25 de maio de 2014

Goleiro Douglas: "Estou treinando normalmente. Se aparecer oportunidade, eu vou."

Os ponteiros do relógio se movem no ritmo da incerteza para o goleiro Douglas. Cada minuto é um golpe na consciência e vem acompanhado pela sensação de que a despedida da Toca do Leão se aproxima em ritmo acelerado. Cada hora aumenta o sentimento de ostracismo, natural a quem apenas treina desde o início da temporada, sem ser relacionado para as partidas. Cada dia a mais é um a menos para o atleta dentro do Vitória. Com contrato até o fim do ano, ele sabe que provavelmente não ficará no clube. Apenas aguarda pelo ponto final no Rubro-Negro, em um tic-tac continuo e angustiante.

O tempo de Douglas no Vitória teve início em 2011. Contratado junto ao Fortaleza, clube pelo qual foi revelado, ele chegou à Toca do Leão para suprir a ausência de Lee, jovem atleta formado nas categorias de base do Rubro-Negro que tinha seguido para o Atlético-MG. Reserva de Viáfara, Douglas herdou a vaga do colombiano após o Campeonato Baiano e atuou como titular na Série B do Campeonato Brasileiro daquele ano.

Três anos depois, o tempo de Douglas no Vitória parece estar perto do fim. Na temporada passada, o goleiro foi emprestado ao Boa Esporte. Voltou em janeiro deste ano para a Toca do Leão com a esperança de ao menos ficar como opção no banco de reserva. Mas, após cinco meses, segue ‘esquecido’ dentro do centro de treinamento rubro-negro.

- Fico meio chateado de estar no grupo, trabalhar junto e não ir para jogo. Não me sinto muito bem. Estou treinando normalmente. Não tenho mágoas nem raiva de ninguém aqui no Vitória. Os caras me chamaram para conversar. Não tenho nada para falar do Vitória. Acho que talvez esteja acontecendo isso por não me quererem mais no clube. Acho que não fico no Vitória – ponderou o goleiro, em conversa exclusiva com o GloboEsporte.com.

De saída?
Douglas é bastante cético com relação a uma possível continuidade no Vitória. O goleiro não acredita que terá o contrato renovado e espera uma posição da diretoria rubro-negra ou propostas de outros clubes para traçar o futuro o quanto antes. Cansado de apenas treinar, ele é bastante claro: quer voltar a se sentir útil, nem que para tanto tenha que rescindir amigavelmente o contrato para seguir outros rumos.

- Estou só treinando, aguardando uma proposta para sair. Estou treinando normalmente. Só não estou indo para jogo. Se aparecer oportunidade, eu vou. Minha prioridade é jogar ainda neste ano. Quando voltei do empréstimo do Boa, não achei que iria reconquistar a vaga de titular. O Wilson vinha muito bem. Fez uma grande temporada em 2013. Achei que talvez seria utilizado no banco. Mesmo tendo o Gustavo. Poderia ter sido utilizado. Mas não aconteceu - comentou.

O goleiro avalia que virou uma peça figurativa dentro da Toca do Leão. Para Douglas, ele já não está nos planos do Vitória. Prova disso é que a diretoria iniciou tratativas para deixá-lo livre do contrato, mas as conversas não evoluíram.

- Já conversaram comigo. Me chamaram para fazer acordo, para me dar liberação. Mas não foi em frente. Estou treinando para uma hora que precisarem de mim, eu possa estar pronto para o jogo. Mas acho que eles já nem estão contando mais comigo. Aceito sair do clube. Só não abriria mão do que tenho direito – declarou Douglas, com a voz em tom de pesar.

Falhas no BAVI e revezamento
Em uma viagem no tempo, Douglas relembra exatamente quando caiu em descrédito na Toca do Leão. O Ba-Vi da final do Campeonato Baiano de 2012 é, na opinião do goleiro, o início de todos os problemas enfrentados no Vitória. Na ocasião, Douglas sofreu três gols e o título acabou nas mãos do Bahia. A torcida não perdoou o ex-camisa 1, que é acusado de ter falhado nos gols do Tricolor.

- Acho que meus problemas no Vitória começaram no jogo com o Bahia, na final do Campeonato Baiano de 2012. Disseram que falhei nos gols do Bahia. Só aquele jogo mesmo. Não teve outro. Continuei jogando depois. Fui titular na Copa do Brasil, fui bem. Atuei na Série B do Brasileiro, e decidiram me tirar. Só acho que foi aquele jogo. Aquele lance da falta do Gabriel. Foi por esse lance. Apenas um lance - lembra o goleiro, como se quisesse voltar ao passado.

Douglas não foge da responsabilidade pelo resultado do Ba-Vi de 2012, mas recorda que alguns fatores o prejudicaram até chegar ao clássico. Meses antes, a comissão técnica do Vitória havia iniciado um rodízio de goleiros, entre o próprio Douglas e Renan, que tinha sido contratado por empréstimo junto ao Corinthians. A cada partida, um camisa 1 diferente. Para Douglas, o esquema foi prejudicial e cobrou um alto preço na final do estadual.

- Falam do meu desempenho no Ba-Vi, mas ninguém lembra que houve revezamento de goleiros antes do clássico. Isso me prejudicou. Não sabia quem ia jogar. Jogava hoje, amanhã não jogava mais - conta Douglas.

O goleiro relata que nunca havia vivenciado situação parecida com a do rodízio de goleiros do Rubro-Negro. Nem mesmo nas categorias de base do Fortaleza.

- Foi a primeira vez que vi aquilo. Nem na base tinha passado por isso. Tinha acabado de renovar o contrato. Terminado o ano como titular. Quando voltei para a pré-temporada, começou o revezamento. Falava com o Renan. A gente conversava, e eu falava que isso não existia. Que nunca tinha visto isso. Mas os caras que mandavam, e a gente não podia fazer nada - recorda.

Como não pode alterar o passado, Douglas mira o futuro. O goleiro espera por uma proposta para deixar a Toca do Leão. Algumas sondagens já foram feitas, mas, até o momento, não evoluíram para propostas.

- Estou esperando algumas respostas. Fizeram sondagens. Clubes do Brasil e de fora. Mas nada de concreto. Depende dos clubes. Do Vitória, só espero a minha liberação. O Vitória mudou minha vida. Está me ajudando muito. Mas infelizmente não posso concluir a minha história aqui. Ir para algum canto talvez seja o melhor. Estou esperando algumas respostas. Posso ficar até o fim do ano. Deus é quem sabe - diz o goleiro, na esperança de que dar tempo ao tempo não resulte em tempo perdido. (Thiago Pereira / GloboEsporte)

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