Apesar do estatuto não ser muito claro, essa decisão deveria ser precedida de uma ampla e profunda discussão, além de ser submetida à votação da assembléia geral. Penso que uma decisão tão importante submetida a votação de pouco mais de uma centena de conselheiros jamais será legitima.
Para trazer um pouco de luz nessa obscura transação, é fundamental comparar os resultados financeiros dos jogos do Vitória na AFN e no Barradão. Tomemos por base os jogos contra o Internacional, São Paulo e Bahia realizados na AFN e no Barradão.
Jogos bastante semelhantes em termos de adversários e motivações. A comparação entre os jogos contra o Internacional, abertura do Brasileiro e após a conquista do campeonato estadual, e o São Paulo, onde estava em disputa a liderança na tabela do campeonato. E as duas partidas contra o Bahia. O jogo do Barradão de torcida única e de entrega de faixas de campeão, e o mais recente na AFN, com divisão de torcida (60/40), clássico depois de 10 anos e os times bem posicionados na tabela disputando lideranças.
Se esses documentos emitidos pela CBF e a FBF têm alguma veracidade – acreditamos que sim – o Vitória pagou para jogar na AFN contra o Internacional, pois amargou um prejuízo de quase 57 mil reais. Se existe outro acerto diferente do existente nesses boletins, é dever do Ministério Público investigar.
Já a comparação dos dois jogos contra o adversário local, em que pese à renda bruta ter sido 35% a mais e a líquida 25% na AFN, merece uma análise mais detalhada e uma reflexão mais profunda. Se somarmos a receita com aluguel do estádio, a renda líquida do Vitoria no Manoel Barradas sobe para mais de 672 mil reais, reduzindo a diferença para pouco mais de 6%.
A reflexão é quanto à partilha da renda líquida da AFN. Se alguém acredita que toda ela vai para o Vitória, deve acreditar também em Papai Noel, Saci Pererê e outras figuras do imaginário popular.
Mas imaginando que toda essa renda líquida seja do Vitória, pode-se inferir que somente jogos de grandes apelos devem ser mandados para AFN. Todavia ficam duas questões para serem respondidas e refletidas pelos torcedores apaixonados que não pensam somente em dinheiro:
- O Vitória deve abrir mão de jogar em sua casa com mais de 90% da torcida para jogar em local neutro? Quantos campeonatos o rubro negro decidiu e perdeu para o rival no Barradão?
Além da renda com bilheteria, devemos somar as outras receitas advindas de um estádio próprio, como publicidade estática, merchandising, aluguel de espaço, entre outras.
O que não se pode e não se deve é pagar para jogar, principalmente quando se tem um estádio próprio. O sonho de todo mundo é ter sua casa própria. E o Barradão sempre foi e sempre será o orgulho maior da torcida rubro negra.
O que os atuais dirigentes já deveriam ter feito é cobrar dos governantes a construção da nova avenida, que salvo engano fez parte do acordo para o Vitória ceder o estádio para treinamento de seleções nas competições da FIFA.
Enquanto a diretoria atual camufla e esconde o jogo sobre o futuro do mando de campo do Vitória, a CHAPA VITÓRIA SÉCULO 21 tem como um dos seus compromissos a construção da ARENA BARRADÃO. Projeto esse muito bem apresentado e detalhado na primeira reunião temática da chapa, realizada em março.
Se você é associado e a favor do Vitória continuar mandando seus jogos no Barradão, sua alternativa é votar com a CHAPA VITÓRIA SÉCULO 21.
Antonio Melhor é ex-conselheiro, atualmente é sócio-torcedor do Vitória e membro da chapa VS21 (link do texto)