Vejamos essas “manchetes” feitas por mim:
“Jogador escorrega e perde pênalti na decisão de título inédito.” (Terry – chelsea final da champions contra o maior rival – tem 30 anos, é jogador da base e ídolo do time).
"Jogador esnoba time, exige aumento e ameaça sair". (Rooney – manchester united, em 2010).
“Time nordestino aumenta ingresso para 100,00 para “incentivar” adesão ao plano de sócio-torcedor.” (ceará x coritiba).
“Goleiro que já havia tomado de 7, há 8 anos, leva 6 gols.” (Marcos – Copa do Brasil – está no time há 19 anos e continua ídolo).
“Goleiro falha em decisão de título inédito.” (Marcos – mundial de clubes 99).
“Goleiro falha na final e time perde bicampeonato e quarto título.” (Ceni – Libertadores 2006 – está no clube há 21 anos e continua ídolo).
“Há 7 anos sem título, time perde para equipe quase rebaixada, com falha do goleiro.” (arsenal x birmingham -final da Copa da Liga Inglesa – e o técnico está no cargo há 15 anos).
Já pensaram se o time a que esses fatos se referem fosse o Vitória?
Com certeza, Terry, Rooney, Marcos e Ceni já não estariam mais no time. Seriam chamados de “carniças”, “pipoqueiros”, “mercenários”, “mãos de alface” e outros adjetivos menos dignos.
Já imaginou se Rooney dissesse que não queria mais jogar no Vitória? Com certeza, ouviria aquele “coro” com palavras de baixo calão, como Bida, em Camaçari.
Com certeza, Wenger não passaria 7 anos sem títulos, no time do Vitória.
O Vitória, se perder ou empatar para um time “pequeno” é motivo para a torcida pedir a saída do time inteiro. Se fosse numa Copa do Brasil e tivéssemos um jogador que já foi o Melhor do Mundo, aí, então, é que o mundo viria abaixo.
E se o Vitória cobrasse R$100,00 numa semi-final de Copa do Brasil, alegando que queria “incentivar” o aumento do número de sócios? A galera iria tachar o clube de mercenário, de explorar o torcedor no momento da decisão. (Só para lembrar, no ano passado, o ingresso da semi contra atl -GO foi R$40,00, a inteira).
E, é claro, ninguém iria pensar em se associar. “Ser sócio? Isso é um absurdo! Só vou ser sócio quando o Vitória estiver na Libertadores – e na final!”
Não vale dizer que usei exemplos de times ingleses bem sucedidos, endinheirados…. Afinal, flamengo, palmeiras e são paulo não são exemplos de times com boa situação financeira.
Estou falando de outra coisa. Estou falando de investir nos jogadores e técnicos e ter paciência para colher os resultados. Há 25 anos, quando Ferguson assumiu o united, o time estava num enorme jejum de títulos e ele ficou 6 anos sem vencer o campeonato.
Ah! Mas o Vitória tem pressa… o Vitória não pode apostar no futuro pois o seu torcedor, brasileiro como é, quer tudo para ontem. O menino da base entrou no jogo? Tem que jogar muuuuito. Tem que arrebentar SEMPRE. Não pode falhar NUNCA! Gente, alguém aí tem filhos de 18, 19 anos? Alguém aí já teve 18, 19 anos? Não me venham com Pelé, Neymar e Messi, pois estou falando de jogadores normais.
Estou falando de admiração e respeito pelos ídolos. Acho que nenhum jogador deve estar acima do clube, mas a relação jogador/ torcida tem que ser diferente da relação jogador/direção. Beckham brigou com o técnico, foi embora e continua ídolo do united, inclusive foi ovacionado no Old Trafford, em partida da Champions, jogando pelo milan.
Quem lembra do coro dos corinthianos (“volta, Casão, seu lugar é no timão”) para Casagrande, num corinthians e flamengo, no Pacaembu?
Alguém acha que o cara esquece torcidas como essas? É claro que aquele time vai ter sempre um significado especial na vida dele. E, com certeza, devem ter sentido uma pontinha de arrependimento por não estarem “do outro lado”.
Por que nossos “ídolos” aceitam jogar no rival?
Sabem quando Marcos ou Ceni jogarão no corinthians? NUNCA!
Sabem quando Wladimir jogaria no palmeiras? NUNCA!
Será que há, ou houve, verdadeiros ídolos no Vitória? O que vejo são jogadores que vestiram nossa camisa, fizeram sucesso (ou não), foram embora e, simplesmente, fizeram questão de esquecer que passaram por aqui.
É claro que deve haver exceções. Afinal, elas existem em toda regra. Temos os casos de David Luiz e Hulk que, por enquanto, não renegam as cores rubro-negras. Mas, também, eles não ficaram aqui tempo suficiente para ser chamados de “carniça” pelo torcedor. (Alguém viu aquele gol do united no último jogo contra o chelsea, aos 40 segundos, quando o time de Londres praticamente entregou a taça para o rival, com uma “pequena” falha do “nosso” zagueiro? Imagina se fosse com o Vitória… imaginou?)
No Vitória, o ídolo vira vilão da noite para o dia. E os que não são vilipendiados são, simplesmente, esquecidos. Os que vão ao estádio prestigiar o time não são reconhecidos. Não há um painel no estádio expondo o perfil dos ídolos para o torcedor nunca esquecer de Agnaldo, França, Osny, André Catimba, Mario Sérgio, Alex Alves, Romenil, Dida, Nílson, Juvenal, Índio, Didico, Ricky e tantos outros.
O futebol precisa de ídolos. Por que só o Vitória os despreza?
Esquecemos o passado, e, no presente, espezinhamos o sujeito o mais que podemos, o chamamos por “nomes” antes só reservados aos rivais.
Por que será que isso acontece?
Pensando sobre isso, me lembrei de uma propaganda de biscoito que lançava a dúvida: é mais fresco porque vende mais ou vende mais porque é mais fresco? Tenho uma dúvida semelhante em relação aos nossos “ídolos”.
Será que somos facilmente esquecidos pelos ídolos porque eles são ingratos e nos abandonam para abraçar outras torcidas, ou somos nós que esquecemos e desprezamos nossos ídolos e os empurramos para os braços de outras torcidas?
Não acho que um jogador deva ficar a vida toda em um só clube. Hoje, isso é cada vez mais raro.
O que me incomoda é que nossos jogadores saem do clube e não levam o time, nem a torcida no coração.
Mas, no meu coração de torcedora rubro-negra, sempre haverá lugar para nossos ídolos e Viáfara é um deles.
Por: Teresa Ribeiro