Alguns hereges céticos podem até afirmar (não sem razão) que o relato que segue abaixo é um tanto quanto fantasioso. Porém, apesar da descrença dos fariseus, eu lhes asseguro: é tudo verdade – e a moça do shortinho gerasamba (a minha Terta) está por aí nos pagodes da vida para não me deixar mentir.
Seguinte foi este.
Seguinte foi este.
No último domingo, o brioso Vitória começou a peleja contra o Atlético do Paraná de forma tão alucinante que, logo após o segundo gol, a velha Philco num aguentou o rojão. E começou a tremer mais do que a zaga atleticana diante do bombardeio do Leão. Foi nesta batida que, quando o ponteiro do relógio estava exatamente na FAIXA ETÁRIA de maizomenos 26 minutos e 18 segundos, a pobre TV abandonou de uma vez por todas este vale de lágrimas.
Então, diante de tão importante momento da nação, fui obrigado a contrariar minha religião e fazer algo absolutamente abjeto: acompanhar um jogo do Vitória no PC neandertalzinho, que trava mais do que coitos de cachorros no cio.
Apesar da exibição soberba do Rubro-negro, este rouco e cansado locutor estava aflito por ser testemunha deste grande fato histórico de modo tão malamanhado. Assim, decidi buscar refúgio num local decente: uma budega.
No meio do caminho, porém, não havia uma pedra, mas sim um vizinho, que recém mudou para o aprazível e pacato condomínio onde me escondo lá no glorioso Nordeste de Amaralina.
- Ô, rapaz, Está indo para onde?”
- Vou ver o jogo no Bar, sêo Acácio (eis o nome do santo), pois a TV de casa deu tchutcho, igual aos fliperamas do fim de linha daqui do Nordeste.
Gentil, ele larga: “Apesar do pouco tempo aqui, já soube que o senhor é um Vitória retado. E pé quente. Venha ver o jogo com a gente. (A gente no caso era o filho dele com o pé engessado e uma porra de uma cachorra pincher, chata pra caralho, que num parava de chorar, grunhir, gritar – sei lá que porra ela fazia).
O segundo tempo começa e eu suporto todos estes dissabores só para continuar vendo o baile do Leão. Logo de cara, antes do final da primeira volta do ponteiro, Marquinhos perde um gol de cara. E a cachorra latindo. E sêo Acácio achando tudo lindo.
Poucos minutos depois, porém, o sacana do tamborete de forró de 1 metro e meio que atende pelo nome de Ederson sobe no meio da zaga do Vitória e desconta. Sêo Acácio olha para este pé quente que vos sussurra profecia já com um ar de desconfiança.
Num tenho nem tempo de me ajeitar na poltrona e o sacripanta do Ederson, mais buliçoso do que a cachorra pincher, guarda outro. O olhar quase que furioso que Sêo Acácio lança em direção a este pé quente aqui parece denunciar que sua paciência está se esvaindo. Era como se eu fosse o próprio Victor Ramos.
O Atlético continua em cima (de lá ele) e pressinto que a casa começa a feder a homem ou a cachorra (Acho que a disgramada era uma cocker speniel. Mau cheiro dos 600). Roger sobe sozinho e prevejo o apocalipse. Começo a amarrar a chuteira já pressentindo que serei expulso do recinto. Porém, Sêo Acácio prostra-se no sofá, conformado. Não tem mais nem o olhar furioso. Apenas balbucia. “É rapaz. Nós já sabemos como é o Vitória, né?”, pergunta-me derrotado.
Porém, antes que eu responda, ele começa a desfiar o rosário de lamúrias e tragédias. E relembra as duas viradas sofridas diante do Goiás, quando também estávamos vencendo por 3 x 0, além da tragédia diante do próprio Furacão, quando metemos 4 x 1 no barradas, mas perdemos a vaga lá em Curitiba.
Neste momento emocional da partida, até a cachorra pincher ou cocker ou qualquer outra disgrama já estava também macambúzia. Nem latia nem fedia. Foi então que este locutor largou o doce.
- Acácio, seguinte. Pode anotar aí. O Vitória vai virar com um gol deste cabelo de pica-pau (William Henrique) que entrou aí.
Sêo Acácio num tem forças nem pra rir. O jogo segue o disgramado do cabeça de pica-pau num consegue nem ficar em pé. Comete duas faltas bobas. Na segunda, o Atlético quase vira o jogo. O dono da cachorra olha pra mim com aquele olhar de lagoa seca, de ódio, que ACM devotava aos seus aliados que cometiam deslizes.
Decido então enfrentar o Cabeça Branca, digo, Sêo Acácio. E prossiga na aposta, apesar de nem eu mesmo fazer mais fé nenhuma. Como desmoralização pouca é bobagem, repito: “Pode escrever aí. Vamos virar com um gol do moleque”.
E tome-lhe pressão do Atlético. Então, Sêo Acácio diz. “Ô vidente. Num dá para você ver aí em sua bola de cristal que este jogo vai terminar empate, não, pois já seria um grande resulta…”
Antes de ele concluir a acomodada frase, pica-pau broca. Ele se ajoelha em minha frente – e diz: “Obrigado pai Franciel”.
A mulher do referido, que detesta futebol, desce as escadas gritando. A cachorra volta a latir. E a feder. A balbúrdia se restabelece.
Sêo Acácio, que é ligado ao candomblé, acredita que tenho realmente poderes paranormais. Oportunista, informou que sou frequentador do Ilê Axé Omin Odá (É óbvio que omiti que vou no terreiro muito de quando em vez). Sêo Acácio começa a me tratar como se eu fosse um paxá.
Cabelo de Pica-Pau faz o lançamento (assistência quem presta é a Samu), Ayrton bate o prego no caixão e eu ressuscito como herói nacional ou do Nordeste de Amaralina – o que dá no mesmo.
Por: Franciel Cruz
P.S. Alguns hereges céticos podem até afirmar (não sem razão) que o relato acima é apenas culhuda. Porém, apesar da descrença dos fariseus, repito o que disse Orson Welles: It’s all true.
Então, diante de tão importante momento da nação, fui obrigado a contrariar minha religião e fazer algo absolutamente abjeto: acompanhar um jogo do Vitória no PC neandertalzinho, que trava mais do que coitos de cachorros no cio.
Apesar da exibição soberba do Rubro-negro, este rouco e cansado locutor estava aflito por ser testemunha deste grande fato histórico de modo tão malamanhado. Assim, decidi buscar refúgio num local decente: uma budega.
No meio do caminho, porém, não havia uma pedra, mas sim um vizinho, que recém mudou para o aprazível e pacato condomínio onde me escondo lá no glorioso Nordeste de Amaralina.
- Ô, rapaz, Está indo para onde?”
- Vou ver o jogo no Bar, sêo Acácio (eis o nome do santo), pois a TV de casa deu tchutcho, igual aos fliperamas do fim de linha daqui do Nordeste.
Gentil, ele larga: “Apesar do pouco tempo aqui, já soube que o senhor é um Vitória retado. E pé quente. Venha ver o jogo com a gente. (A gente no caso era o filho dele com o pé engessado e uma porra de uma cachorra pincher, chata pra caralho, que num parava de chorar, grunhir, gritar – sei lá que porra ela fazia).
O segundo tempo começa e eu suporto todos estes dissabores só para continuar vendo o baile do Leão. Logo de cara, antes do final da primeira volta do ponteiro, Marquinhos perde um gol de cara. E a cachorra latindo. E sêo Acácio achando tudo lindo.
Poucos minutos depois, porém, o sacana do tamborete de forró de 1 metro e meio que atende pelo nome de Ederson sobe no meio da zaga do Vitória e desconta. Sêo Acácio olha para este pé quente que vos sussurra profecia já com um ar de desconfiança.
Num tenho nem tempo de me ajeitar na poltrona e o sacripanta do Ederson, mais buliçoso do que a cachorra pincher, guarda outro. O olhar quase que furioso que Sêo Acácio lança em direção a este pé quente aqui parece denunciar que sua paciência está se esvaindo. Era como se eu fosse o próprio Victor Ramos.
O Atlético continua em cima (de lá ele) e pressinto que a casa começa a feder a homem ou a cachorra (Acho que a disgramada era uma cocker speniel. Mau cheiro dos 600). Roger sobe sozinho e prevejo o apocalipse. Começo a amarrar a chuteira já pressentindo que serei expulso do recinto. Porém, Sêo Acácio prostra-se no sofá, conformado. Não tem mais nem o olhar furioso. Apenas balbucia. “É rapaz. Nós já sabemos como é o Vitória, né?”, pergunta-me derrotado.
Porém, antes que eu responda, ele começa a desfiar o rosário de lamúrias e tragédias. E relembra as duas viradas sofridas diante do Goiás, quando também estávamos vencendo por 3 x 0, além da tragédia diante do próprio Furacão, quando metemos 4 x 1 no barradas, mas perdemos a vaga lá em Curitiba.
Neste momento emocional da partida, até a cachorra pincher ou cocker ou qualquer outra disgrama já estava também macambúzia. Nem latia nem fedia. Foi então que este locutor largou o doce.
- Acácio, seguinte. Pode anotar aí. O Vitória vai virar com um gol deste cabelo de pica-pau (William Henrique) que entrou aí.
Sêo Acácio num tem forças nem pra rir. O jogo segue o disgramado do cabeça de pica-pau num consegue nem ficar em pé. Comete duas faltas bobas. Na segunda, o Atlético quase vira o jogo. O dono da cachorra olha pra mim com aquele olhar de lagoa seca, de ódio, que ACM devotava aos seus aliados que cometiam deslizes.
Decido então enfrentar o Cabeça Branca, digo, Sêo Acácio. E prossiga na aposta, apesar de nem eu mesmo fazer mais fé nenhuma. Como desmoralização pouca é bobagem, repito: “Pode escrever aí. Vamos virar com um gol do moleque”.
E tome-lhe pressão do Atlético. Então, Sêo Acácio diz. “Ô vidente. Num dá para você ver aí em sua bola de cristal que este jogo vai terminar empate, não, pois já seria um grande resulta…”
Antes de ele concluir a acomodada frase, pica-pau broca. Ele se ajoelha em minha frente – e diz: “Obrigado pai Franciel”.
A mulher do referido, que detesta futebol, desce as escadas gritando. A cachorra volta a latir. E a feder. A balbúrdia se restabelece.
Sêo Acácio, que é ligado ao candomblé, acredita que tenho realmente poderes paranormais. Oportunista, informou que sou frequentador do Ilê Axé Omin Odá (É óbvio que omiti que vou no terreiro muito de quando em vez). Sêo Acácio começa a me tratar como se eu fosse um paxá.
Cabelo de Pica-Pau faz o lançamento (assistência quem presta é a Samu), Ayrton bate o prego no caixão e eu ressuscito como herói nacional ou do Nordeste de Amaralina – o que dá no mesmo.
Por: Franciel Cruz
P.S. Alguns hereges céticos podem até afirmar (não sem razão) que o relato acima é apenas culhuda. Porém, apesar da descrença dos fariseus, repito o que disse Orson Welles: It’s all true.