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A dignidade na marca do pênalti. Por Franciel Cruz.

Vagando em seus delírios eletronicamente revolucionários, o menino William Burroughs propugnava (recebam um propugnava nos mamilos, fariseus) que a linguagem é um vírus do espaço exterior. E mais. Dizia que a linguagem só não tem sido reconhecida como tal porque atingiu um estado de simbiose estável com o humano/hospedeiro.

Porém, quando adentramos nas quatro linhas, meu querido beatnik, num tem estabilidade certa. A linguagem (virótica) se transmuta de modo feroz e vira uma verdadeira infecção generalizada até mesmo nos seres razoavelmente equilibrados.

Sim, amigos de infortúnios, a turba ignara exige um pronunciamento sobre a excelente fase do Esporte Clube Vitória, invicto faz seis rodadas, com um técnico que, finalmente, prestigia a gloriosa divisão de base e um time que joga com destemor diante de poderosos adversários, seja dentro ou fora de casa. Porém, ainda assim, retorno a esta impoluta tribuna para afirmar que não há motivos para rir à toa. E digo mais. É preciso cessar todas as precoces comemorações, pois outro valor mais alto se alevanta.

A gravíssima acusação de estupro contra jogadores do Esporte Clube Vitória tem que ser encarada com a seriedade que o assunto merece. É inadmissível o que está acontecendo. Um tema tão denso não pode ser debatido de modo irresponsável, tratado apenas como um Ba-Vi.

Hoje, de um lado do ringue, os adeptos do tricolor atacam os atletas do Vitória, propondo castigos medievais, sem ao menos saber quem deveria ser punido. Já do outro lado do front, a situação não é melhor. Alguns rubro-negros, digamos assim, moderados, sacam logo do coldre a síndrome de coitadismo e garantem que a notícia só ganhou as manchetes para prejudicar o Leão, “que sempre é perseguido”. Existe, contudo, uma parcela muito pior, que se utiliza dos mais abjetos e variados sofismas, travestidos de argumentos.

E tome-lhe perguntas capciosas do tipo. “Ah, mas o que ela foi fazer de madrugada no quarto de jogadores? Rezar?”. Outros, mais agressivos, nem se importam com perguntas, já partem direto para as mais baixas agressões. “Esta puta velha e feia quer apenas se promover às custas do Leão.

Por sua vez, a diretoria do Vitória, através do responsável pelo setor de futebol, Raimundo Queiroz, também entra na ciranda de forma completamente cambaleante. “É uma mulher querendo se aproveitar da situação. Ela viu os jogadores uniformizados e tal. Nem apareceu no andar, temos um andar só nosso. Ninguém a viu. Deve ser alguma mulher procurando alguma coisa ilícita. Tudo já foi esclarecido. Não houve problema nenhum.”

O problema, Raimundo, é que seu nome pode até fazer parte da rima, mas o que você fala está muito longe da solução. As coisas não estão esclarecidas. Nem para condenar, nem para inocentar os atletas. É óbvio que seu dever é defender o Clube que lhe paga, mas isso não lhe dá o direito de agredir ninguém, reproduzindo os mais vis preconceitos.

E, como não poderia deixar de ser, o festival de sandices que assola o debate atinge a cobertura da imprensa. Enquanto uns veículos de comunicação dão destaques à declaração desclassificante da própria amiga da mulher que fez a acusação, outros estampam fotos de jogadores de modo totalmente irresponsável.

O fato que fica claro em toda esta disputa é que, uma vez mais, as fundamentais questões que envolvem a dignidade humana resvalam para a mais mesquinha disputa clubística.

Por fim, peço perdão ao bardo beatnik para um longo cut-up auto-referencial. Às aspas, maestro:

“No Brasil, jogador de futebol em atividade pode cometer os mais diversos delitos que nada acontece. Estão acima da lei. Os boleiros daqui já confessaram relações perigosas com traficantes, cometeram homicídios no trânsito, brigaram em boates e em ambientes menos nobres, sonegaram impostos, praticaram o crime de racismo – e nada. No máximo, alguns impropérios ininteligíveis nas malditas mesas-redondas esportivas e tudo volta ao normal.

É óbvio que minha incurável superficialidade não me permitirá desenvolver uma análise abalizada sobre as causas de tão estranho e complacente fenômeno. Se ao menos possuísse uma vocação maior para o embromechion, chion, chion, poderia até inventar uma teoria sociológica de budega a la arnaldo jabor (desculpe-me pelo palavrão) e escrever devaneios do tipo: ‘Os guerreiros que participam das epopéias nos gramados, os dramáticos deuses da chuteira, estão acima das retrógradas legislações, pois são imortais e não podem ser julgados pelas leis comuns’. No entanto, como ainda possuo um tantinho assim de simancol, resta-me somente sacar do coldre o indefectível cepacol e bradar:

PUTAQUEPARIU TÃO NEFASTA IMUNIDADE!!!

E esta nefasta imunidade do grito acima começa a ser construída com as brincadeiras. Se o delinquente é de nossa equipe, já está perdoado por vestir o manto sagrado. Quando é do time adversário, fazemos chacota e coisas do gênero, mas não cobramos punição – até porque precisamos preservar a mística de que jogador de valor é aquele que foge aos padrões da (mal) dita normalidade”.


Por: Franciel Cruz

Texto escrito especialmente para o IMPEDIMENTO
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