Entrevista com Eduardo Serrano Rocha, presidente da Liga do Nordeste, sobre a Copa do Nordeste 2010. Apesar de longa, responde muitas perguntas que estavam no ar, eu marquei de vermelho as partes que achei mais interessantes. Confira:
A Copa do Nordeste já uma realidade. Você está satisfeito com o final da ação contra a CBF?
Eduardo: É uma luta de sete anos. Nós tivemos o campeonato de 2003 já sob contrariedade. A CBF decidiu reformar o seu calendário naquele ano e extinguiu os regionais. A única que teve a competência de se organizar como liga, dando poderes a mesma para delegar em favor dos clubes em juízo e, por isso, é que poderia fazer a demanda sem sofrer retaliação da confederação foi a nossa. Tivemos uma ação favorável que caminhava para uma execução de grande monta, algo em torno de R$ 20 milhões, e nesse momento começou a acontecer à condição favorável para negociação, que vem se desenrolando desde junho do ano passado e que agora felizmente fechamos com a CBF a volta da competição.
Qual o papel do presidente da FNF, José Vanildo nessa negociação?
Eduardo: A participação dele foi importante demais, ele acompanhou a negociação desde o início, foi conosco para o Rio de Janeiro e juntamente com Ariano Vanderlei, que é o meu vice na Liga dos Clubes do Nordeste, me ajudaram a fechar esse acordo propiciando a volta dessa competição tão importante para os clubes dessa região. O antigo sonho virou uma realidade.
O que se pode esperar para este primeiro ano, onde as coisas ocorreram de forma muito rápida?
Eduardo: Nossa intenção é dar uma guarida financeira aos nossos filiados para que eles possam disputar de forma contunde essa competição e melhor as competições de nível nacional. O que nós estamos vendo na atualidade são os nossos clubes em processo de decadência, só no ano passado assistimos Sport e Náutico saírem da série A. Fortaleza, ABC e Campinense caindo para série C, com o América se salvando no último grito. A nossa luta será para fortalecer nossos clubes e na hora que nos fortalecermos financeiramente, vamos mostrar que os nordestinos têm condições de se fortalecer tecnicamente também.
Com relação ao calendário, que este ano será espremido, a partir de 2011 a Copa do NE vai ser realizada de forma mais tranquila?
Eduardo: Para que tivéssemos a volta da competição, nós tivemos de contar com a aliança e a anuência das federações. Numa reunião recente, em Sergipe, onde as federações solicitavam o retorno da Copa, ficou claro que os seus presidentes não desejavam que a competição se entremeasse com as disputas dos Estaduais. Pessoalmente acho que a Copa poderia ser realizar no primeiro semestre, mas isso não é uma convergência. Em 2011 o que deve ocorrer é o seguinte, nós deveremos ter 13 datas no segundo semestre e quatro datas no mês de abril. Logo os estaduais não vão sofrer qualquer tipo de concorrência.
Esse problema de calendário não trará problemas de ordem financeira para a Copa NE?
Eduardo: Acho que não, em qualquer momento que ela for realizada acredito sempre que será um bom produto. Para se ter uma ideia nós já temos disputas de patrocinadores de mesma marca. A competição é um sucesso, em 2001 nós tivemos média de 10 mil torcedores nos estádios, em 2002: 12 mil, o que demonstra um crescimento vertiginoso. Eu não tenho não qualquer receio quanto ao nosso produto.
O aporte financeiro desse primeiro momento pode ser considerado bom para os clubes?
Eduardo: Vamos explicar com números que é mais fácil de entender. Neste ano vamos assegurar passagem, hospedagem e translado para todos os disputantes. Vamos assegurar algo em torno de R$ 450 mil a R$ 500 mil, mínimo, para cada representante. Para se ter uma ideia, 12 desses participantes vão receber essa verba para disputar apenas 15 partidas. Para você fazer uma comparação e ter uma noção de descompasso de ordem financeira com outras competições, basta dizer que a série B repassou para os seus clubes no ano passado nove parcelas de R$ 90 mil, ou seja, pagou R$ 810 mil para disputar 38 partidas, o produto disso é equivalente a R$ 20 mil por jogo. Fazendo essa mesma operação na Copa do NE veremos que cada um dos nossos clubes irá receber de R$ 35 mil a R$ 40 mil por jogo. Logo estaremos colocando em ‘xeque’ a série B, já que a previsão é de dobrar nossa arrecadação no próximo ano.
O patrocínio da TV já está fechado com alguma emissora?
Eduardo: A competição será transmitida pela TV Interativa, que transmite os melhores campeonatos europeus para o Brasil. A revista Exame dessa semana tem uma entrevista com um diretor da Top Sports que tem como um dos seus braços televisivos a TV Interativa, são quatro sócios e que nos acompanham desde 2000, essa rede no próximo ano pretende retransmitir os nossos jogos para alguns países do Exterior.
A Top Sports foi fundamental dentro dessa briga também?
Eduardo: Não tenha dúvida disso, eles possuem toda memória da Copa do Nordeste, vamos mostrar todo crescimento dessa competição ao longo dos anos, a evolução de público, patrocínio, verbas. Mas esse campeonato necessita de uma lincagem, não existe dúvida em relação a isso de nenhuma das partes. A Liga fez o papel de retomar a competição, cabe agora aos presidentes de federações fazer a ligação dessa nossa competição com outra maior ainda. Então vai caber a esses dirigentes que têm o poder junto a CBF, pleitear que duas vagas para Copa Sul-americana sejam distribuídas ao campeão e o vice da Copa NE.
Como será resolvida a questão do descenso na Copa do Nordeste uma exigência do Estatuto do Torcedor?
Eduardo: Vai cair o último colocado — queira Deus que não seja nenhum dos nossos, o que seria muito ruim para mim como presidente da Liga, mas acredito que ABC e América farão uma boa competição. Por ponderação das federações ficou acertado que o estado que perdesse o seu representante na Copa do NE, indicaria por critério técnico o seu substituto. Isso certamente será realizado levando em consideração a colocação desses clubes nos Estaduais, o que vai agregar um valor maior a essa competição local. Não estamos fazendo reserva, estaremos apenas motivando um pouco mais os Estaduais.
Não é temerário reiniciar uma competição disputando espaço com a Copa do Mundo? Era inevitável voltar sob uma competição tão desleal?
Eduardo: Eu entendo como inevitável, essa é uma batalha que se arrasta há muitos anos, no momento em que você consegue fechar o acordo e tem a possibilidade de voltar logo com a competição, no meu entender não poderíamos perder a oportunidade. Acredito que se não fosse assim correríamos o risco de ocorrer um esmorecimento, já que teríamos de ficar parados por mais um ano. Quem me garante que nesse tempo o contrato assinado não passasse a ser interpretado de outra forma. Nós tínhamos de sedimentar a competição, não de forma irresponsável. Fiz isso porque tive uma garantia mínima da Top Sports de levantar os recursos necessários para satisfazer os clubes minimamente neste recomeço. A competição renasce sob o signo da vitória e do crescimento. Com relação a Copa do Mundo, sabemos que a maioria dos jogos vão se dar pela manhã, a nossa tabela vai fugir dos grandes jogos e terá partidas em horários alternativos.
Fora a Copa do Mundo, como vai se conciliar a tabela da Copa do Nordeste com as séries A e B, que ocupam quase toda semana?
Eduardo: Verificamos que a série B e a séria A deixam brechas na tabela dos clubes, a folga de dez dias é dada a todos os clubes de forma intercalada e a Top Sports explorou isso na tabela. Por exemplo, quando o América tiver gozando esses dias de folga na tabela, fará os seus jogos contra adversários que não estiverem inseridos nas séries A ou B, podendo atuar até duas vezes no período. Eu tenho impressão que ocorrerá uma priorização para as duas competições. A série C só começa no dia 19 de julho e os clubes dessa divisão terão a oportunidade de se preparar da melhor maneira possível. Mas poderá ocorrer a aproximação de algumas datas para os participantes, porém acredito que os clubes das séries B e A terão de formar elencos numerosos e não terão problema com relação a isso.
As datas dos jogos no meio de semana na Copa NE serão variadas?
Eduardo: Serão variadas sim visando atender as necessidades dos disputantes. Podendo ocorrer jogos na terça, quarta ou na quinta-feira. Houve uma acomodação de datas e teremos um período de hiato na Copa do Nordeste que poderá atingir em torno de 40 dias. Nós queremos ver as equipes principais em todos os jogos. Esse ano nós iremos premiar financeiramente do 1º ao 6º colocado da competição, tudo para motivar o campeonato.
A CBF terá alguma participação na Copa do NE?
Eduardo: Neste primeiro momento resume-se a que ela permita a realização da competição, aceite e libere o seu quadro de árbitros para conduzir os nossos jogos. Ela não proíbe e não terá qualquer tipo de participação na organização do torneio. As federações ainda vão tentar convencê-la a fazer com que o STJD realize os julgamentos dos casos de indisciplina na Copa NE, mas se isso não ocorrer à função pode ser repassada para qualquer Tribunal de Justiça Desportiva ligado as federações nordestinas, inclusive o do Rio Grande do Norte.
Você acredita que neste retorno, a competição terá o mesmo apelo em relação ao público?
Eduardo: Temos de partir do princípio que houve um aumento de população em nossa região, houve acréscimo na renda também, isso é visível. Eu acho que nós devemos aumentar o nosso público, acredito que esse será o grande desafio da competição nesse ano. A Copa do Nordeste sempre teve o diferencial de ser a competição mais organizada do país e nós vamos tentar fazer igual ou melhor daquilo que vínhamos realizando. Vamos ter promoção nos estádios, interagir com o torcedor através da internet, vamos realizar uma grande movimentação.
Fonte: Tribuna do Norte
