Por: Franciel Cruz
Conforme já sabe a culta audiência que sintoniza nesta emissora, a saúva foi descrita assim pelo botânico Auguste de Saint-Hilaire: “é a designação comum aos insectos himenópteros, da família dos formicídeos, género Atta Fabr., distribuído por todo o Brasil. As saúvas são cortadeiras e carregadeiras, utilizando as folhas cortadas e outras substâncias para cultivarem o fungo com que se alimentam. São consideradas a mais importante das pragas agrícolas do Brasil. São sociais, e vivem em formigueiros subterrâneos, formados de várias panelas, canais e olheiros”.
Pois muito bem, amigos de infortúnio.
No nosso Esporte Clube Vitória está grassando uma praga muito mais perniciosa do que a saúva. E o nome deste veneno é inversão de valores.
Aos fatos.
No dia 4 de novembro de 2009, o lateral Apodi (ala é a puta que o pariu!), revoltadinho porque recebeu a camisa de reserva, simplesmente jogou o manto no chão, como se fosse um pano qualquer.
E o que fez na época o presidente Alexi Portela? Nécaras e nada. Aliás, pior. Disse que compreendia a atitude do jogador porque ele era jovem e etc e coisa e tals.
O tempo passa, voa e a iniqüidade no Rubro-Negro continua numa boa. Em janeiro deste ano, o atacante Neto disse que não queria mais jogar no Vitória, fez uma lambança da disgrama, disse que ia, voltou, titubeou e está aí hoje às vésperas de renovar contrato.
Pois muito bem.
Já Viáfara, um jogador que nos seus três anos de contrato não deu uma única declaração que não fosse pelo engrandecimento do Vitória foi humilhado pelo Clube, com o presidente anunciando sua demissão numa rádio amiga. A lógica absurda parece premiar os que desrespeitam a instituição e punir aqueles que a amam.
Mas, o que isto tem a ver com o jogo de ontem? Já explico.
Seguinte é este. A praga da inversão de valores parece que é contagiosa, pois uma parte da torcida está indo no mesmo perverso caminho trilhado pela diretoria. Em relçao aos caras que que não têm nenhum compromisso com o clube, que pintam o diabo de loiro ou de qualquer outra cor, eles não esboçam qualquer reclamação.
Porém, se algum prata da casa cometer qualquer deslize nos quatro linhas ou fora dela, está amaldiçoado para sempre. Lembro, como exemplo, que Anderson Martins, que hoje é destaque no Vasco, era Anderson Bragueiro. Neto Berola (não é prata da casa, mas é de nossa região) era um pica tonta e assim sucessivamente com outros tantos.
Interrompo a lista apenas para citar a vítima da vez, o queridinho da torcida para despejar suas frustações: Elkesson. É fato que o atleta perdeu o gol do título, que, muitas vezes se enrola numa jogada simples ou algo do gênero. Porém, nunca vi o cidadão se esconder das partidas. Repetindo: Não se esconde nunca. Além disso, já foi decisivo, como na conquista do próprio baiano do ano passado, para ficar apenas num exemplo. No entanto, como ele não tem pedigree, não veio de fora, a torcida trata-o como se fosse ele quem tivesse traído Jesus – e não Judas.
E ontem, no jogo de sua despedida, então, foi algo vergonhoso. A perseguição começou antes mesmo do árbitro soprar o apito para aquela partida chinfrim entre Vitória 1 x 0 Vila Nova. A cada toque na bola era uma vaia, como se isso fosse melhorar o rendimento do rapaz ou do time. O engraçado é que, mesmo sendo pretendido por vários grandes clubes do Brasil, ele não pipocou. Correu, caiu (aliás, como cai este sujeito), chutou, tentou driblar, errou, mas não se escondeu do jogo um só momento nem deixou de botar a perna na dividida.
E fez mais. Ao final do jogo, já praticamente fechado com outro clube, agradeceu a torcida do Vitória e disse que ia torcer pelo retorno da equipe à série A. E fez muito mais. Informou que abriu mão de seus 10% para o Vitória. E fez mais ainda. Pediu que os torcedores refletissem e passassem a apoiar as pratas da casa, pois são elas que no fundo dão sangue suor e lágrimas pela equipe.
E tudo isso na noite em que a torcida aplaudiu Neto por este ter feito um mísero gol numa equipe fraca como esta do Vila Nova.
É fato que três pontos são importantes em qualquer situação, especialmente numa largada de campeoanto. Porém, três pontos não são tudo na vida. Existem valores maiores.
Ah, sim. Ia esquecendo. Viáfara, que estava sendo satanizado pela diretoria e por uma parte da imprensa e da torcida, também abriu mão de sua rescisão. Esperamos que estes exemplos de dignidade vençam,
E termino emulando a frase do botânico francês.
Ou acabamos com esta nefasta inversão de valores no Vitória, ou ela acabará com o nosso clube do coração.
P.S Ontem, fui presentear meu sobrinho Caique, menino completamente apaixonado pelo clube, com uma filiação ao SMV. Não eram nem 13h, no entanto a Capemi não atendia mais. Informaram que atendimento só no shopping lapa. Para não dar nova viagem de balde, liguei para confirmar. A moça informa que “estaremos abertos até 20h”. Quando chego lá, ela pergunta se estou com todos os documento. Respondo afirmativamente, mas aí ela completa: “Ih, esqueci de falar. O sistema está fora do ar”.
E não oferece nem um mínimo formulário para garantir um novo sócio.
Francamente. Até quando a diretoria vai tratar os torcedores como gado? Até quando aceitamos e não protestamos contra esta inversão de valores.