Dividir a vida em ciclos de sete anos é uma tradição que remonta à antiguidade. Os chamados setênios foram e são utilizados por diversas culturas. Ritos que ganham coro na religião e na ciência. Uma vertente da medicina diz que a cada sete anos os órgãos internos têm as suas células trocadas. Seria como dizer que a pessoa se renova neste período. Renovação que, no caso do volante Luís Alberto, não se limitou ao aspecto orgânico. No mesmo período do ciclo, o jogador passou também por uma grande alteração na carreira.
Foram sete anos e a mudança de uma vida. Do menino da Boca do Rio ao pai de família conhecido na Europa. Da promessa das divisões de base do Bahia ao jogador realizado e esperança da torcida do Vitória. Cria do Tricolor, ele deixou o Fazendão aos 23 anos. Rodou pela Europa e agora, aos 29 anos, retorna para defender o Rubro-Negro. Volta à cidade natal com um novo comportamento, que pode ser explicado por um dos ciclos criados por Osho – indiano fundador de um movimento espiritual. Segundo ele, dos 28 aos 35 anos, a pessoa passa pelo período mais alegre, pacífico e harmonioso da vida.
Até chegar a este momento, Luís Alberto passou por diversas experiências no futebol. No Bahia, quando subiu para o time profissional, logo foi taxado de violento e irresponsável. Isso por causa das repetidas expulsões com a camisa tricolor.
- Eu sempre jogava bem, mas ficava marcado pelas expulsões. Acho que isso acontecia pela imaturidade, pela vontade de vencer. Acabou que a torcida me rotulou como um jogador violento, o que eu não sou – lamentou o atleta, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.
Após deixar o Bahia, Luís Alberto defendeu o São Caetano e o Cruzeiro. Nos últimos anos, esteve na Europa. Para ele, as passagens pelo Nacional e Braga, de Portugal, e Cluj, da Romênia, lhe deram a experiência necessária no futebol. Além do que viveu em terras estrangeiras, o volante citou também o ingresso na Igreja Planeta de Cristo como determinante para a nova fase de sua vida.
A religião tem sido tão importante na carreira do jogador do Vitória que a ida à igreja se tornou o principal programa, ao lado da esposa e do filho de quatro anos.
- Vou na igreja umas quatro ou cinco vezes por semana. Além da igreja, vou também no cinema, no shopping, no parque de diversões... Eu sou muito família. A gente só se desgruda mesmo na hora dos treinos e da concentração – comentou.
Aventuras dentro e fora de campo
No tempo em que viveu fora do Brasil, Luís Alberto colecionou situações embaraçosas e hilárias. Uma delas aconteceu dentro de campo quando já defendia o Cluj.
- Teve uma situação com um volante da gente. Tinha um cara vindo roubar a bola dele e eu comecei a gritar: “Ladrão, ladrão, ladrão!”. Na hora eu esqueci que tinha que falar romeno. Ele perdeu a bola e a gente tomou o gol. Quando eu cheguei no vestiário, eu já chateado, fui falar com ele: “Rapaz, você não ouviu, não?! Esse cara é surdo”. Aí chegou Cadu, nosso capitão, que traduz, e me acalmou: “Luís, você está falando 'ladrão' e ele não entende”. Aí depois a gente se acabou de dar risada – conta aos risos o jogador.
A língua foi apenas um dos entraves vividos por Luís Alberto no solo europeu. Em relação ao futebol, uma das principais alterações foi com a concentração. A prática também existe na Romênia, mas de maneira bem diferente da que ele estava acostumado no Brasil.
- Lá é mais relax a concentração. Lá você treina de manhã e concentra à tarde. Durante a tarde você tem passeio, vai para o shopping, vai fazer compras. A concentração é passar três horas andando no shopping. Eu falava: “Vem cá, rapaz, a gente não vai ter jogo não, é?” Ficava todo mundo com saco de compras. Eram três horas andando no shopping, impressionante. Eu podia estar dormindo em meu quarto – lembra.
Enquanto se virava com a língua local e tentava se acostumar aos métodos romenos, Luís Alberto lutava para tentar manter a proximidade com o Brasil. A presença da esposa e do ex-companheiro de Bahia, Rafael Bastos, eram os alentos para o atleta. Além disso, ele utilizava a comida para relembrar a terra natal.
Desde que viajou para Portugal, o baiano passou a levar alimentos congelados. O feijão, a farinha e o azeite de dendê eram constantes nas bagagens de volta para a Europa. Mas um determinado ingrediente não passou pela rigorosa fiscalização da polícia internacional.
- Desde que eu fui para Portugal que levávamos feijão, farinha, dendê, essas coisas. Só tive problema para levar o camarão seco, que barraram. Eu falei: "Os caras passam com droga e tudo aí e ninguém fala nada, mas meu camarão não pode?" – brinca o jogador do Vitória.
Até mesmo na hora de voltar para o Brasil, Luís Alberto sofreu com a falta de adaptação à Romênia. Nas últimas horas em solo europeu não foi o frio que atrapalhou, mas a língua.
- Na hora de vir embora, a senhora que foi ajudar a arrumar as malas não entendia inglês. Ela falava romeno e eu falava o básico. Quando ela falava alguma coisa que eu não entendia a gente dava risada. E a gente ficava só nos gestos. Foi hilário. Teve uma mala que era só roupa e ela queria colocar outra coisa. Eu tinha que falar com ela que era só roupa e ela não entendia. Como explica? Foi muito engraçado – diz imitando os gestos que fez durante a arrumação da mala.
Feito histórico e nada de saudade
Mas a passagem de Luís Alberto na Romênia não ficou marcada somente pelos "causos". Dentro de campo, ele foi o autor de um dos gols mais importantes da história do Cluj. Na fase de grupos da Liga dos Campeões, o volante marcou um golaço da intermediária contra o Manchester United dentro de Old Trafford.
O Cluj não conseguiu a classificação para as oitavas-de-final, mas a partida não será esquecida tão cedo pelo jogador. Tanto é que a bola do jogo está guardada com ele até hoje. Atualmente divide a atenção do filho com uma pipa devidamente caracterizada com o escudo do Vitória.
- Fiquei marcado pela forma como foi. Vencer o Manchester em Old Trafford, pela forma como foi. Vão passar 100 anos e outro clube romeno não vai conseguir fazer o mesmo. E o Manchester só perdeu duas vezes em casa na Liga dos Campeões. Uma contra o Real e a outra contra a gente – falava o jogador antes de ser interrompido pelo filho Ícaro, de quatro anos:
- Agora meu pai vai fazer com uma bola do Vitória!
Apesar da história feita com a camisa do clube romeno, a família do jogador não guarda nem um pouco de saudade. A reação do filho do jogador ao ouvir o pai ser questionado sobre um possível retorno foi instantânea:
- Não, não, não... - disse o garoto de quatro anos.
O desejo de retornar para o antigo clube não existe, mas a passagem pela Romênia não será apagada. Ela faz parte de um dos ciclos de sete anos da vida de Luís Alberto, que agora comemora o fato de viver naquele mais harmonioso para iniciar a trajetória no Vitória.
- A mudança é o ponto de equilíbrio. O fruto não presta nem verde demais nem maduro demais. Hoje eu consigo fazer esse equilíbrio entre a experiência e a parte física. Estou no ponto de equilíbrio certo, com minha vida fora de campo estabilizada, com a minha família estabilizada, com minha religião bem resolvida - finalizou. (Raphael Carneiro / GloboEsporte)
Até chegar a este momento, Luís Alberto passou por diversas experiências no futebol. No Bahia, quando subiu para o time profissional, logo foi taxado de violento e irresponsável. Isso por causa das repetidas expulsões com a camisa tricolor.
- Eu sempre jogava bem, mas ficava marcado pelas expulsões. Acho que isso acontecia pela imaturidade, pela vontade de vencer. Acabou que a torcida me rotulou como um jogador violento, o que eu não sou – lamentou o atleta, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.
Após deixar o Bahia, Luís Alberto defendeu o São Caetano e o Cruzeiro. Nos últimos anos, esteve na Europa. Para ele, as passagens pelo Nacional e Braga, de Portugal, e Cluj, da Romênia, lhe deram a experiência necessária no futebol. Além do que viveu em terras estrangeiras, o volante citou também o ingresso na Igreja Planeta de Cristo como determinante para a nova fase de sua vida.
A religião tem sido tão importante na carreira do jogador do Vitória que a ida à igreja se tornou o principal programa, ao lado da esposa e do filho de quatro anos.
- Vou na igreja umas quatro ou cinco vezes por semana. Além da igreja, vou também no cinema, no shopping, no parque de diversões... Eu sou muito família. A gente só se desgruda mesmo na hora dos treinos e da concentração – comentou.
Aventuras dentro e fora de campo
No tempo em que viveu fora do Brasil, Luís Alberto colecionou situações embaraçosas e hilárias. Uma delas aconteceu dentro de campo quando já defendia o Cluj.
- Teve uma situação com um volante da gente. Tinha um cara vindo roubar a bola dele e eu comecei a gritar: “Ladrão, ladrão, ladrão!”. Na hora eu esqueci que tinha que falar romeno. Ele perdeu a bola e a gente tomou o gol. Quando eu cheguei no vestiário, eu já chateado, fui falar com ele: “Rapaz, você não ouviu, não?! Esse cara é surdo”. Aí chegou Cadu, nosso capitão, que traduz, e me acalmou: “Luís, você está falando 'ladrão' e ele não entende”. Aí depois a gente se acabou de dar risada – conta aos risos o jogador.
A língua foi apenas um dos entraves vividos por Luís Alberto no solo europeu. Em relação ao futebol, uma das principais alterações foi com a concentração. A prática também existe na Romênia, mas de maneira bem diferente da que ele estava acostumado no Brasil.
- Lá é mais relax a concentração. Lá você treina de manhã e concentra à tarde. Durante a tarde você tem passeio, vai para o shopping, vai fazer compras. A concentração é passar três horas andando no shopping. Eu falava: “Vem cá, rapaz, a gente não vai ter jogo não, é?” Ficava todo mundo com saco de compras. Eram três horas andando no shopping, impressionante. Eu podia estar dormindo em meu quarto – lembra.
Enquanto se virava com a língua local e tentava se acostumar aos métodos romenos, Luís Alberto lutava para tentar manter a proximidade com o Brasil. A presença da esposa e do ex-companheiro de Bahia, Rafael Bastos, eram os alentos para o atleta. Além disso, ele utilizava a comida para relembrar a terra natal.
Desde que viajou para Portugal, o baiano passou a levar alimentos congelados. O feijão, a farinha e o azeite de dendê eram constantes nas bagagens de volta para a Europa. Mas um determinado ingrediente não passou pela rigorosa fiscalização da polícia internacional.
- Desde que eu fui para Portugal que levávamos feijão, farinha, dendê, essas coisas. Só tive problema para levar o camarão seco, que barraram. Eu falei: "Os caras passam com droga e tudo aí e ninguém fala nada, mas meu camarão não pode?" – brinca o jogador do Vitória.
Até mesmo na hora de voltar para o Brasil, Luís Alberto sofreu com a falta de adaptação à Romênia. Nas últimas horas em solo europeu não foi o frio que atrapalhou, mas a língua.
- Na hora de vir embora, a senhora que foi ajudar a arrumar as malas não entendia inglês. Ela falava romeno e eu falava o básico. Quando ela falava alguma coisa que eu não entendia a gente dava risada. E a gente ficava só nos gestos. Foi hilário. Teve uma mala que era só roupa e ela queria colocar outra coisa. Eu tinha que falar com ela que era só roupa e ela não entendia. Como explica? Foi muito engraçado – diz imitando os gestos que fez durante a arrumação da mala.
Feito histórico e nada de saudade
Mas a passagem de Luís Alberto na Romênia não ficou marcada somente pelos "causos". Dentro de campo, ele foi o autor de um dos gols mais importantes da história do Cluj. Na fase de grupos da Liga dos Campeões, o volante marcou um golaço da intermediária contra o Manchester United dentro de Old Trafford.
O Cluj não conseguiu a classificação para as oitavas-de-final, mas a partida não será esquecida tão cedo pelo jogador. Tanto é que a bola do jogo está guardada com ele até hoje. Atualmente divide a atenção do filho com uma pipa devidamente caracterizada com o escudo do Vitória.
- Fiquei marcado pela forma como foi. Vencer o Manchester em Old Trafford, pela forma como foi. Vão passar 100 anos e outro clube romeno não vai conseguir fazer o mesmo. E o Manchester só perdeu duas vezes em casa na Liga dos Campeões. Uma contra o Real e a outra contra a gente – falava o jogador antes de ser interrompido pelo filho Ícaro, de quatro anos:
- Agora meu pai vai fazer com uma bola do Vitória!
Apesar da história feita com a camisa do clube romeno, a família do jogador não guarda nem um pouco de saudade. A reação do filho do jogador ao ouvir o pai ser questionado sobre um possível retorno foi instantânea:
- Não, não, não... - disse o garoto de quatro anos.
O desejo de retornar para o antigo clube não existe, mas a passagem pela Romênia não será apagada. Ela faz parte de um dos ciclos de sete anos da vida de Luís Alberto, que agora comemora o fato de viver naquele mais harmonioso para iniciar a trajetória no Vitória.
- A mudança é o ponto de equilíbrio. O fruto não presta nem verde demais nem maduro demais. Hoje eu consigo fazer esse equilíbrio entre a experiência e a parte física. Estou no ponto de equilíbrio certo, com minha vida fora de campo estabilizada, com a minha família estabilizada, com minha religião bem resolvida - finalizou. (Raphael Carneiro / GloboEsporte)
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