O Santos ofereceu um salário que não podemos pagar e depois deu uma de “João-sem-braço”, dizendo que a culpa era da família. Entendemos a opção do Guido, mas gostaríamos que o Santos reconhecesse o nosso trabalho e nos recompensasse, como faz com os empresários. Nesse aspecto, a Lei Pelé precisa de uma modificação urgente.

Olheiros – Voltando ao assunto da desnutrição dos jogadores, como está o quadro atual no momento na base do Vitória?
João Paulo – A situação é realmente crítica. Em todas as categorias, cerca de 80% dos atletas possuem índice de gordura inferior a 5%, o que aumenta a possibilidade de lesões, pois quando há perda de energia, os músculos são afetados. Fizemos um trabalho especial de reforço com os jogadores da geração /87 que atualmente são titulares do clube, como Wallace e Neto Coruja, que ficaram parados por um tempo para que o processo pudesse ter melhores resultados. E pretendemos fazer o mesmo com jovens como Arthur Maia e Romário logo após a Copa São Paulo. Obviamente, isso significa que perderemos força em alguns torneios de base, mas a chance de ganhar em um longo prazo é maior.

Olheiros - Na primeira pergunta, você falou do fato da constituição física do jogador nordestino influenciar no surgimento de poucos zagueiros, mas nos últimos anos o vitória revelou diversos jogadores para a posição, como David Luiz, Wallace e Victor Ramos. Outros, como Alan e Josué, figuram frequentemente nas seleções de base. Como você explica esse fenômeno?
João Paulo – Pode ser apenas uma coincidência, mas a ascensão deles também pode ser explicada pela relação entre o estilo de jogo do Vitória, de sair jogando sem dar chutão, e o fato de alguns deles terem mudado de posição ainda na base. David Luiz e Wallace, por exemplo, eram volantes, enquanto Victor Ramos era meia. Há também o Gabriel Paulista, que jogou a Copa São Paulo de 2009 pelo Taboão da Serra e hoje é titular dos profissionais.

Olheiros – Qual a sua opinião sobre o papel atual dos empresários no futebol?
João Paulo – Não há mais como ser contra, temos de conviver com isso, pois o futebol é um mercado aberto. Logicamente, como em todas as profissões, existem bons ou maus empresários e isso se reflete na carreira dos jogadores gerenciados por eles. No Vitória, por exemplo, há um jogador dos juniores que já passou por 11 clubes, e isso chega a ser comum hoje em dia.

Olheiros – Como está a preparação do Vitória para a Copa São Paulo?
João Paulo – Estamos muito confiantes. A base será a mesma que está participando do Brasileiro Sub-20. Alguns jogadores inclusive já participaram da Copa Nordeste. Mas é necessário termos um pouco de cautela, pois a Copa São Paulo é uma competição muito cruel, em que qualquer vacilo é fatal.
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