Porém, como o tempo urge e ruge, e as semifinais do Valerão-2012 estão batendo na porta, não vamos aqui ficar esmiuçando as abrangentes artimanhas da alteridade. Assim, para adiantar o lado, simplificaremos e reduziremos o axioma sartreano à questão da transferência de culpa, o velho e bom tirar o seu da seringa.
Pois bem.
Vocês podem nem acreditar, mas pratiquei todas estas piruetas filosóficas por causa de Marcos André, aquele meio-campista que também deu (lá ele) um monte de piruetas muito mais arriscadas, na rampa do Palácio do Planalto. Sim, amigos de infortúnios, estou falando dele mesmo: Vampeta, o homem, o mito, o pentelho.
Seguinte foi este. De acordo com matéria publicada na página Sociedade online (http://www.radiosociedadeam.com.br/portal/noticia.aspx?nid=96701), o moço de Nazaré das Farinhas teria largado a seguinte prosopopeia no Programa Bem, Amigos, do Sport TV. ”Sou conselheiro, mas os caras estão fazendo um monte de cagada lá“.
Como é, Vampeta ? Você é conselheiro, mas somente os caras estão fazendo merda?
Pois é, minha comadre, nestas parcas palavras do ex-jogador está a personificação, involuntária, da tese rasteira de que L’enfer c’est les autres (O inferno são os outros). Afinal, na concepção do modelo da Revista G Magazine, ser conselheiro do Vitória exime-o de qualquer responsabilidade na construção dos caminhos que o Clube deve seguir.
Em vez de ir às reuniões do Conselho e lutar para mudar o atual estágio de coisas, ele apenas vai à TV e diz que “os caras estão fazendo um monte de cagadas lá”, como se não tivesse as suas cotas de (ir) responsabilidades.
Aliás, a bem da verdade, parece que realmente não as tem – pelo menos não no Conselho do Rubro-Negro, pois seu nome não consta na lista do Site Oficial do Clube, nem como Vampeta, nem como Marcos André.
Sei que algum incauto pode argumentar que, ao menos, este ato de Vampeta (sim, ato, pois palavra também é ação) serve para desnudar a diretoria, já que a declaração foi feita em um programa nacional.
E eu digo não é nécaras. O inverso é o verdadeiro. A fala de Vampeta, além de mascarar o problema, transferindo responsabilidades exclusivamente aos outros , ainda denota falsidade ideológica, pois afirma ser o que não é.
Então, se a declaração do rapaz tem alguma serventia é somente para nos mostrar como não devemos agir. Afinal, se queremos mudanças efetivas no Esporte Clube Vitória não podemos fingir que o inferno são (apenas) os outros.
E encerro esta homilia com a mais profunda e necessária filosofia para o atual momento: “Que venha o ABC, pois vamos lascá-lo em banda. E tenho dito!".
Por: Franciel Cruz (@ingresia)