28 de janeiro de 2012

A PAMONHA, O MIOJO E O MSMV. Por Jean Gerbase.

Quem é do interior conhece a cena: a família acorda às 5 da manhã pra preparar a refeição do dia. Juntos, caminham 1 quilômetro até a plantação, colhem o milho, carregam o milho, retiram a palha do milho, retiram o cabelo do milho, debulham o milho, ralam o milho, peneiram o milho, coam o milho, preparam a massa do milho, limpam a palha do milho, costuram a palha do milho em saquinhos, botam a massa do milho na palha, cozinham a massa do milho e…às 4 da tarde, sentam-se todos juntos para, finalmente, apreciar o rico alimento.

Noutro local, outra família. Cada membro, na hora em que melhor lhes convém, prepara o conhecido Miojo, que será cozido em 3 minutos e ingerido por todos, no conforto individual dos cômodos da casa.

Não dá pra negar que comer pamonha é muito mais do que apenas comer pamonha. Comer pamonha é compartilhar, socializar, colaborar, co-laborar, e também celebrar. É fazer parte de um PROCESSO. É entender a própria função dentro dele, compreender todas as suas etapas, aceitar o tempo de execução que cada uma delas requer; é refrear a ansiedade, educar a paciência, para que, ao final, o objetivo seja alcançado e o bem produzido seja desfrutado por todos, conjuntamente.

O MSMV, que veio ao mundo sob os auspício de uma nova era, repleta de (falsas) premissas de modernidade, tem procurado resistir, não sem muito esforço, à pressão dos imediatismos que a vida contemporânea impõe. Quantas vezes, por conta de uma notícia publicada há 1 minuto, somos brindados aqui com a célebre frase: “…e o MSMV, não vai fazer nada?…”. Te vira MSMV, pois, hoje em dia, ninguém tem tempo a perder. Além de eficazes, as soluções têm que ser imediatas, instantâneas,comoo macarrão em água fervente.

Pois agora, temos a oportunidade de nos associar ao Movimento. Então, nada mais “natural” do que colocarmos a Internet (e sua estonteante velocidade) a nosso serviço,comosolução pra nossa falta de tempo, segurança, engarrafamentos, etc. É muito fácil, prático, rápido e…cômodo. Um e-mail pra cá, um documento escaneado pra lá, uma transferência bancária online… Pronto. Sou Associado e, empunhando o meu teclado, estou apto a promover todas as revoluções que forem necessárias, certo?

Errado. Entedo que ser Associado está muito além de pagar anuidade, ser Associado é mais do que enviar e receber e-mails. Na minha modesta concepção, ser Associado do MSMV é também um PROCESSO, que envolve conhecer e se fazer conhecido aos demais integrantes, é interagir (que significa “agir mutuamente”), colaborar (que é “trabalhar junto”), saber qual o papel da Coordenação, conhecer as necessidades de cada Coordenadoria, participar da elaboração e da execução de projetos e ações, entender as etapas envolvidas e os caminhos percorridos, para que o objetivo final seja alcançado e as vitórias, celebradas em conjunto.

O fato é que creio piamente que todas as coisas tem um tempo, que é o tempo de cada uma das coisas. O tempo das coisas nascerem, crescerem, se desenvolverem e morrerem. Desta forma, para que formulários e documentos circulem pela Internet, primeiro ALGUÉM precisou pensar e criar os formulários e documentos (trabalho intelectual, braçal, gasto de tempo e dinheiro).Paradepositar numa conta-corrente em tempo real, é preciso que ALGUÉM tenha ido ao Banco, aberto uma conta e a tenha colocado disponível (trabalho intelectual, braçal, gasto de tempo e dinheiro). Assim, a rapidez mágica da Internet,comotoda mágica, não passa de um truque, uma falsa ilusão.

Infelizmente, senhores, essa miojização que ocorre hoje nos diversos aspectos de nossa vida, onde tudo “se resolve” de maneira prática e instantânea, é um perigoso estímulo contra a participação efetiva das pessoas nos espaços coletivos da sociedade. Isto porque, é bastante tênue o limite entre a comodidade da Internet e o comodismo que ela alimenta. Ao me tornar um Associado “virtual”, estou apenas “fazendo de conta” que quero revolucionar algo. Possuo agora o status, mas deixo para o outro a responsabilidade de carregar um piano que também é meu, de pagar as contas que também são minhas, de responder por ações e omissões para as quais também concorri.

Obviamente, quem se associa, toma a atitude que bem quiser, inclusive, pode tomar nenhuma atitude. Tudo lícito e legítimo. O que não posso concordar é com a acomodação e descompromisso, principalmente quando vejo (comovi) exemplos do quilate de Anderson Abreu, que, a par de sua dificuldade de locomoção, é paraplégico, fez questão de estar presente no Edifício Capemi para se filiar, sem falar de Marco Pontes, que veio diretamente do Arizona (EUA).

Logicamente não me refiro aqui aos casos excepcionais, em que pessoas de outras localidades se dispõem a colaborar (estes, merecem sim, um tratamento diferenciado). Falo dos que moram emSalvador, mas que nunca, jamais, em tempo algum, puderam, nem podem, comparecer a uma reunião, uma assembleia, um posto de inscrição, um evento qualquer, para preencher e assinar um simples formulário. Aliás, torna-se inevitável a seguinte pergunta: se a pessoa é tão comprometida com os seus afazeres durante 24 horas por dia, sete dias por semana,comopretende colaborar com o Movimento? Fazendo número? Cobrando ações e “contundências” por e-mail? Pagando 5 reais por mês?

Sinceramente, entendo que se não sairmos da zona de conforto em que nos encontramos hoje, muito em breve o MSMV será um “Movimento Estático” ou, pior, um Movimento Tamagotchi (bichinho de estimação virtual, febre no Japão e no Brasil há alguns anos, mas completamente esquecido hoje em dia). Ou seja, brinca-se um pouco com ele, aperta-se um botãozinho da alimentação, outro da panfletagem, depois enjoamos e aí… lá vai o Movimento, esquecido, dormitar para sempre no fundo de uma gaveta. Com a mesma rapidez e facilidade que nos associarmos, nos desligaremos sem deixar rastro, o que, aliás, já é prática corriqueira nas redes sociais. Conseguiremos, desta maneira, produzir a contento nossa pamonha, no futuro?

Por todo o exposto, submeto estas linhas aos Integrantes deste que não por acaso é um MOVIMENTO, isto é, pressuposto de deslocamento, mudança, alteração de estado, agitação, dinâmica, trans-for-ma-ção. Ao mesmo tempo, torço e lutarei para construirmos um Movimento forte com filiados participativos. Afinal, o associado é a razão de ser do Movimento.

Portanto, convido e convoco a todos a saírem de trás do teclado e comparecerem neste sábado, dia 28, no Edifício Capemi. Lá haverá plantão o dia todo, das 9h da manhã até às 18h. Então, é isso, amigos. Se os coordenadores podem dispor de todo o sábado para lhes atender, por que vocês não podem dispor de alguns minutos para ir lá no referido local, que é bem central, para fazer sua filiação?

Ah, sim. Estaremos todos os jogos no Barradas, na esquina da democracia, com nossas faixas. Apareçam. Vamos juntos levantar esta bandeira.

Há Braços e Saudações Rubro-Negras!

Por: Jean Gerbase (publicado no blog de Franciel Cruz)

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