24 de fevereiro de 2014

[BAVI] O ANO COMEÇOU? Por Franciel Cruz.

Uma das maiores culhudas (se vocês não sabem o que é culhuda, num posso fazer nada) sobre a Bahia é a de que o ano aqui só começa depois do Carnaval.

Tal afirmação, que a princípio pode ser vista apenas como uma blague, tem como objetivo reforçar o preconceito propagado pelas elites locais de que baiano (no caso, o negro) é preguiçoso. Aliás, com o forte êxodo dos nativos rumo ao Sul Maravilha em meados do século passado, a ignomínia se propagou pelo Brasil e foi aceita e reforçada como verdade, tendo o auxílio pernicioso do odiento racismo. Tal infâmia foi desmascarada há coisa de 15 anos pela antropóloga Elisete Zanlorenzi, em sua tese de doutorado, O Mito da Preguiça Baiana.

Portanto, repito: esta história de que o ano aqui só começa depois do Carnaval é culhuda. (Ah, minha comadre, se a senhora a esta altura ainda não foi pesquisar o significado de culhuda, paciência). Mas, a verdade é a seguinte. Qualquer pessoa que conheça minimamente esta província lambuzada de dendê e de exclusão sabe que o ano aqui só começa realmente após o primeiro Ba x VI, a Mãe de Todas as Batalhas.

Ah, entendi. Então, como neste domingo teve o clássico, finalmente estamos no ano novo na Bahia”, conclui o apressado leitor.

Há controvérsias, amigo de infortúnios – até porque aquele bolinha de gude sem vontade jogada pela dupla Ba x Vi não pode ser digna de ganhar o nome de clássico.

PUTAQUEPARIU A MARESIA!!!

Mas, chega de prolegômenos. Vamos às quatro linhas.

Antes de a bola rolar, além da expectativa do início oficial do ano no calendário baiano, havia outros atrativos para o clássico. Seria a primeira vez que o traíra, digo, o argentino Maxi Biancucchi, ídolo efêmero no Vitória de 2013, enfrentaria seu ex-clube, vestindo a camisa do rival. É fato que Uelliton também iria estrear no Bahia contra o Leão, mas o referido volante nunca foi muito benquisto na região do Parque Sócio Ambiental, Santuário Ecológico, Manoel Barradas, o Monumental Barraquistão.

Pois bem. Enquanto o tricolor apresentava estas armas, o Rubro-Negro recorria à sua divisão de base. Praticamente a metade do time era da escola campeã da primeira edição da Copa do Brasil sub-20. Destes, destaque para Mauri, um canhota habilidoso, que tem boa movimentação, mas é portador de um grave defeito que acomete os jovens hodiernamente: usa chuteira coloridas.

PUTAQUEPARIU A MÁSCARA!!!!

Diante deste quadro tenebroso, boa parte da torcida ficou desconfiada. Num estádio, Pituacisky, que cabem 32 mil e caqueirada, pouco mais de 19 mil pessoas se dispuseram a largar seus cuidados para prestigiar a peleja. É fato também que boa parte dos nativos já estão embriagados nas festas pré-momescas.

Por falar em embriaguez e carnaval, só decidi ir ao estádio porque sabia que Victor Ramos, titular da minha zaga no ano passado, tá no México e não entraria em campo ressaqueado, como era seu costume. Porém, Rodrigo Defendi, seu substituto, é mais distraído do que Victor Ramos bêbado e pensando nos peitos siliconados de Nicole Bahls ou no shortinho da Moça Gerasamba.

O problema de Rodrigo Defendi (sobrenome num é destino) não é nem ele ser ruim, até porque isso seria uma virtude para um zagueiro. A tragédia é que ele é muito mole, muito educado para uma pessoa que deve cuidar da zona do agrião como um matador de filme B. O desinfeliz é o contrário disso. Ele parece esses carinhas mudernos que usam óculos da moda, brinco colorido e trabalha em ONGs. Não ofende ninguém. Deuzulivre.

Aliás, parênteses. (Apesar de o sujeito não merecer, cabe mais umas duas linhas sobre o referido. Nem tudo nele é ruindade. Seu exemplo serve como prova cabal de que o futebol europeu e estas champions leagues da vida são torneios muito superestimados. Como assim? Assim, ó. Este rapaz esteve no Tottenham, Udinese & Roma, entre outros menos cotados como Vitória de Guimarães e Avelino. É fato que quando voltou da Europa foi direto para um time do mesmo nível de lá: o Palmeiras B).

Parênteses fechado, voltemos ao ludopédio.

E vamos direto à 31ª volta do ponteiro. Seguinte foi este. Depois de escorregar de modo bizarro, o zagueiro tricolor Titi (ex-internacional) encontrou forças para se levantar, tomar uma tabaca de Marquinhos, O GÊNIO FRANZINO, e deixar a zaga do Bahia mais aberta do que mala de mascate. No bate-rebate, Juan abriu o placar. Sobre o primeiro tempo, nada mais pode ser dito nem perguntado.

Na segunda etapa, o Vitória puxou o freio de mão mais ainda, se é que isso era possível, pois tem um compromisso de vida ou morte na próxima quinta-feira, no Ceará, valendo pela única copa que interessa neste ano da graça de 2014: a Copa do Nordeste. Assim, com um minuto de jogo, a bola ficou ciscando na área Rubro-Negra, e o zagueiro de número 4, que me recuso a citar o nome, praticamente fez um gol contra. Placar 1 x 1.

Depois disso, só cerveja Schin. Até a chuva foi enganadora. Fez que caía, mas também se guardou pra quando o Carnaval chegar.

Bom, agora resta esperar o próximo Ba x Vi no dia 23 de março para ver se o ano finalmente começa na Bahia.

Oremos.

Por: Franciel Cruz

Texto escrito especialmente para o brioso IMPEDIMENTO

P.S. 1 Este foi o primeiro clássico depois que a egrégia Assembleia Legislativa aprovou a liberação de bebidas no Estádio. Para tristeza dos apocalípticos de plantão, num rolou nem uma dedada ou mesmo um mísero beliscão.

P.S. 2 Um dado que mostra a genialidade do regulamento baiano é o seguinte. O Galícia terminou a primeira fase, dos jogos de ida, invicto e com 8 pontos, mas ficaria fora das semifinais, enquanto o Bahia lidera o seu grupo com 5 e estaria garantido na fase seguinte. Chupa, pontos corridos!

P.S.3 Como desgraça pouca é bobagem, ainda tinha um abençoado ao meu lado (que atende pela alcunha de Robertinho), que ficava toda hora pedindo para Ney Franco colocar Alan Pinheiro. É graça uma porra desta?

P.S 4 Por fim, resta-me recorrer ao brioso Padre Antônio Vieira. Desculpe-me pela prolixidade, mas, por conta da correria, não tive tempo para ser breve neste meu retorno a esta impoluta tribuna.

3 comentários:

  1. Franciel Cruz... Você é uma figuraça! Me lembra muito um amigo que eu tinha no tempo de escola. Primeiro no Euricles de Matos, depois no Manoel Devoto ambos no bairro do Rio Vermelho. O cidadão nos fazia rir o tempo todo, éramos bons amigos, só que perdi o contato dele, sei que morava no Nordeste de Amaralina, perto do Vale das Pedrinhas. Ainda tin ha Café (um surfista meia boca), Jorge ( dono do time de várzea do Nordeste), Muricy (depois virou segurança do Chiclete com Banana) e por aí vai. De qualquer forma, é muito hilário ler seus textos. Abraços.

    Ari Jones

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