26 de junho de 2010

Fragmentos de um discurso rancoroso (Brasil 0 x 0 Portugal)

Fragmentos de um discurso rancoroso
Por Franciel Cruz

Toda vez que alguém começa a resenha esportiva falando sobre signos, símbolos e outras mumunhas do gênero, escondo logo minha carteira, pois sei que ali na zona do agrião acaba de se apresentar um craque nas manhas do estelionato intelectual. Exatamente por isso, nunca dei pelota para os pseudos que tentam explicar os fenômenos da vida e do futebol (o que dá no mesmo) evocando, ainda que remotamente, simbologias e gestuais.

Putaquepariu o embromechion, chion, chion!!!

E, nestes tempos temerários de Copa do Mundo, esta raça de gente ruim grassa mais do que psicólogos no bairro de Palermo. Aliás, por falar nos discípulos de Freud, outro tipinho intragável é aquele que não consegue desenvolver uma idéia sequer do que acontece nas quatro linhas e nas casamatas sem fazer alusões ao psicologismo de botequim. E a verdade que salva e liberta é uma só: Quem recorre a estas muletas, é porque não saca nada do Ludopédio.

Putaquepariu o embromechion, chion, chion, volume dois!!!

Mas, vejam vocês que bicho traiçoeiro é a convicção. Basta um descuido e, vupt, ela escapa para o escanteio, sem remorso algum. E cá estou, após estes prolegômenos, para confessar que fui obrigado a me render a, digamos assim, tais ferramentas teóricas. No entanto, advirto, a causa é nobre. Sucumbi, é fato, mas foi apenas com intuito de entender a mais grave questão que aflige Pindorama hodiernamente. Qual seja: por que porra Dunga tem dado (lá ele) tantos e tamanhos chiliques?

Aliás, só agora, passados os noventinha regulamentares e as prorrogações, é possível endereçar ao referido anão aquela antológica e retórica indagação do filósofo Fábio Júnior. Às aspas: “O que é que há? O que é que está se passando com essa cabeça?”.

Eis aí um mistério que parecia mais insondável do que o terceiro segredo de Fátima. Realmente, era quase impossível perscrutar (recebam, incréus, um perscrutar nos mamilos) os descaminhos do raciocínio e das ações do referido cidadão pelos meios convencionais. Prova disso é que para tentar desvendá-los consultei o infalível lunário perpétuo e os não menos infalíveis búzios e runas. Fui aos almanaques, livros, tratados, tarôs, bulas de remédio, evangelhos, capas de Veja, ciganos, pais e mães de santo – e nada.

Mas eis que encontrei a verdade que salva e liberta na análise gestualística – seja lá que porra isto signifique. Assim, saquei do coldre tal conceituação para entender porque, mesmo nos momentos de glória, Dunga nunca está satisfeito. Sim, porque é humano, demasiadamente humano, que ele revide as pancadas que recebe. Porém, que não aceite nem elogios, não há explicação.

Ou melhor, há. E ela, a explicação, se encontra na tal gestualística. Ou vocês não repararam que no momento de maior glória, o gol, Dunga sempre dá um soco para baixo? É isso aí. Como bem definiu o menino Veríssimo no ano da graça de 1994, Carlos Caetano Bledorn Verri não consegue entender a vida sem dificuldades.

O homem nasceu para o confronto, vive sob a égide permanente do discurso rancoroso e não será a conquista (ou a perda) de mais uma taça que irá mudá-lo. Afinal, como já ensinei aqui: Pau que nasce torto vira berimbau.

P.S. 1 Já havia encerrado a transmissão quando uma senhora politizada e mais chiliquenta do que o técnico da canarinho adentra este Post Scriptum largando a seguinte: “Sêo Françuel, o senhor está a soldo da Rede Globo. Por que não disse uma palavra da luta quixotesca de Dunga contra a Vênus Platinada?”.

Este alienado locutor tem a dizer apenas o seguinte. Nesta chibança, dou um pelo outro e não quero troco.

P.S.2 E o futebolzinho da seleça igual ao meu salário, ó.

P.S. 3 As, sim. Sobre o Esporte Clube Vitória só falarei quando o time voltar a praticar, ao menos, algo parecido com Futebol.

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