Ou seja, eu sou jovem, mas “idosa” o suficiente para ser da época que existia torcida mista (por onde já andei por uns dois ou três jogos quando fui com amigos de mau gosto). Sou “idosa” o suficiente para saber os reais motivos da existência de uma agremiação, dos reais motivos de porque o futebol é tão apaixonante.
Simples. Como o futebol. Simples. Como a rivalidade. Não existe futebol sem dois lados, sem dois times, sem dois técnicos, sem duas torcidas. Não existe futebol para um só ver. Futebol é algo universal e a rivalidade alimenta essa universalidade.
Será mesmo que é sadio ir pro Barradão ver seu clube jogar e olhar para um canto e não ter uma moquequinha pra zoar? Será mesmo que é certo ir pro Metropolitano e, em menor quantidade, fazer mais zoada que a torcida do rival? Será mesmo que é sadio não encontrar seus amigos do lado de fora do estádio, tomar aquela geladinha antes de entrar, fazer e receber “bullying” futebolístico?
Não. Não adianta a Polícia dizer que não tem competência para administrar o caos que a rivalidade gera somente dentre os marginais. Não adianta o presidente cabelinho do tricolor se aproveitar de uma momentânea e passageira melhor fase para se mostrar a favor de jogos de torcida única. Não adianta a Polícia, o Ministério Público, a Federação e os clubes se mostrarem frágeis e praticamente darem seus atestados de incompetência na gestão de um clássico. A violência dentro e fora dos estádios deve ser tratada como crime e não como algo natural por ser “coisas do futebol”. Não podemos nunca deixar que uma minoria, que se aproveita de qualquer rivalidade, acabe ruindo o que move o futebol, a razão de ser, o espetáculo.
Eu sou jovem, mas posso usar a expressão de que “eu sou do tempo” em que baVI era de paz e era tratado como o melhor clássico do Brasil simplesmente porque suas torcidas conseguiam conviver nessa paz, em harmonia, fazendo o sucesso desse jogo chamado baVI.
Querem destruir o brilho do espetáculo com conversinha mole de torcida única em cada estádio numa possível final do campeonato baiano. Querem fazer com que Salvador e a Bahia sejam reconhecidas pelo retrocesso, onde o medo tomaria conta do futebol, onde as famílias seriam falsamente protegidas com atitudes como essa que agem somente na consequência e não na sua causa. Querem aproveitar um momento para mudar uma história bela. Pois bem…se querem assim então marquem o jogo com portões fechados ou em Manaus. Mas sabem por que não fariam isso? Porque doeria nos bolsos de cada clube. Então o problema não está em prevenir violência. Hipocrisia pura!
Se cada um desse estado democrático de direito cumprisse seu dever não estaríamos aqui, aqueles que seriam os mais afetados com tal decisão, ou seja, os inocentes da história, pagando pela mediocridade de alguns, pela falta de educação e segurança que o Estado nos impõe.
Lamentável se tal decisão seguir adiante. Mais lamentável ainda as desculpas utilizadas para justificar tal decisão como se essa decisão tivesse justificativa. Eu quero é paz, mas pra vir a paz eu não tenho que ir pro estádio sozinha, porque meu rival não é meu inimigo. Pelo contrário, eu adoro tirar um sarro dele.
Lamentável também será ver os jogadores do leão dando volta olímpica num estádio entregue às moscas!
Saudações leoninas.
Por: Larissa Dantas (Blog do ECV no GloboEsporte)