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O discreto charme de um campeão. Por Franciel Cruz.

A agradável noite de quase lua cheia, com temperatura de 26º, umidade de 83% e ventos soprando na velocidade de uma doce brisa, coisa de 16 Km/h, combinava com uma roda de chorinho – jamais com uma peleja que iria sacramentar o futuro campeão do Brasil.

Afinal, uma conquista no futebol só serve se for marcada pelo tom épico, com chuvas e trovoadas – pelo menos foi isso que, desde sempre, ensinaram ao torcedor de Pindorama. E ele, com o couro curtido pelas ancestrais e melodramáticas hipérboles narrativas, aprendeu que toda glória deve ser feita de sangue, suor e lágrimas.

Porém, esta equipe atual do Cruzeiro desafia todas as CNTPs do fútil e grandiloquente heroísmo. É somente uma ode às coisas simples da vida e do ludopédio, o que dá no mesmo. Apesar de toda esta discrição, ou talvez exatamente por causa dela, o time se tornou um gigante neste ano da graça de 2013. Um gigante sem a arrogância dos poderosos, mas que sabe mostrar sua força. Joga por música, por Chorinho. E Chorinho, amigos de botequim, é aquele tipo de composição que, quando está sendo executada, tem-se a inoxidável convicção de que nada de mau pode acontecer.

E assim é esta equipe celeste. Tal e qual o Choro, ela é leve, sincopada, feliz e nostálgica. Sim, nostálgica, pois nos remete para um primitivo tempo que provavelmente nunca existiu, mas no qual acreditamos piamente. Um tempo em que o futebol também podia ser louvado pela força do conjunto – e não somente pelo brilho individual de um craque que desequilibra. Aliás, por mais paradoxal que possa parecer, a melhor definição para esta equipe foi feita por um cracaço. Aspas para Tostão. “O craque é o coletivo”.

Ainda neste campo dicotômico entre a coletividade x estrelismo, vale destacar que todo o investimento do Cruzeiro na temporada saiu mais em conta, em todos os aspectos, do que a contratação de apenas uma vedete corintiana, Alexandre Pato. Outro dado relevante nesta questão financeira é que o Cruzeiro recebe 75 milhões a menos do que o time paulista. E mais. Circula a informação de que a partir de 2016, esta diferença subirá para R$ 110 milhões. Diante desta infâmia, resta a esperança de que a incompetência dos cartolas continue salvando o futebol brasileiro da espanholização.

Além desta insana luta contra a força da grana, que, no Brasil, mais destrói do que ergue coisas belas, o Cruzeiro teve que superar um outro obstáculo muito mais forte simbolicamente para conquistar a taça: aceitar como treinador um sujeito forjado no maior rival. Marcelo Oliveira, na cabeça de grande parte da torcida da Raposa, era um monstro, isto é, um símbolo do Galo, onde se tornou um dos maiores ídolos, fez mais de 100 gols e foi titular absoluto do timaço de 1977. Porém, o presidente Gilvan de Pinho Tavares decidiu apostar no absurdo, no improvável, mesmo enfrentando ameaças de morte.

Viu aí, minha comadre, que por trás das coisas simples também existem insondáveis dramas? E, se eu fosse um tanto mais cretino, começaria a falar da peleja propriamente dita lembrando que MEU FILHO é torcedor do Cruzeiro. Mas livrarei vossência dessa novela mexicana.

Vamos, portanto, falar de jangada, que é pau que bóia.

Seguinte. Pode parecer cabotinismo (e é), mas a verdade, esta menina traquina que nem sempre salva e liberta, é que, com a espetacular apresentação de ontem à noite, o Vitória conseguiu conferir mais dignidade à taça do time celeste – se é que isto é possível.

O Rubro-Negro começou a labuta partindo para cima do time mineiro como se não houvesse amanhã. E, de fato, não havia o day after. Tudo estava para ser decidido naquela noite de temperatura amena.

O fato é que, por bons e intermináveis 30 minutos, o Leão encurralou a Raposa, mas ora padeceu de pontaria e outras vezes tropeçou no ignóbil preciosismo. Então, num contra-ataque mortal, William, que estava num claro impedimento, seu bigode estava a exatos 12 cm na frente da zaga, mandou a criança para o barbante. Apesar do placar adverso, o Vitória continuou fungando no cangote do campeão, obrigando Fábio a demonstrar, pela 785ª vez, por que é o melhor goleiro do país.

(Pausa para o intervalo. Como é que é, minha comadre? Não acredita no que relatei? Então, recorra ao videoteipe, que, apesar de burro, poucas vezes mente).

Retornando. Antes de a bola voltar a rolar na etapa final, chega a notícia de que o Criciúma brocou o Atlético (PR) e o campeonato está decidido com quatro rodadas e meia de antecedência. Neste instante, ocorre um episódio que, a depender do narrador, pode ser considerado um ato de covardia ou de grandeza. Todas as almas angustiadas que estão no Baraquistão aplaudem de pé a merecida conquista do Cruzeiro. (Até o cineasta mineiro Gabriel Martins, que via a peleja no lado Rubro-Negro do estádio, abandonou o pudor e pode também aplaudir seu time).

A segunda etapa também começa sob o signo da chibança – seja lá que porra isto signifique. Porém, o fato é que, com a entrada do príncipe William Pica-Pau Henrique no Vitória, a casa mineira começou a feder a homem. Menos de cinco minutos, e ele deixou Dinei de cara com o crime. Brocança.

Apesar de inebriado pelo título, a Raposa voltou melhor no segundo tempo, deixando a peleja equilibrada. Porém, aos 23 minutos e 37 segundos, veio o lance capital que definiu a partida. Willian Henrique avançou pela direita e cruzou para Dinei, que arrematou de primeira no canto. A bola passou por Fábio, mas desviou na mão de algum fantasma (me recuso a acreditar que o goleiro tenha feito aquela defesa) e foi para a linha de fundo.

No lance seguinte, o Cruzeiro repetiu uma jogada muito manjada, mas nunca combatida. Fez uma troca de passe a la futebol de salão e Júlio Batista só não entrou de bola e tudo por causa do inquebrantável pudor mineiro. O Vitória ainda tentou uma reação, mas Fábio, o infame fantasma e o travessão impediram. O time celeste ainda teve tempo de repetir, uma vez mais, aquele gol imprevisível e ensaiado como uma bela composição de Chorinho.

Em outro tempos, em condições semelhantes, eu diria que faltou uma voadora no pescoço ou, ao menos, uma dedada para conferir o mínimo de dignidade à derrota Rubro-Negra. Mas, ontem, não. Assim que o sacana de amarelo e preto soprou o apito pela última vez, apesar de o time celeste ter mandado para escanteio o sonho libertador do meu Vitória, apenas aplaudi, discretamente, como o atual campeão merece.

Por: Franciel Cruz

P.S Nosso sonho libertador está no escanteio, mas ainda cabe um gol olímpico.
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