O volante rubro-negro Michel é o entrevistado da semana do BahiaNotícias, pelo jornalista Maurício Naiberg. O jogador fala sobre o início de sua carreira, o tempo que passou no Ceará (5 anos) e a sua chegada ao Vitória.
No rubro-negro baiano Michel tem contrato até o final de 2013, nesse período ele espera repetir o bom desempenho que teve no time cearense e fazer sua história no clube: "O jogador tem que fazer a história dele e para isso tem que trabalhar diariamente, focando nos objetivos e ajudar a equipe" - disse.
No rubro-negro baiano Michel tem contrato até o final de 2013, nesse período ele espera repetir o bom desempenho que teve no time cearense e fazer sua história no clube: "O jogador tem que fazer a história dele e para isso tem que trabalhar diariamente, focando nos objetivos e ajudar a equipe" - disse.
Bahia Notícias: Michel, conte um pouco sobre seu início de carreira.
Michel: Estou com trinta anos ainda, mas comecei tarde no futebol, com 22 anos. Trabalhei cinco anos na TV Gazeta de São Paulo, dos 17 aos 22, e aí comecei a jogar. Lá tem um campeonato amador, chamado Copa Kaiser, e teve um treinador que me viu jogando, junto com outro irmão, que também joga, e mais oito jogadores. Ele gostou da gente e nos disse que seria treinador no interior de Sergipe e perguntou se estávamos com vontade de jogar futebol. Falei que estava. Já não tava mais trabalhando, sem emprego, só fazendo bico. Comecei como Office boy e fui subindo de cargo. Trabalhei no jornalismo, na área da redação, depois para o jornal impresso, a Gazeta Esportiva, um jornal bem antigo de São Paulo. Depois trabalhei na TV, no merchandising e o último cargo que tive foi na internet, na área de publicidade e propaganda. Teve ano que estava meio complicado e os caras me mandaram embora. Estava sem trabalhar e teve esse convite. O treinador gostou e o meu sonho sempre foi ser jogador de futebol. Arrumei minhas coisas, falei com minha mãe, que deixou, peguei minhas coisas e fui embora para Sergipe. Eu, meu irmão e mais oito que conhecia, e foi lá que comecei a jogar, onde estou até hoje.
Bahia Notícias: Como foi esse período no futebol sergipano?
Michel: No começo foi meio complicado. O primeiro ano morando sozinho, independente e ganhando duzentos e cinquenta reais, que é uma ajuda de custo. Então, foi complicado esse início, estar longe da família, mas o objetivo era sempre ser jogador de futebol, independente se ganhava duzentos e cinquenta reais, cem reais. Meu pensamento era ser visto e comecei em uma equipe intermediária, que era o Riachuelo Futebol Clube, em uma cidade pequena, de quinze mil habitantes, jogando um estadual da primeira divisão. Atuei em dezoito partidas e meu irmão foi artilheiro da competição e o time quase cai para a segunda divisão, para você ter uma ideia. Depois desse campeonato o pessoal começou a olhar. Fui jogar no Boca Júnior de Cristinópolis, divisa com a Bahia, depois Confiança, na capital, e depois o Sport, onde fiquei um ano, em 2006. Do Sport, fui para o Ceará, onde fiquei cinco anos, dedicados ao clube, aí teve a negociação com o Vitória.
Bahia Notícias: Em 2006, você seguiu para o Sport, sua primeira grande oportunidade. Porque não deu continuidade no clube, seguindo para o Ceará em seguida?
Michel: Eu cheguei ao Sport na Série B deste ano, porque disputei o Sergipano em 2006 e eleito um dos melhores volantes de novo. O Sport havia conquistado o estadual neste ano e eu cheguei na Série B na segunda rodada. O treinador era até Dorival Júnior, na época. O time já estava formado o ano todo, tinha uma base do estadual também. Cheguei na Série B e o time, de 38 rodadas, só ficou de fora duas do G4. O grupo estava formado, mas sempre entrava ou sentava no banco de reservas, por conta da longa duração do campeonato, contusão de jogadores. Em 2007, fui emprestado ao Ceará e tiveram algumas mudanças lá. Chegou um treinador que queria os jogadores dele. Como tinha contrato de três anos no Sport, eles me emprestaram e fiquei cinco anos no Ceará.
Bahia Notícias: No Vovô, você é considerado um dos maiores ídolos da história recente do clube. Como começou esse amor todo da torcida alvinegra por você?
Michel: Fiquei cinco anos dedicados no clube. Quando eu cheguei em 2007, para você ver, joguei, machuquei. No começo sempre é complicado se adaptar ao clube. Quando eu cheguei aqui no Vitória, falei que a adaptação não vem logo. Tem que conhecer o clube, a filosofia de trabalho do treinador, a cidade, enfim, todos os aspectos. E no Ceará foi a mesma coisa. Passei o ano de 2007 entrando, no banco, jogando. Foi em 2008 que me firmei mesmo. Tinha um treinador lá, o Dimas Fonseca, que tem mais de quarenta anos de clube e conhece tudo na palma da mão, sempre conversava comigo, me dando apoio, mandando eu não baixar a cabeça, porque a oportunidade viria. Quando ele assumiu, me colocou como primeiro volante de marcação e foi aí que me firmei mesmo como titular. Joguei direto em 2008 e desde quando ele entrou e assumiu não sair mais. E o torcedor, por gostar do meu estilo de jogo, de não desistir nunca, a dedicação nos treinos. Sempre me dediquei nisso. Os jogadores brincavam comigo, porque no dia seguinte a um jogo era regenerativo, e todos sempre davam aqueles dez minutos de trote, mas eu sempre abria a passada. E não é diferente até hoje. Eu treino para ficar bem e não para meu companheiro, porque tenho que ajudar meu companheiro quando ele precisar. Essa dedicação, a raça e a vontade me tornou para o torcedor o Michel Guerreiro. Fico feliz pelo apelido e a raça que tenho dentro de campo. As pessoas me falam que não dou um sorriso dentro de campo, mas no meu serviço dentro de campo é difícil. Quando eu entro em campo é só para vencer. Só foco neste momento. Durante os noventa minutos é ajudar o torcedor, o companheiro, me dedicar ao máximo, depois do apito final, claro, abrimos um sorriso e brincamos, mas na hora de trabalho é trabalho.
Bahia Notícias: Depois de cinco anos com a camisa cearense, você resolveu mudar de ares. Era o momento mesmo?
Michel: É difícil um jogador no Brasil ficar cinco anos no clube. Eu como volante, com quase trezentos jogos com a camisa do Ceará, cinco anos no clube, é meio complicado. Foram cinco anos de dedicação. Aí você tem essa mudança e vem para o Vitória. Muda de cidade, ambienta, estrutura totalmente diferente. Então, a gente vem e tenta se adaptar o mais rápido possível. Infelizmente o time caiu para a Série B no ano passado e aí teve uma reformulação lá. Tanto que estava o Geraldo, que passou aqui, Fabrício, zagueiro, eu, e outros jogadores, que formavam uma base de três ou quatro anos juntos. Aí teve essa oportunidade da gente sair e o Ceará reestruturar a equipe. Teve esse convite do Vitória, que entrou na negociação. Cheguei aqui com o mesmo pensamento de ajudar o grupo, a torcida e a diretoria. Estou buscando meu espaço devagar. Aqui tem excelentes jogadores na minha posição. Sempre joguei contra Uelliton, Neto Coruja, então, meu pensamento é esse. Tenho dois anos de contrato para me dedicar aos treinos, como sempre fiz, nos jogos, ajudando a equipe para fazer minha história aqui também.
Bahia Notícias: E como foi a negociação? Quando surgiu o nome do Vitória, o que pensou?
Michel: Não pensei tanto. O Vitória é um clube grande, com uma excelente torcida, de massa, e independente de jogar Série A ou B, o jogador tem que estar feliz. Se eu estivesse aqui infeliz, não viria para cá. O jogador tem que atuar no clube feliz. Quando você entra para treinar tem que estar feliz. Não adianta entrar triste, com problemas familiares, pois essa parte temos que deixar de fora. Quando teve o convite eu falei que aceitaria, pois seria mais um desafio para mim. Quero conquistar meu espaço no Vitória e no Ceará sei que deixei uma grande história lá, feliz, de várias vitórias, e derrotas também, mas de alegrias. Cheguei ao Vitória para fazer história. Passaram tantos jogadores de nome aqui e meu pensamento é focar nesses próximos dois anos e fazer um belo trabalho aqui, além de ser reconhecido. Aqui tem Uelliton, Neto Coruja, Neto Baiano e Vanderson, que passou pelo clube. Joguei contra ele. Era o Pitbull o apelido dele aqui. Quero fazer minha história aqui também, não comparando com a do Vanderson, que é um excelente jogador. Nós respeitamos a história de todos esses. O jogador tem que fazer a história dele e para isso tem que trabalhar diariamente, focando nos objetivos e ajudar a equipe.
Bahia Notícias: Você começou a temporada abaixo do esperado e até ficou no banco de reservas em alguns jogos. Mas agora é titular absoluto. O que foi mais difícil nessa adaptação ao novo clube, campeonato e torcida?
Michel: Como você bem citou. Tenho trinta anos e já sou um cara experiente. Tem diferenças do Baiano para o Cearense, mas é tudo disputado da mesma forma. No começo eu cheguei e não estava na minha melhor forma física e eu não estou ainda. Eu me conheço. Sou um cara que me cobro muito, pois sei do meu potencial. No começo foi difícil essa adaptação. Quando você chega em um clube novo, para se adaptar, brincar com o professor e os meninos aqui, então demoramos um pouco. No começo também nosso time estava tropeçando e devido as mudanças dificultou. Mudou muito a equipe e houve muitas experiências. Foi difícil repetir uma escalação, devido a contusão, suspensão e professor querer trocar para dar ritmo a todo mundo. Hoje em dia isso é complicado. Vamos citar o Santos. Todo mundo no time já se conhece e sabe como o outro joga. Para você adquirir ritmo de jogo tem que estar em campo. Para você conhecer o companheiro, tem que jogar sempre com ele. Eu e Uelliton já jogamos bastante juntos. Já conheço Uelliton e ele me conhece. Conheço o Pedro Ken, que conhece o Geovanni, então já tem uma forma de jogar. Já conhecemos como o jogador gosta de receber o passe. Se é um Rildo ou Marquinhos, eles gostam de receber na frente, pois são atletas de velocidade. Então, devido a essas mudanças, nossa equipe não encaixou no primeiro turno. No segundo, tivemos uns tropeços, mas sabíamos que o objetivo era ser campeão e estaríamos na final. Aconteceu de empatarmos os jogos da final, mas faz parte do futebol. No começo foi complicado. Demorou um pouco para entrarmos no ritmo. Agora acho que todos se conhecem. Na Série B temos que jogar desta maneira.
Bahia Notícias: Você falou em mudança de treinador e jogadores. Como você encarou a mudança de Cerezo para Ricardo Silva na época?
Michel: Fora de campo não teve muita, pois continuamos brincando um com o outro todos os dias, na concentração. Já dentro de campo teve mudança. Pedro Ken está jogando mais na frente com Geovanni. Neto Baiano já tem Tartá como companheiro. Eu e Uelliton estamos mais fixos, mais presos, recuado mais na marcação. Antigamente, com Cerezo, chegávamos muito ao ataque e o volante do lado contrário entrava na área para fazer gol, tanto é que eu fiz gol, Uelliton também. Ali atrás ficávamos meio expostos. Na minha visão, a mudança ficou com a parte dos volantes, que passaram a marcar mais os meias. Antigamente o volante pegava o volante. Nós tínhamos que sair para dar o combate ao volante. Hoje em dia se jogar um meia nas minhas costas e se não marcar, destrói totalmente a defesa. Hoje em dia, o futebol se constrói no meio de campo. Se você ganha o meio de campo, provavelmente vai ganhar o jogo. Agora, se perder o meio de campo, a zaga fica exposta, tomando contra-ataque.
Bahia Notícias: Até 2009 o Vitória tinha Vanderson, chamado de Pitbull pela torcida e você tem praticamente as mesmas características dele. Está surgindo um novo Pitbull ou "Michel Guerreiro" está bom?
Michel: Tinha o Vanderson Pitbull em 2010, mas quero fazer minha história no Vitória. Quero me esforçar ao máximo nos treinamentos e jogos para ajudar o clube. Se tiver outro apelido, seja qual for, vou ficar feliz, porque sei que vai ser escolhido de coração. Não adianta escolhermos. Se eu fizer meu papel bem feito aqui no Vitória e for reconhecido, o torcedor vai ver. Não ligo para apelido, pois esse é o carinho do torcedor que se identifica com o jogador. Acho que o meu caso não é diferente e bem parecido com o do Vanderson, que sempre lutou, marcou e nunca desistiu. Se tiver outro apelido, para mim tanto faz, pois vou ficar feliz do mesmo jeito.
Bahia Notícias: O que achou dos clássicos contra o Bahia. Diferente do Fortaleza e Ceará?
Michel: Vou te falar, viu? Ba x Vi... Passei cinco anos no Ceará e disputei vários clássicos com o Fortaleza. A emoção é grande e aqui não é diferente, mas Bahia e Vitória tem uma tradição enorme. O jogador brinca que esses são os jogos bons de estar em campo, porque as duas equipes buscam o gol e você consegue jogar. Difícil é jogar com time considerado pequeno. Você jogar contra Juazeirense, Icasa e outros de menor expressão é complicado. Eles jogam como se fosse uma final, dando um gás os noventa minutos, porque eles querem ganhar da gente e mostrar que podem estar em um clube grande. Não é tão simples vencer uma equipe do interior. É televisão, todo mundo vai ver, jogar contra Vitória ou Bahia, então eles marcam mesmo e dão a vida. Clássico é decidido em detalhes. As equipes deixam jogar, todo mundo quer ganhar, tem muitos contra-ataques. É mais gostoso jogar um clássico.
Bahia Notícias: O principal objetivo do Vitória é subir para a primeira divisão. Mas o grande sonho da torcida é conquistar a Copa do Brasil, que bateu na trave em 2010. O grupo está focado nisso?
Michel: O foco, sem dúvida nenhuma, era ser campeão baiano, mas não conseguimos e é passado já. Estamos em uma competição como a Copa do Brasil que todos gostam de jogar e essas partidas de quartas de finais, com televisão transmitindo, são sempre boas. A Série B não podemos deixar de lado, porque o objetivo do grupo é subir para a primeira divisão, que é o mais importante. A Copa do Brasil é um tiro curto. A Série B podemos mesclar, mas não deixando de lado, porque se isso acontecer, para correr atrás depois é difícil. Nós temos que focar nas duas competições. Agora é o Coritiba, que é uma fase de quartas de finais. É um torneio curto. Temos que ir em busca dessa competição, porque, vencendo ela, vamos jogar uma Libertadores. Temos também que começar bem a Série B para comemorarmos no final do ano o acesso. O Vitória não pode estar na Série B. Não existe isso.
Bahia Notícias: Essa perda do título estadual pode significar alguma coisa para o restante da temporada?
Michel: Ninguém gosta de perder um título, mas a equipe jogou bem, lutou até o fim, fez três gols, tomou três também. O importante é que a equipe saiu de campo com a cabeça erguida. Dentro do vestiário estava todos apoiando um ao outro, incentivando a galera. Não fomos dominados pelo Bahia. Jogamos muito bem e isso é um detalhe do futebol. Infelizmente não conseguimos fazer uma melhor campanha no primeiro turno e eles tiveram uma vantagem. Claro que para dormir depois de uma derrota dessas é complicado. No dia seguinte ficamos lembrando a final, mas o futebol é dinâmico e não vai parar. O bom do futebol é que na quarta-feira tem como reverter isso. O mundo da bola fica girando.
Bahia Notícias: Você tem 30 anos e é jovem ainda, mas já pensa em fazer uma história aqui no Vitória e encerrar a carreira com a camisa rubro-negra?
Michel: Estou com trinta anos e já penso nisso, mas não quero parar agora não (risos). Sou um cara que me dedico e me cuido bastante. Já não sou mais um menino. Tem momentos aqui que a gente cadencia. Hoje em dia a meninada sente um pouquinho, acha que dá para continuar, e aí que arrebenta de vez. Hoje em dia o principal é você se cuidar fora de campo. Jogador que se cuida fora de campo, a carreira dele se estende por muito tempo. Estou com 30, mas quero jogar até uns 38. Eu convivi muito com uma pessoa que é um pai, um irmão, um cara super gente boa, que é o Geraldo, que tem 38 anos e não foge de treino. Ele é o primeiro a chegar e o último a sair. Na época do Ceará tinha preparador físico que pedia para ele sair de campo, tirava ele dos treinos. Claro que com 38 anos você não é mais a mesma coisa, mas não é de fugir do pau. Ele sempre treinou forte e se cuida. Me espelho nele. Quero fazer minha história aqui. Quem sabe cinco, oito anos? Hoje não sou casado, mas quem sabe se daqui a oito anos não estou casado, com filhos. Vou contar a eles que joguei no Ceará, no Vitória e teve uma história linda nos dois clubes.
Bahia Notícias: O que a torcida do Vitória pode esperar da equipe nestas duas últimas competições que restam nesta temporada?
Michel: A torcida pode esperar que estamos trabalhando focados. Não desanimamos por conta da perda do título. Vamos lutar e fazer do Barradão um caldeirão. Temos que vencer todas no Barradão com o apoio do torcedor, lutando até o fim. O grupo está focado e tem jogadores experientes. Podem ter certeza que o grupo estará focado para vencer as duas competições. O Vitória entra para vencer sempre. Espero que a gente corresponda dentro de campo para trazer o torcedor para o Barradão.
Michel: Estou com trinta anos ainda, mas comecei tarde no futebol, com 22 anos. Trabalhei cinco anos na TV Gazeta de São Paulo, dos 17 aos 22, e aí comecei a jogar. Lá tem um campeonato amador, chamado Copa Kaiser, e teve um treinador que me viu jogando, junto com outro irmão, que também joga, e mais oito jogadores. Ele gostou da gente e nos disse que seria treinador no interior de Sergipe e perguntou se estávamos com vontade de jogar futebol. Falei que estava. Já não tava mais trabalhando, sem emprego, só fazendo bico. Comecei como Office boy e fui subindo de cargo. Trabalhei no jornalismo, na área da redação, depois para o jornal impresso, a Gazeta Esportiva, um jornal bem antigo de São Paulo. Depois trabalhei na TV, no merchandising e o último cargo que tive foi na internet, na área de publicidade e propaganda. Teve ano que estava meio complicado e os caras me mandaram embora. Estava sem trabalhar e teve esse convite. O treinador gostou e o meu sonho sempre foi ser jogador de futebol. Arrumei minhas coisas, falei com minha mãe, que deixou, peguei minhas coisas e fui embora para Sergipe. Eu, meu irmão e mais oito que conhecia, e foi lá que comecei a jogar, onde estou até hoje.
Bahia Notícias: Como foi esse período no futebol sergipano?
Michel: No começo foi meio complicado. O primeiro ano morando sozinho, independente e ganhando duzentos e cinquenta reais, que é uma ajuda de custo. Então, foi complicado esse início, estar longe da família, mas o objetivo era sempre ser jogador de futebol, independente se ganhava duzentos e cinquenta reais, cem reais. Meu pensamento era ser visto e comecei em uma equipe intermediária, que era o Riachuelo Futebol Clube, em uma cidade pequena, de quinze mil habitantes, jogando um estadual da primeira divisão. Atuei em dezoito partidas e meu irmão foi artilheiro da competição e o time quase cai para a segunda divisão, para você ter uma ideia. Depois desse campeonato o pessoal começou a olhar. Fui jogar no Boca Júnior de Cristinópolis, divisa com a Bahia, depois Confiança, na capital, e depois o Sport, onde fiquei um ano, em 2006. Do Sport, fui para o Ceará, onde fiquei cinco anos, dedicados ao clube, aí teve a negociação com o Vitória.
Bahia Notícias: Em 2006, você seguiu para o Sport, sua primeira grande oportunidade. Porque não deu continuidade no clube, seguindo para o Ceará em seguida?
Michel: Eu cheguei ao Sport na Série B deste ano, porque disputei o Sergipano em 2006 e eleito um dos melhores volantes de novo. O Sport havia conquistado o estadual neste ano e eu cheguei na Série B na segunda rodada. O treinador era até Dorival Júnior, na época. O time já estava formado o ano todo, tinha uma base do estadual também. Cheguei na Série B e o time, de 38 rodadas, só ficou de fora duas do G4. O grupo estava formado, mas sempre entrava ou sentava no banco de reservas, por conta da longa duração do campeonato, contusão de jogadores. Em 2007, fui emprestado ao Ceará e tiveram algumas mudanças lá. Chegou um treinador que queria os jogadores dele. Como tinha contrato de três anos no Sport, eles me emprestaram e fiquei cinco anos no Ceará.
Bahia Notícias: No Vovô, você é considerado um dos maiores ídolos da história recente do clube. Como começou esse amor todo da torcida alvinegra por você?
Michel: Fiquei cinco anos dedicados no clube. Quando eu cheguei em 2007, para você ver, joguei, machuquei. No começo sempre é complicado se adaptar ao clube. Quando eu cheguei aqui no Vitória, falei que a adaptação não vem logo. Tem que conhecer o clube, a filosofia de trabalho do treinador, a cidade, enfim, todos os aspectos. E no Ceará foi a mesma coisa. Passei o ano de 2007 entrando, no banco, jogando. Foi em 2008 que me firmei mesmo. Tinha um treinador lá, o Dimas Fonseca, que tem mais de quarenta anos de clube e conhece tudo na palma da mão, sempre conversava comigo, me dando apoio, mandando eu não baixar a cabeça, porque a oportunidade viria. Quando ele assumiu, me colocou como primeiro volante de marcação e foi aí que me firmei mesmo como titular. Joguei direto em 2008 e desde quando ele entrou e assumiu não sair mais. E o torcedor, por gostar do meu estilo de jogo, de não desistir nunca, a dedicação nos treinos. Sempre me dediquei nisso. Os jogadores brincavam comigo, porque no dia seguinte a um jogo era regenerativo, e todos sempre davam aqueles dez minutos de trote, mas eu sempre abria a passada. E não é diferente até hoje. Eu treino para ficar bem e não para meu companheiro, porque tenho que ajudar meu companheiro quando ele precisar. Essa dedicação, a raça e a vontade me tornou para o torcedor o Michel Guerreiro. Fico feliz pelo apelido e a raça que tenho dentro de campo. As pessoas me falam que não dou um sorriso dentro de campo, mas no meu serviço dentro de campo é difícil. Quando eu entro em campo é só para vencer. Só foco neste momento. Durante os noventa minutos é ajudar o torcedor, o companheiro, me dedicar ao máximo, depois do apito final, claro, abrimos um sorriso e brincamos, mas na hora de trabalho é trabalho.
Bahia Notícias: Depois de cinco anos com a camisa cearense, você resolveu mudar de ares. Era o momento mesmo?
Michel: É difícil um jogador no Brasil ficar cinco anos no clube. Eu como volante, com quase trezentos jogos com a camisa do Ceará, cinco anos no clube, é meio complicado. Foram cinco anos de dedicação. Aí você tem essa mudança e vem para o Vitória. Muda de cidade, ambienta, estrutura totalmente diferente. Então, a gente vem e tenta se adaptar o mais rápido possível. Infelizmente o time caiu para a Série B no ano passado e aí teve uma reformulação lá. Tanto que estava o Geraldo, que passou aqui, Fabrício, zagueiro, eu, e outros jogadores, que formavam uma base de três ou quatro anos juntos. Aí teve essa oportunidade da gente sair e o Ceará reestruturar a equipe. Teve esse convite do Vitória, que entrou na negociação. Cheguei aqui com o mesmo pensamento de ajudar o grupo, a torcida e a diretoria. Estou buscando meu espaço devagar. Aqui tem excelentes jogadores na minha posição. Sempre joguei contra Uelliton, Neto Coruja, então, meu pensamento é esse. Tenho dois anos de contrato para me dedicar aos treinos, como sempre fiz, nos jogos, ajudando a equipe para fazer minha história aqui também.
Bahia Notícias: E como foi a negociação? Quando surgiu o nome do Vitória, o que pensou?
Michel: Não pensei tanto. O Vitória é um clube grande, com uma excelente torcida, de massa, e independente de jogar Série A ou B, o jogador tem que estar feliz. Se eu estivesse aqui infeliz, não viria para cá. O jogador tem que atuar no clube feliz. Quando você entra para treinar tem que estar feliz. Não adianta entrar triste, com problemas familiares, pois essa parte temos que deixar de fora. Quando teve o convite eu falei que aceitaria, pois seria mais um desafio para mim. Quero conquistar meu espaço no Vitória e no Ceará sei que deixei uma grande história lá, feliz, de várias vitórias, e derrotas também, mas de alegrias. Cheguei ao Vitória para fazer história. Passaram tantos jogadores de nome aqui e meu pensamento é focar nesses próximos dois anos e fazer um belo trabalho aqui, além de ser reconhecido. Aqui tem Uelliton, Neto Coruja, Neto Baiano e Vanderson, que passou pelo clube. Joguei contra ele. Era o Pitbull o apelido dele aqui. Quero fazer minha história aqui também, não comparando com a do Vanderson, que é um excelente jogador. Nós respeitamos a história de todos esses. O jogador tem que fazer a história dele e para isso tem que trabalhar diariamente, focando nos objetivos e ajudar a equipe.
Bahia Notícias: Você começou a temporada abaixo do esperado e até ficou no banco de reservas em alguns jogos. Mas agora é titular absoluto. O que foi mais difícil nessa adaptação ao novo clube, campeonato e torcida?
Michel: Como você bem citou. Tenho trinta anos e já sou um cara experiente. Tem diferenças do Baiano para o Cearense, mas é tudo disputado da mesma forma. No começo eu cheguei e não estava na minha melhor forma física e eu não estou ainda. Eu me conheço. Sou um cara que me cobro muito, pois sei do meu potencial. No começo foi difícil essa adaptação. Quando você chega em um clube novo, para se adaptar, brincar com o professor e os meninos aqui, então demoramos um pouco. No começo também nosso time estava tropeçando e devido as mudanças dificultou. Mudou muito a equipe e houve muitas experiências. Foi difícil repetir uma escalação, devido a contusão, suspensão e professor querer trocar para dar ritmo a todo mundo. Hoje em dia isso é complicado. Vamos citar o Santos. Todo mundo no time já se conhece e sabe como o outro joga. Para você adquirir ritmo de jogo tem que estar em campo. Para você conhecer o companheiro, tem que jogar sempre com ele. Eu e Uelliton já jogamos bastante juntos. Já conheço Uelliton e ele me conhece. Conheço o Pedro Ken, que conhece o Geovanni, então já tem uma forma de jogar. Já conhecemos como o jogador gosta de receber o passe. Se é um Rildo ou Marquinhos, eles gostam de receber na frente, pois são atletas de velocidade. Então, devido a essas mudanças, nossa equipe não encaixou no primeiro turno. No segundo, tivemos uns tropeços, mas sabíamos que o objetivo era ser campeão e estaríamos na final. Aconteceu de empatarmos os jogos da final, mas faz parte do futebol. No começo foi complicado. Demorou um pouco para entrarmos no ritmo. Agora acho que todos se conhecem. Na Série B temos que jogar desta maneira.
Bahia Notícias: Você falou em mudança de treinador e jogadores. Como você encarou a mudança de Cerezo para Ricardo Silva na época?
Michel: Fora de campo não teve muita, pois continuamos brincando um com o outro todos os dias, na concentração. Já dentro de campo teve mudança. Pedro Ken está jogando mais na frente com Geovanni. Neto Baiano já tem Tartá como companheiro. Eu e Uelliton estamos mais fixos, mais presos, recuado mais na marcação. Antigamente, com Cerezo, chegávamos muito ao ataque e o volante do lado contrário entrava na área para fazer gol, tanto é que eu fiz gol, Uelliton também. Ali atrás ficávamos meio expostos. Na minha visão, a mudança ficou com a parte dos volantes, que passaram a marcar mais os meias. Antigamente o volante pegava o volante. Nós tínhamos que sair para dar o combate ao volante. Hoje em dia se jogar um meia nas minhas costas e se não marcar, destrói totalmente a defesa. Hoje em dia, o futebol se constrói no meio de campo. Se você ganha o meio de campo, provavelmente vai ganhar o jogo. Agora, se perder o meio de campo, a zaga fica exposta, tomando contra-ataque.
Bahia Notícias: Até 2009 o Vitória tinha Vanderson, chamado de Pitbull pela torcida e você tem praticamente as mesmas características dele. Está surgindo um novo Pitbull ou "Michel Guerreiro" está bom?
Michel: Tinha o Vanderson Pitbull em 2010, mas quero fazer minha história no Vitória. Quero me esforçar ao máximo nos treinamentos e jogos para ajudar o clube. Se tiver outro apelido, seja qual for, vou ficar feliz, porque sei que vai ser escolhido de coração. Não adianta escolhermos. Se eu fizer meu papel bem feito aqui no Vitória e for reconhecido, o torcedor vai ver. Não ligo para apelido, pois esse é o carinho do torcedor que se identifica com o jogador. Acho que o meu caso não é diferente e bem parecido com o do Vanderson, que sempre lutou, marcou e nunca desistiu. Se tiver outro apelido, para mim tanto faz, pois vou ficar feliz do mesmo jeito.
Bahia Notícias: O que achou dos clássicos contra o Bahia. Diferente do Fortaleza e Ceará?
Michel: Vou te falar, viu? Ba x Vi... Passei cinco anos no Ceará e disputei vários clássicos com o Fortaleza. A emoção é grande e aqui não é diferente, mas Bahia e Vitória tem uma tradição enorme. O jogador brinca que esses são os jogos bons de estar em campo, porque as duas equipes buscam o gol e você consegue jogar. Difícil é jogar com time considerado pequeno. Você jogar contra Juazeirense, Icasa e outros de menor expressão é complicado. Eles jogam como se fosse uma final, dando um gás os noventa minutos, porque eles querem ganhar da gente e mostrar que podem estar em um clube grande. Não é tão simples vencer uma equipe do interior. É televisão, todo mundo vai ver, jogar contra Vitória ou Bahia, então eles marcam mesmo e dão a vida. Clássico é decidido em detalhes. As equipes deixam jogar, todo mundo quer ganhar, tem muitos contra-ataques. É mais gostoso jogar um clássico.
Bahia Notícias: O principal objetivo do Vitória é subir para a primeira divisão. Mas o grande sonho da torcida é conquistar a Copa do Brasil, que bateu na trave em 2010. O grupo está focado nisso?
Michel: O foco, sem dúvida nenhuma, era ser campeão baiano, mas não conseguimos e é passado já. Estamos em uma competição como a Copa do Brasil que todos gostam de jogar e essas partidas de quartas de finais, com televisão transmitindo, são sempre boas. A Série B não podemos deixar de lado, porque o objetivo do grupo é subir para a primeira divisão, que é o mais importante. A Copa do Brasil é um tiro curto. A Série B podemos mesclar, mas não deixando de lado, porque se isso acontecer, para correr atrás depois é difícil. Nós temos que focar nas duas competições. Agora é o Coritiba, que é uma fase de quartas de finais. É um torneio curto. Temos que ir em busca dessa competição, porque, vencendo ela, vamos jogar uma Libertadores. Temos também que começar bem a Série B para comemorarmos no final do ano o acesso. O Vitória não pode estar na Série B. Não existe isso.
Bahia Notícias: Essa perda do título estadual pode significar alguma coisa para o restante da temporada?
Michel: Ninguém gosta de perder um título, mas a equipe jogou bem, lutou até o fim, fez três gols, tomou três também. O importante é que a equipe saiu de campo com a cabeça erguida. Dentro do vestiário estava todos apoiando um ao outro, incentivando a galera. Não fomos dominados pelo Bahia. Jogamos muito bem e isso é um detalhe do futebol. Infelizmente não conseguimos fazer uma melhor campanha no primeiro turno e eles tiveram uma vantagem. Claro que para dormir depois de uma derrota dessas é complicado. No dia seguinte ficamos lembrando a final, mas o futebol é dinâmico e não vai parar. O bom do futebol é que na quarta-feira tem como reverter isso. O mundo da bola fica girando.
Bahia Notícias: Você tem 30 anos e é jovem ainda, mas já pensa em fazer uma história aqui no Vitória e encerrar a carreira com a camisa rubro-negra?
Michel: Estou com trinta anos e já penso nisso, mas não quero parar agora não (risos). Sou um cara que me dedico e me cuido bastante. Já não sou mais um menino. Tem momentos aqui que a gente cadencia. Hoje em dia a meninada sente um pouquinho, acha que dá para continuar, e aí que arrebenta de vez. Hoje em dia o principal é você se cuidar fora de campo. Jogador que se cuida fora de campo, a carreira dele se estende por muito tempo. Estou com 30, mas quero jogar até uns 38. Eu convivi muito com uma pessoa que é um pai, um irmão, um cara super gente boa, que é o Geraldo, que tem 38 anos e não foge de treino. Ele é o primeiro a chegar e o último a sair. Na época do Ceará tinha preparador físico que pedia para ele sair de campo, tirava ele dos treinos. Claro que com 38 anos você não é mais a mesma coisa, mas não é de fugir do pau. Ele sempre treinou forte e se cuida. Me espelho nele. Quero fazer minha história aqui. Quem sabe cinco, oito anos? Hoje não sou casado, mas quem sabe se daqui a oito anos não estou casado, com filhos. Vou contar a eles que joguei no Ceará, no Vitória e teve uma história linda nos dois clubes.
Bahia Notícias: O que a torcida do Vitória pode esperar da equipe nestas duas últimas competições que restam nesta temporada?
Michel: A torcida pode esperar que estamos trabalhando focados. Não desanimamos por conta da perda do título. Vamos lutar e fazer do Barradão um caldeirão. Temos que vencer todas no Barradão com o apoio do torcedor, lutando até o fim. O grupo está focado e tem jogadores experientes. Podem ter certeza que o grupo estará focado para vencer as duas competições. O Vitória entra para vencer sempre. Espero que a gente corresponda dentro de campo para trazer o torcedor para o Barradão.