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[Bahia 1 x 5 Vitória] CIVILIZAÇÃO (NA BAHIA) É BARBÁRIE. Por Franciel Cruz.

No auge da ditadura (se é que ditadura tem auge), quando a madeira gemia no lombo dos incautos em 18 idiomas, aqueles que, concomitantemente, amavam a subversão e o ludopédio viviam o seguinte dilema dos 600 DEMÔNHOS. Como torcer pela seleção brasileira se esta era usada pelo regime para inebriar o povo e amortecer qualquer ímpeto de mudança?

PUTAQUEPARIU A CONTRADIÇÃO!!!

Os mais ortodoxos, aqueles que acreditavam no surrado clichê de que o futebol era o ópio do povo, faziam pregações contra o time canarinho com um fervor da fazer inveja a Marcos Feliciano (que deus o tenha). Porém, quando a bola rolava nos gramados mexicanos, muitos chutavam Marx para escanteio e passavam a vibrar como o mais insano e alienado dos torcedores.

Mutatis mutandis (recebam um latinismo nos mamilos), este ingênuo e megalômano locutor também vivenciou, neste já histórico dia 7 de abril (o mais terrível dos meses para os tricolores. Chupa, T.S, Eliot), a horrenda dicotomia entre consciência político-social x futebol.

E as vastas emoções, os pensamentos imperfeitos, as muitas doses de canjebrinas e outras substâncias (ainda) não recomendadas pela Carta Magna martelavam meu maltratado juízo com os seguintes e impertinentes questionamentos: Por que diabos devo participar do pontapé inicial de uma história que tem como objetivo marcar de modo indelével o processo de elitização do futebol baiano? Por que porra vou gastar meu parco e quase suado dinheiro para financiar as empreiteiras que já enchem os bolsos com as seculares e tenebrosas transações? Por que devo ir a um estádio que tem nome de cerveja fuleira e sem álcool? E, pior de tudo: seria digno participar de uma festa estranha que não tem o mínimo de respeito com a memória daqueles que ali morreram tragicamente há pouco mais de cinco anos?

E, pra completar os maus presságios, o dia amanheceu nublado. E, meu amigo Henrique Dantas, autor do bom filme sobre os Novos Baianos (e futebol, é claro) ainda me mandou a seguinte e desalentadora mensagem: “Eu queria muito ter tido vontade de ir na Fonte Nova, mas não consegui ter essa vontade…Como posso ir para um lugar de pretenso primeiro mundo estando rodeado de quinto mundo? Hoje vai ser um desses dias que você preferiria que não acontecesse…. Poderíamos nesse momento estarmos dentro de uma outra realidade, numa cidade que respira, numa cidade que se circula, numa cidade que se educa, que se cuida…Imaginava e queria outra realidade, com os amigos lá, em peso, felizes, torcendo, vibrando… Phoda...

E a porra do ponteiro do relógio, que nunca para, já marcava meio-dia. E a angústia carcomendo. E fraquejei. E, contrariando minha ideologia, resolvi descaradamente descer a pirambeira rumo à velha/nova fonte. E, como traição pouca é bobagem, joguei o resto dos princípios na lata do lixo da história e me entreguei também à sanha dos vorazes cambistas. Morri em mais de 10% do salário mínimo.

Porém, num resquício de dignidade, decidi que só entraria no estádio depois que acabasse o show dos axezeiros e a bola fosse rolar. Queria apenas futebol – e não espetáculo para enganar turistas, otários e afins.


E foi assim, humilhado pelas grandezas de Pindorama, que, às 15h58, voltei a pisar no cimento sagrado – não sem antes desobedecer às instruções da moça que, inutilmente, tentava me informar que minha cadeira era para ser acessada pelo portão A, Setor Leste, no primeiro balcão à esquerda da puta que o pariu. Fiquei em pé nas escadas, praticamente na zona do agrião.

Aliás, aí começa uma nova/velha e boa história. Mantendo a tradição, ninguém no estádio, pelo menos onde estávamos, na Torcida Os Imbatíveis, usou as assépticas cadeiras. Todo mundo ficou em pé o jogo todo, gritando, vibrando, xingando e, novamente contrariando minha ideologia, até dançando.

Por falar em dança, o baile dentro do campo foi um dos mais humilhantes da história dos Ba x Vis. O tricolor até começou melhor, dando (lá ele) a impressão de que, finalmente, quebraria o jejum de quase 10 anos sem vencer o Vitória na Fonte Nova (A última vez foi em fevereiro de 2004. De lá pra cá são oito jogos sem sentir o inebriante gosto do triunfo).

No entanto, a casa começou a feder a homem quando o paraibano Renato Cajá marcou o primeiro gol do jogo, pouco depois dos 40 da etapa inicial. A partir de então, como diria o menino Bandeira, não vi mais nada, pois os céus se misturaram com a terra e o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.


Aliás, minto. Meninos, eu vi. Vi e entendi porque Messi é primo de Maxi – e não vice-versa. Que golaço antológico, sem pretensão, sem firula, sem pressa, sem chilique, apenas um toque para a criança cair dengosamente no barbante, como se estivesse dando um mergulho no Dique do Tororó.

PUTAQUEPARIU A CATEGORIA!!!

O terceiro gol, então, foi sacanagem. Dinei, Maxi e Michel se transformaram em cinco, incorporando os espíritos de Pelé, Coutinho, Dorval, Mengálvio e Pepe. Uma tabela infernal que contou com o auxílio luxuoso do goleiro Marcelo Lomba.

O Bahia descontou com Zé Roberto, que ontem fez o primeiro gol dele com a camisa tricolor, depois de mais de um ano e 42 partidas. Porém, nem houve tempo para comemoração. Menos de 10 minutos depois, Marquinhos e Vander (que ironicamente foi dispensando pelo Bahia por deficiência técnica), tais e quais uns raios da silibrina, seja lá que porra isto signifique, causaram um alvoroço na zaga e deixaram o tricolor de quatro. Escudero bateu o último prego no caixão.

E o jogo que tinha tudo para ser insosso, civilizado, transformou-se num bárbaro massacre. E este espírito contagiou as arquibancadas, onde, repito, ninguém ousou ficar sentado. Aliás, como não há mais alambrado, os jogadores Rubro-Negros resolveram vandalizar e, a cada gol, invadiam o espaço destinado à torcida, numa das mais belas e selvagens comemorações da história do Ludopédio desta província.


E disso tudo ficam três lições. Primeira. Quando o assunto for Ba x Vi, sempre contrarie sua ideologia.

Segunda: O atual time do Vitória mostrou que a melhor receita para burro banguela é milho seco. Assim, ou o sacana lasca gengiva ou morre de fome.

A terceira e fundamental lição é a seguinte. Depois do que aconteceu ontem, ficou claro que vai demorar muito tempo para que os canalhocratas consigam domesticar os torcedores baianos. Aqui, para o bem e para o mal, civilização ainda é barbárie.

Por: Franciel Cruz

* Texto escrito especialmente para o Impedimento

P.S 1 O Rubro-Negro Marighela foi o deputado que defendeu a construção da Fonte Nova.

P.S 2 A ImpedCorp havia me solicitado um texto bem humorado sobre a peleja. Porém, resolvi não atender por conta de meu espírito cristão, pois não posso, não quero, nem devo tripudiar sobre os fracos. Apenas registro que estou virado na porra com o Vitória. Como é que o Leão enfrenta um time horrível daquele e só mete CINCO?

P.S.3 Ah, sim. Segurem a cabecita de la madre porque Joel Santana, o homem que colocou o antológico apelido de sardinha no Bahia, está de volta para falar ingrês com Adivis. É, depois disso, o único jeito é continuar degustando uma caninha 51.
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