Os rubro-negros com mais de 30 anos não esquecem. Os mais novos se apegam nas histórias para sentir o mesmo orgulho. Há 20 anos, um time que mesclava recém-saídos das divisões de base e experientes, mas desconhecidos, surpreendia o Brasil e chegava à decisão do Campeonato Brasileiro de 1993.
Era o Vitória com seu uniforme diferente, com o vermelho e o preto se misturando em uma espécie de eletrocardiograma estampado no tempo, deixando claro que aquele time pulsava e jogava, acima de tudo, com o coração.
Era o Vitória com seu uniforme diferente, com o vermelho e o preto se misturando em uma espécie de eletrocardiograma estampado no tempo, deixando claro que aquele time pulsava e jogava, acima de tudo, com o coração.
O título não veio, mas a marca daquela equipe ficou para sempre na história do futebol brasileiro.
Um Vitória que fazia a festa começar na ladeira, como diz a melodia que virou hino da campanha. Não havia rubro-negro na cidade que não tivesse na ponta da língua os versos de ‘‘A festa já começa na ladeira. O sobe-desce, sobe-desce sem parar. A torcida rubro-negra está chegando. Vitória! Vitória! Faz mais um gol pra me alegrar. Olha a trajetória do Vitória. Cheia de glória. Cheia de glória. O povo deu a mão à palmatória. Só dá Vitória. Só dá Vitória”.
Duas décadas depois, o Vitória luta para novamente surpreender o país. A velocidade de Alex Alves reaparece nos pés de Marquinhos. O poder decisivo de Claudinho fica com Dinei. A elegância do meio-campo comandado por Roberto Cavalo retorna 20 anos depois nos pés de Escudero.
O exemplo e a receita para espantar o Brasil, o Vitória tem em casa. Assessor de imprensa do clube, o jornalista Roque Mendes é um dos milhões que não esquecem aquele time. Ele lembra o apelido que marcou época e vê coincidências entre a versão 93 e a 2013 do Leão da Barra.
- Lembro perfeitamente aquele time. Na época, eu era repórter no jornal Tribuna [da Bahia]. A equipe começou a ser formada dentro da competição, por Fito [Neves, técnico do time]. E foi apelidada de 'Brinquedo Assassino'. Quem apelidou foi o meu irmão, o narrador Silvio Mendes, e o apelido pegou. A Globo fez matéria e tudo - relembra Roque.
- Existe uma semelhança entre os times. O Dida estava começando. Rodrigo também. A dupla de zaga era mais experiente: João Marcelo e China. No meio, tinha o Gil Sergipano, que também era experiente, jogou no Bahia. Aí tinha os garotos: Paulo Isidoro, Vampeta e Alex Alves, que estava em grande forma. Na frente tinha o Pichetti e o Claudinho, um atacante gaúcho que fazia muito gol. Tecnicamente, ele não tinha nada demais. Mas fazia gol de tudo quanto era jeito. Era um time rápido, jovem, querendo alcançar o seu lugar ao sol – disse.
Criador do apelido do time que assombrou o Brasil, o narrador Silvio Mendes diz que a inspiração para o codinome surgiu a partir da forma com que o Vitória tratava os seus adversários: com a mesma frieza de um personagem dos cinemas, Chucky, o Brinquedo Assassino.
- Era um Vitória bem arrumado. Era um bom time, e dei o apelido porque o Vitória era como um demolidor do Nordeste. Era um time que derrubava quem chegasse. Aí, lembrando aquele filme, o Chucky, eu apelidei o time de Brinquedo Assassino – relembra o narrador.
- O Fito Neves deu uma boa formação àquele time. É um time que o Vitória nunca conseguiu repetir. Um time com Dida, Pichetti, Paulo Isidoro... Era o time mais ajustado no Norte-Nordeste. Quem chegava aqui na Bahia para enfrentar aquele Vitória se assustava. Prova disso é que o time chegou à decisão do Campeonato Brasileiro daquele ano – disse ao GloboEsporte.com.
Com a voz que embalou a campanha de 1993 e que embala a boa participação no Brasileiro de 2013, Sílvio vê semelhanças ‘não-radicais’ entre as duas equipes.
- No time de hoje, algumas peças lembram jogadores daquele time. Tinha o Pichetti, que era um jogador veloz. Hoje tem o Escudero com esse mesmo aspecto. Tem na defesa o Kadu, que lembra muito o João Marcelo, zagueiro daquele time de 93, que já tinha sido campeão brasileiro pelo Bahia em 1988. O time desta temporada tem um goleiro como o Wilson, que não supera um goleiro como Dida, mas lembra bem. Esse Vitória de hoje, até pelo técnico que tem e pela força de vontade, tem semelhanças não-radicais, mas que lembram aquele time. Por isso mesmo, acreditamos que esse Vitória pode chegar – diz Silvio, mostrando confiança na equipe de Ney Franco.
Outra testemunha das duas histórias, o assessor de imprensa do Vitória Roque Mendes vê na equipe de 2013 um time mais ‘cascudo’ e com mais qualidade individual. Com comparações entre atletas, o assessor de imprensa discorda do irmão narrador e vê o time atual como uma equipe superior ao time de 20 anos atrás.
- Não foi surpresa aquela campanha. Não, pela trajetória, pelo que o time foi fazendo ao longo do campeonato. A gente via que o time estava crescendo, bem ajustado. Defendia forte e saía em velocidade para o ataque, parecido com o de hoje. Só que os dois laterais da época eram mais jovens e mais rápidos. Hoje, Ayrton e Juan são mais experientes. Mesmo assim, você vê que o Juan é um cara muito inteligente, que tem um ótimo passe. Tinha também o Roberto Cavalo, que era o [Renato] Cajá da época. Agora tinha um jogador que era fundamental: Pichetti. Ele tinha o estilo de Escudero. Ele não aparecia para a torcida, mas era fundamental para o time. Era o jogador que dava o equilíbrio. Tanto que, quando ele recebeu o terceiro amarelo no primeiro jogo da final, eu até esmoreci – relembra.
- O time de hoje é mais experiente. Marquinhos, apesar de novo, já é rodado, assim como Dinei e [Maxi] Biancucchi. Juan não tem a mesma dinâmica de antes, mas sabe o que fazer com a bola. Jogador muito inteligente, que não erra passe. Individualmente, o time de hoje é melhor. Alex Alves, Isidoro, eram jogadores que estavam se firmando. Hoje, jogadores como Cajá e Escudero já são consagrados. O time de hoje é melhor – completa Roque.
Colunista do jornal Correio*, o jornalista Marcelo Sant’Ana lembrou do Brinquedo Assassino há poucos dias na sua coluna no diário baiano. Sant’Ana é outro que vê relação direta entre o Vitória de 93 e o time atual que luta por uma vaga no G-4.
- Parte do sucesso de Ney Franco tem explicação na história do Vitória. Há 20 anos, o perfil do torcedor do Vitória começou a mudar. Para melhor. É uma mudança recente para um clube com 114 anos, mas que tem sido fundamental no crescimento dos últimos anos. O time da transformação apareceu em 1993. Tem um nome inesquecível na história: “Brinquedo Assassino”. Era rápido, agressivo, ofensivo, intenso e compacto. Explorava ao extremo as virtudes da melhor geração já feita na Toca do Leão. [..] Quem é rubro-negro (e quem não é, mas gosta de futebol) não esquece: Dida; Rodrigo, João Marcelo, China e Renato Martins; Gil Sergipano, Roberto Cavalo e Paulo Isidoro; Alex Alves, Pichetti e Claudinho. Na época, a moda era escalá-lo no 4-3-3. Hoje, o moderno seria escalá-lo no 4-2-3-1. Mais do que essa distribuição de números, importa o resultado em campo – escreveu na coluna.
- O Vitória de Ney Franco e o Brinquedo Assassino de Fito Neves têm em comum a ambição pelo gol. Dão espaço, dão chances, mas não dão trégua ao adversário. São times com fome. Têm instinto e garras afiadas. São como todo torcedor gosta de ver – aponta Sant’Ana.
Após duas décadas, uma coisa é certa: o gingado veloz de Alex Alves, o passe certeiro de Paulo Isidoro, a liderança de Roberto Cavalo e o estilo ofensivo de Fito Neves seguem imprimindo sorrisos dos corações rubro-negros que não tiram da mente aquele sonho real vivido em 1993. Capricho da bola ou destino, é justamente um sonho real que move Ney Franco a acreditar na conquista de uma vaga para a Libertadores de 2014. Nas palavras do treinador, a conquista seria tão valiosa quanto um título. Portanto, como no feito de 20 atrás, é permitido sonhar. Se exemplo e inspiração não faltam, resta ao elenco atual do Vitória encarnar o espírito do Brinquedo Assassino e, sem medo de encarar os rivais, fazer dos seis últimos jogos, seis sonhos bem reais. (Eric Luis Carvalho / GloboEsporte)
Um Vitória que fazia a festa começar na ladeira, como diz a melodia que virou hino da campanha. Não havia rubro-negro na cidade que não tivesse na ponta da língua os versos de ‘‘A festa já começa na ladeira. O sobe-desce, sobe-desce sem parar. A torcida rubro-negra está chegando. Vitória! Vitória! Faz mais um gol pra me alegrar. Olha a trajetória do Vitória. Cheia de glória. Cheia de glória. O povo deu a mão à palmatória. Só dá Vitória. Só dá Vitória”.
Duas décadas depois, o Vitória luta para novamente surpreender o país. A velocidade de Alex Alves reaparece nos pés de Marquinhos. O poder decisivo de Claudinho fica com Dinei. A elegância do meio-campo comandado por Roberto Cavalo retorna 20 anos depois nos pés de Escudero.
O exemplo e a receita para espantar o Brasil, o Vitória tem em casa. Assessor de imprensa do clube, o jornalista Roque Mendes é um dos milhões que não esquecem aquele time. Ele lembra o apelido que marcou época e vê coincidências entre a versão 93 e a 2013 do Leão da Barra.
- Lembro perfeitamente aquele time. Na época, eu era repórter no jornal Tribuna [da Bahia]. A equipe começou a ser formada dentro da competição, por Fito [Neves, técnico do time]. E foi apelidada de 'Brinquedo Assassino'. Quem apelidou foi o meu irmão, o narrador Silvio Mendes, e o apelido pegou. A Globo fez matéria e tudo - relembra Roque.
- Existe uma semelhança entre os times. O Dida estava começando. Rodrigo também. A dupla de zaga era mais experiente: João Marcelo e China. No meio, tinha o Gil Sergipano, que também era experiente, jogou no Bahia. Aí tinha os garotos: Paulo Isidoro, Vampeta e Alex Alves, que estava em grande forma. Na frente tinha o Pichetti e o Claudinho, um atacante gaúcho que fazia muito gol. Tecnicamente, ele não tinha nada demais. Mas fazia gol de tudo quanto era jeito. Era um time rápido, jovem, querendo alcançar o seu lugar ao sol – disse.
Criador do apelido do time que assombrou o Brasil, o narrador Silvio Mendes diz que a inspiração para o codinome surgiu a partir da forma com que o Vitória tratava os seus adversários: com a mesma frieza de um personagem dos cinemas, Chucky, o Brinquedo Assassino.
- Era um Vitória bem arrumado. Era um bom time, e dei o apelido porque o Vitória era como um demolidor do Nordeste. Era um time que derrubava quem chegasse. Aí, lembrando aquele filme, o Chucky, eu apelidei o time de Brinquedo Assassino – relembra o narrador.
- O Fito Neves deu uma boa formação àquele time. É um time que o Vitória nunca conseguiu repetir. Um time com Dida, Pichetti, Paulo Isidoro... Era o time mais ajustado no Norte-Nordeste. Quem chegava aqui na Bahia para enfrentar aquele Vitória se assustava. Prova disso é que o time chegou à decisão do Campeonato Brasileiro daquele ano – disse ao GloboEsporte.com.
Com a voz que embalou a campanha de 1993 e que embala a boa participação no Brasileiro de 2013, Sílvio vê semelhanças ‘não-radicais’ entre as duas equipes.
- No time de hoje, algumas peças lembram jogadores daquele time. Tinha o Pichetti, que era um jogador veloz. Hoje tem o Escudero com esse mesmo aspecto. Tem na defesa o Kadu, que lembra muito o João Marcelo, zagueiro daquele time de 93, que já tinha sido campeão brasileiro pelo Bahia em 1988. O time desta temporada tem um goleiro como o Wilson, que não supera um goleiro como Dida, mas lembra bem. Esse Vitória de hoje, até pelo técnico que tem e pela força de vontade, tem semelhanças não-radicais, mas que lembram aquele time. Por isso mesmo, acreditamos que esse Vitória pode chegar – diz Silvio, mostrando confiança na equipe de Ney Franco.
Outra testemunha das duas histórias, o assessor de imprensa do Vitória Roque Mendes vê na equipe de 2013 um time mais ‘cascudo’ e com mais qualidade individual. Com comparações entre atletas, o assessor de imprensa discorda do irmão narrador e vê o time atual como uma equipe superior ao time de 20 anos atrás.
- Não foi surpresa aquela campanha. Não, pela trajetória, pelo que o time foi fazendo ao longo do campeonato. A gente via que o time estava crescendo, bem ajustado. Defendia forte e saía em velocidade para o ataque, parecido com o de hoje. Só que os dois laterais da época eram mais jovens e mais rápidos. Hoje, Ayrton e Juan são mais experientes. Mesmo assim, você vê que o Juan é um cara muito inteligente, que tem um ótimo passe. Tinha também o Roberto Cavalo, que era o [Renato] Cajá da época. Agora tinha um jogador que era fundamental: Pichetti. Ele tinha o estilo de Escudero. Ele não aparecia para a torcida, mas era fundamental para o time. Era o jogador que dava o equilíbrio. Tanto que, quando ele recebeu o terceiro amarelo no primeiro jogo da final, eu até esmoreci – relembra.
- O time de hoje é mais experiente. Marquinhos, apesar de novo, já é rodado, assim como Dinei e [Maxi] Biancucchi. Juan não tem a mesma dinâmica de antes, mas sabe o que fazer com a bola. Jogador muito inteligente, que não erra passe. Individualmente, o time de hoje é melhor. Alex Alves, Isidoro, eram jogadores que estavam se firmando. Hoje, jogadores como Cajá e Escudero já são consagrados. O time de hoje é melhor – completa Roque.
Colunista do jornal Correio*, o jornalista Marcelo Sant’Ana lembrou do Brinquedo Assassino há poucos dias na sua coluna no diário baiano. Sant’Ana é outro que vê relação direta entre o Vitória de 93 e o time atual que luta por uma vaga no G-4.
- Parte do sucesso de Ney Franco tem explicação na história do Vitória. Há 20 anos, o perfil do torcedor do Vitória começou a mudar. Para melhor. É uma mudança recente para um clube com 114 anos, mas que tem sido fundamental no crescimento dos últimos anos. O time da transformação apareceu em 1993. Tem um nome inesquecível na história: “Brinquedo Assassino”. Era rápido, agressivo, ofensivo, intenso e compacto. Explorava ao extremo as virtudes da melhor geração já feita na Toca do Leão. [..] Quem é rubro-negro (e quem não é, mas gosta de futebol) não esquece: Dida; Rodrigo, João Marcelo, China e Renato Martins; Gil Sergipano, Roberto Cavalo e Paulo Isidoro; Alex Alves, Pichetti e Claudinho. Na época, a moda era escalá-lo no 4-3-3. Hoje, o moderno seria escalá-lo no 4-2-3-1. Mais do que essa distribuição de números, importa o resultado em campo – escreveu na coluna.
- O Vitória de Ney Franco e o Brinquedo Assassino de Fito Neves têm em comum a ambição pelo gol. Dão espaço, dão chances, mas não dão trégua ao adversário. São times com fome. Têm instinto e garras afiadas. São como todo torcedor gosta de ver – aponta Sant’Ana.
Após duas décadas, uma coisa é certa: o gingado veloz de Alex Alves, o passe certeiro de Paulo Isidoro, a liderança de Roberto Cavalo e o estilo ofensivo de Fito Neves seguem imprimindo sorrisos dos corações rubro-negros que não tiram da mente aquele sonho real vivido em 1993. Capricho da bola ou destino, é justamente um sonho real que move Ney Franco a acreditar na conquista de uma vaga para a Libertadores de 2014. Nas palavras do treinador, a conquista seria tão valiosa quanto um título. Portanto, como no feito de 20 atrás, é permitido sonhar. Se exemplo e inspiração não faltam, resta ao elenco atual do Vitória encarnar o espírito do Brinquedo Assassino e, sem medo de encarar os rivais, fazer dos seis últimos jogos, seis sonhos bem reais. (Eric Luis Carvalho / GloboEsporte)