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[ALEX ALVES] Demasiadamente humano. Por Franciel Cruz.

As grandes coisas exigem silêncio, ou que delas falemos com grandeza. E grandeza aqui significa inocência & cinismo, sendo este entendido na acepção mais ampla, de desprezo às convenções morais.

Obrigado, minha comadre. Fico extremamente lisonjeado com os aplausos, mas informo aos incautos que as palmas devem ser dirigidas a quem de direito: Nietzsche, autor do axioma acima.

Recorri ao bigode germânico não somente para desfilar falsa erudição, mas porque não posso silenciar sobre um nietzschiano personagem da década de 90 do século passado.

E, para falar dele e desta época em que éramos deuses e sonhávamos com a vontade de potência, sacarei do coldre a inocência e o cinismo, pois os torcedores Rubro-Negros de então sonhávamos e acreditávamos que era possível vencer a nossa própria fatalidade que sempre nos jogou para o abismo.


Vocês, moços, pobres moços que não viveram aqueles tempos, talvez não façam a menor ideia, mas eram estes sentimentos que impulsionavam este rouco e nostálgico locutor no ano da graça de 1993, especialmente entre 20 de novembro e 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira de Soterópolis. Afinal, além de torcer pelo time que encantava e surpreendia o Brasil, ainda estava no auge da fúria e inocência dos meus vinte e poucos anos.

Porém, ai porém, como sói ocorrer na minha relação com o Esporte Clube Vitória, existia uma contradição fundamental. Um dos principais, senão o principal responsável por este estado de insana euforia, psicopatia e caos, era um cara por quem eu nutria um tanto assim de ojeriza.


Alex Alves, eis o nome do santo, era o tipo de jogador que nunca me agradou. Parecia, e era, estes peladeiros do interior, porém sem a ginga dos referidos. Apenas corria e corria atabalhoadamente, com faro para o crime, como todo bom camisa 7 deve fazer. E ele cumpria à risca sua vocação. Tanto é assim que o gol mais espetacular do sacana com o manto do Leão ocorreu exatamente porque ele deu um toque a mais na bola, adiantando-a para além do necessário. Contudo, correu e avançou com sua vontade de poder e… big bang, o mundo se acabou, digo, começou.

Com o golaço do referido, o Esporte Clube Vitória, o patinho feio da fase final daquele Brasileirão, sacramentou o triunfo diante do poderoso Corinthians de Rivaldo, Viola e Tupãzinho, único time até então invicto na competição.

Parecia que finalmente deixaríamos de ser escravos para nos tornarmos senhores. Afinal, depois de lascarmos em banda o alvinegro paulista, ainda devoramos de sobremesa o Flamengo e o Santos, garantindo a classificação para a grande final.

Porém, antes de prosseguir, faz-se necessário voltar a 1992 quando foi plantada a semente do novo tempo no Vitória. No campeonato da Série B daquele ano, o moço de Campo Formoso entrou no lugar de Vampeta na primeira partida da final contra o Paraná e fez o único gol do Vitória, mostrando que ia marcar definitivamente seu nome naqueles momentos incrivelmente mágicos do Clube.


Sim, minha comadre, mágicos. Afinal, nós, suburbanos e periféricos corações torcedores, estamos condenados a ser sermos iguais aos bordéis de ponta de rua. Só podemos nos emocionar com as putas, digo, jogadores, em final de carreira.

Porém, naquele início dos anos 90, foi diferente. Além da já citada estrela da companhia, Alex Alves, havia uma legião de meninos que esbanjavam um futebol, com o perdão da má palavra, voluptuoso. Dida, Rodrigo, Vampeta e Paulo Isidoro nos faziam ir ao estádio sem a preocupação de estarmos apenas financiando velhos mercenários.

E a prova cabal de que a força do vil metal ainda não comandava os desejos daqueles guris ocorreu quando um radialista perguntou ao endiabrado camisa 7 qual era seu sonho. Ele apenas respondeu: “Comprar uma geladeira para a minha mãe”.

PUTAQUEPARIU A INOCÊNCIA!!!

Esta resposta, no entanto, que parecia simbolizar nossa glória, talvez tenha sido também nossa desgraça. Nosso sonho era apenas uma geladeira. Ou pior. Alex Alves, nós e o Vitória não sabíamos, nunca soubemos, qual era efetivamente nosso sonho.

Porém, noves fora esta indefinição visionária, o fato é que o jogador e o Clube firmaram um pacto para entrelaçar destinos de forma irremediável – seja lá que porra isto signifique. Tanto um quanto o outro possuem uma estranha vocação para a auto-sabotagem. É isso. Coisa do destino. Alex e o Vitória estão aí para nos mostrar que glórias contínuas não nos interessam.

Exemplo? Recebam.

Quando estava no auge, o atacante que queria apenas uma geladeira inventou de posar de modelo nas cruéis passarelas da vida, logo ele, um cara que nasceu e que trazia no lombo todas as marcas e desventuras do sertanejo. Resultado: tornou-se um algoz patético de si mesmo, apesar de que, como bem frisou um amigo meu, “A questão dele com a moda era tocante. Ridículo, mas comovente, porque parecia algo sincero da parte dele, que ficou encantado com tudo aquilo que nunca tinha visto antes”.

Sim, era uma tentativa de ser aceito e de se impor a um círculo ao qual não pertencia. E assim também parece ser o destino do Vitória. Toda vez que chega na boca da bigorna, que tenta conquistar, se impor como campeão nacional, círculo ao qual não pertence, o Leão torna-se ridículo e comovente.

Foi assim em 1992, 1993 e 2010. Já neste ano da graça de 2012, a história se repete como farsa.

Talvez seja por tudo isso que a direção do Vitória, que sempre escanteia, espezinha e esquece seus ídolos (alô, André Catimba), se apressou logo em homenagear Alex Alves, pagando inclusive seu velório. O referido gastou quase tudo que possuía quando estava deslumbrado, querendo pertencer a um mundo que não era o seu.

Pois muito bem.

Torço agora para que, com esta homenagem, o Leão também faça uma catarse e, finalmente, comece a dar passos adiante, mesmo que sejam passadas desconcertadas e lindas, como aquelas que Alex deu contra o Corinthians em 1993.

Por: Franciel Cruz

P.S. Há pouco mais de dois meses, vi Alex vagando pelas ruas de minha querida Amaralina. Andava altivo, fazendo de conta que não estava em seus estertores. Apesar de não gostar de me aproximar de jogadores, contrariei minha religião e fui ao seu encontro agradecer-lhe por tudo.

E fi-lo não por compaixão a um doente, mas para tentar consertar o erro da decisão de 1993 que, acho, perdemos exatamente por culpa minha, quando deixei meu tradicional lugar na Fonte Nova, na torcida Leões da Fiel, para ver a decisão contra o Palmeiras no meio do estádio, com uma vista melhor, no amaldiçoado lugar onde ficava a Bamor.
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